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Delito de Opinião

Grécia: um silêncio gritante

Pedro Correia, 13.01.18

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Lembram-se de um tempo em que a Grécia inundava o caudal noticioso português? Recordam-se de personalidades dos mais diversos quadrantes terem saudado a ascensão ao poder da esquerda radical em Atenas como uma luz de esperança para a Europa em geral e os portugueses em particular?

Foi há três anos, em Janeiro de 2015.

 

Manuela Ferreira Leite e José Manuel Pureza irmanavam-se no louvor à "devolução da dignidade" do povo grego. "Pela Grécia passa a salvação da Europa", garantia Ana Gomes, insuflada de júbilo. "O Governo grego conseguiu dobrar a Alemanha", entusiasmou-se Freitas do Amaral. "A Alemanha teve de ceder", sorria Nicolau Santos. "A Grécia teve a coragem de resistir às pressões das potências europeias", celebrou André Freire.

"Viva a Grécia", gritou a escritora Hélia Correia ao receber o Prémio Camões. Enquanto o pintor Leonel Moura constatava que "uma parte do sucesso do Syriza deve-se à boa imagem de Tsipras" e do seu ministro das Finanças, por quem "muitas mulheres da Europa" andariam "perdidas de amores". Isabel Moreira, bem ao seu jeito, corroborava.

Boaventura de Sousa Santos, confirmando que de Coimbra também se observa o mundo, vislumbrou ali rasgos de odisseia homérica: "A vitória do Syriza teve o sabor de uma segunda libertação da Europa."

 

A Grécia há muito desapareceu dos nossos noticiários: as opções editoriais cada vez mais estreita dos responsáveis máximos dos media nacionais estimulam cada português a espreitar pelo buraco da fechadura de uma casa onde mora não sei quem no bairro das vizinhanças enquanto ignoram o que de mais relevante vai ocorrendo no mundo.

As gargantas lusas que em 2015 enrouqueceram de júbilo pela vitória do Syriza e pelo desengravatado Tsipras que, qual Roncinante, galoparia contra os mercados, a "ditadura austeritária" e a hegemonia alemã, há muito se calaram. Hoje não se vislumbra ninguém por cá que saia em defesa da esquerda radical grega: Freitas e Ferreira Leite, entre outros, meteram a viola no saco.

 

Felizmente temos acesso à imprensa europeia que, em rigoroso contraste com o silêncio português, nos vai informando sobre o que se passa em Atenas. E é garantido, como alguns de nós ousámos antecipar faz agora três anos: não se vislumbra por lá nenhuma revolução em marcha. A menos que considerem "revolucionário" o caos nos transportes, o declínio da assistência hospitalar, as greves e manifestações em série e a feroz repressão da polícia de choque contra quem protesta nas ruas.

Já vimos este filme em várias latitudes. Os "amanhãs que cantam" emudecem perante o choque com a realidade nua e crua.

10 comentários

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    Vlad, o Emborcador 13.01.2018

    Em termos de política/sociedade somos nós que criamos a realidade. A única realidade imutável nas suas leis é a do Cosmos.
  • Quer o Vald dizer, nas leis que os homens, falíveis criaturas, criaram sobre o Cosmos... peraí ! Falamos do Cosmos-mesmo-Cosmos, e não do New York Cosmos, certo ?
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    Vlad, o Emborcador 13.01.2018

    Traduza por favor!
  • https://translate.google.pt/?hl=pt-PT
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    Vlad, o Emborcador 13.01.2018

    Yebo, nkosikazi, hamba uhlaya.

  • Uyazi ukuthi ubuhlakani nobuhlakani ...
    Hlala kahle nge-idissicrasias yakho yefilosofi. Iveke elihle
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    Vlad, o Emborcador 13.01.2018

    Bom fim de semana!
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    Pedro Correia 14.01.2018

    Bom domingo a ambos.
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    Vlad, o Emborcador 14.01.2018

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