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Delito de Opinião

Inércia e lágrimas de crocodilo

Teresa Ribeiro, 19.06.17

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Ontem, ao ouvir Marcelo Rebelo de Sousa, às 20.30 nas televisões falar da "dor sem medida" e da solidariedade para com as vítimas e elogiar o esforço de quem está no terreno e alertar para a necessidade de seguir em frente, lembrei-me imediatamente do seu discurso por ocasião dos incêndios que o ano passado varreram a Madeira. No essencial os termos da sua comunicação ao país foram os mesmos. Então cinicamente, enquanto estabelecia esta relação, pensei que o melhor seria ele guardar o discurso no bolso, pois para a próxima sempre pouparia tempo.

Na véspera, Luís Marques Mendes, no seu comentário dos sábados na SIC, em tom de ralhete dizia que tinha sido um crime contra o país acabar com os serviços florestais e com a rede de guardas florestais e ter-se afastado da liderança da gestão e defesa da floresta os engenheiros florestais, cujo conhecimento técnico faria a diferença na prevenção e combate aos fogos.

Registei estes dois momentos com a raiva de sempre. Porque sei que esta gente que vem à TV verter lágrimas e pérolas de conhecimento sabe o que é preciso fazer há décadas. Sabe a partir de quando os fogos começaram a devorar o país e porquê. E não mexe uma palha!

De ano para ano é sempre a mesma ladainha. Anunciam, eventualmente, mais verbas para reforçar os meios de combate aos fogos - uma boa notícia para quem ganha dinheiro com esse negócio - e daí não passam. Quando o que é preciso é investir em prevenção. 

Sim, foi quando se desmantelaram os serviços florestais, se apearam os engenheiros da especialidade e se acabou com os guardas florestais que tudo começou. Assisti à escalada destas catástrofes pelos olhos do meu pai, que trabalhou na área e sofreu intensamente com todo este descalabro.

A primeira causa dos incêndios em Portugal chama-se inércia. Só a persistente ausência de uma política para as florestas explica que o ano passado tivessem ocorrido no país mais  fogos do que em Espanha, França, Itália e Grécia juntos, um padrão que já em 2005 se tinha registado! Só esta criminosa  letargia justifica que em Portugal existam dez vezes mais ignições por habitante do que em qualquer outro país europeu!

Para a próxima, quando decretarem luto nacional, não se esqueçam também de pintar a vossa douta cara de preto.

 

https://jpn.up.pt/2005/08/10/portugal-na-lista-negra-dos-fogos-florestais/ 

 

https://www.publico.pt/sociedade/jornal/em-2005-ardeu-em-portugal-mais-area-que--em-espanha-franca-italia-e-grecia-juntas-87137

 

http://observador.pt/2014/09/22/em-portugal-ardeu-em-2013-metade-da-area-da-europa-em-fogos-florestais/

 

http://www.tsf.pt/portugal/interior/portugal-foi-responsavel-em-2013-por-metade-da-area-ardida-na-uniao-europeia-4138183.html?id=4138183

 

http://www.sabado.pt/vida/imprimir/portugal-entre-os-paises-com-mais-incendios

 

http://www.jn.pt/nacional/interior/amp/ha-mais-incendios-em-portugal-do-que-noutros-paises-da-europa-4550078.html

 

http://www.cmjornal.pt/portugal/imprimir/um-terco-do-pais-destruido-por-fogo

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