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Delito de Opinião

Presidenciais (2)

Pedro Correia, 15.12.15

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O Presidente da República como impulsionador de consensos? Esqueçam isso.

O inquilino de Belém a funcionar como traço de união entre os portugueses? Nem pensar.

Ponham os olhos em Paulo Morais. Insuflado pelos ventos dominantes, o ex-vice-presidente da Câmara Municipal do Porto corre para a suprema magistratura da nação com o firme propósito de punir os maus costumes na política portuguesa. Basta a palavra corrupção para lhe servir de santo e senha.

"Em Portugal a corrupção domina a política", afirmou o candidato presidencial, na passada sexta-feira, em entrevista a Judite Sousa na TVI 24. Como o Cavaco de outrora, também ele nunca se engana e raramente tem dúvidas: "A classe política é na generalidade corrupta."

Relacionamento funcional entre Presidente e Parlamento? Com Morais não dá. Eis o que ele pensa dos 230 representantes do povo no hemiciclo de São Bento: "O Parlamento é um antro de corrupção, talvez o maior do País." Assim mesmo, curto e grosso: "No Parlamento, neste momento, o que se faz essencialmente são negócios." Tudo frases proferidas na mesma entrevista.

Dirão certamente os marqueteiros de turno que clamar contra a corrupção dá votos. E se esse clamor tiver o registo de um tele-evangelista com odor de santidade iluminado pela virtuosa luz da redenção, tanto melhor. A coisa promete: vamos ainda ouvir Paulo Morais falando muito por aí, entrevista após entrevista, de azorrague em riste pronto a malhar nos lombados dos corruptos.

O que sucederia se fosse eleito e tivesse portanto necessidade de dialogar institucionalmente, por dever constitucional, com esse "antro de corrupção" chamado Assembleia da República? Ninguém tenha dúvidas: ia tudo preso. E a seguir demitia-se ele: já que "a classe política é na generalidade corrupta", será prudente que as almas virtuosas se conservem à distância. Não vá aquilo pegar-se.

9 comentários

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    Pedro Correia 15.12.2015

    Nada melhor para perpetuar as práticas dolosas, em concreto, do que criticá-las a todo o tempo em abstracto dando a entender que o País inteiro está mergulhado até ao queixo e aos ossos em corrupção.
    Quem assim procede limita-se a explorar o mais fácil nicho do mercado da indignação cívica. Aquele que muito fala e nada faz.
    Como diria o bardo, "much ado about nothing".
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    Costa 16.12.2015

    Isso sem dúvida. Mas também percebo, não posso deixar de o fazer, a prudência de quem fica sempre um passo atrás de "contar tudo o que sabe". O que não significa que aprove a conduta.

    As coisas parecem feitas para perpetuar - com o ocasional cordeiro sacrificial (que se calhar só o é por ter inebriada e imprudentemente levado demasiado longe alguma garantia, percepcionada pelo menos, de impunidade) - a paz de quem conseguiu o seu lugar entre os filhos dilectos do regime.

    A responsabilidade política por um lado, o hábil arrastamento até à prescrição, numa ordem jurídica que parece largamente feita para se neutralizar a si própria, sempre na paz do escrupuloso respeito formal, por outro e alguma M.A.D ., permita-me a analogia, ainda que "de vão de escada" (não lhe darei maior dimensão, atendendo à própria dimensão das coisas por cá), cuidam de resolver o assunto. Até de purificar, transformando em mártir aos olhos do povo, o visado (independentemente da substância daquilo por que é visado), pelo longo calvário largamente inconclusivo a que parece ser sujeito.

    A pagar alguém, acabará por ser um qualquer peão fundamentalmente irrelevante ou meramente acessório e descartável. Ou quem ousou levar demasiado longe alguma interrogação inconveniente.

    E, afinal, bem vistas as coisas, o que fazem os nossos homens de poder, político ou económico, quando agem demonstrada ou alegadamente de forma social ou juridicamente censurável, que o portuguesinho médio, podendo, não faça à sua escala no decurso da sua em regra medíocre, mesquinha, vida ("governar-se", "sacar o seu", "cuidar da sua vidinha", abundam afinal as expressões consagradas)?

    Costa



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    Pedro Correia 16.12.2015

    De qualquer modo, quem profere frases deste género ("O Parlamento é um antro de corrupção, talvez o maior do País"), digna de qualquer chofer de táxi, deve ser consequente evitando candidatar-se a PR. Já que, enquanto Presidente, terá de manter um saudável convívio institucional com todos quantos agora apelida de corruptos, sem distinções de qualquer espécie.
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    Costa 16.12.2015

    Novamente, no plano dos princípios, de acordo. Mas afinal não temos nós em ocasiões como esta e formalmente acolhidas no seio do nosso sistema candidaturas que confessadamente visam a destruição desse sistema? Não damos voz, regularmente, em escrupulosos tempos de antena, à loucura marxista-leninista-maoísta? À mais radical esquerda (a direita equivalente está banida) para quem o parlamento mais não é do que uma precisa coreografia regulada ao segundo, no número, ritmo e intensidade da ovação ao líder e o multipartidarismo uma idiotice burguesa a aproveitar enquanto ferramenta para o minar e para a conquista do poder?

    E lá nos habituamos a isso, entendendo que faz parte da superioridade desse sistema dar voz ao inimigo que tem dentro de si. Ora este particular "inimigo" será, tudo visto, assaz benigno.

    Costa
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    Pedro Correia 16.12.2015

    Será, meu caro. Mas - mais que nunca nesta entrevista - o candidato em causa surge como escrupuloso cultor daquela máxima de Don Fabrizio Corbera, o Príncipe de Salina: "Se vogliamo che tutto rimanga come è, bisogna che tutto cambi."
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    Costa 16.12.2015

    Lembra bem, lembra bem. Voltar a essas elegantíssimas e serenamente desenganadas páginas nunca é demais.

    Costa
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    Pedro Correia 16.12.2015

    Aqui fica uma sugestão de leitura, meu caro:
    http://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/grandes-romances-14-6535438
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    Costa 16.12.2015

    E lá verá , num meu comentário, que esse seu texto me avivou a vontade de regressar ao Leopardo. E lá está assinalada, no meu exemplar, a data de conclusão dessa releitura (14/08/2014). E lá volto, uma ou outra vez, a páginas onde marquei alguma passagem.

    Costa
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