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Delito de Opinião

Figura nacional de 2015

Pedro Correia, 01.01.16

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ANTÓNIO COSTA

Não venceu a eleição legislativa de 4 de Outubro, ganha pela coligação PSD/CDS, mas foi o triunfador indiscutível no campeonato das negociações que se seguiram ao escrutínio, marcado pela ausência de maiorias absolutas.

António Costa, que em Junho de 2014 decidira disputar a liderança de António José Seguro no PS por lhe ter parecido "poucochinho" o triunfo eleitoral dos socialistas nas europeias, aguentou-se ao leme do Largo do Rato após as legislativas, transformando uma derrota nas urnas em vitória política ao conseguir congregar o apoio do Bloco de Esquerda, do Partido Comunista e dos Verdes para um Governo socialista, que acabou por tomar posse a 26 de Novembro.

Um acordo inédito na democracia portuguesa. Por isso o DELITO DE OPINIÃO escolheu Costa como Figura Nacional do Ano.

Durante semanas, o seu nome e o seu rosto foram associados ao adjectivo "histórico" por uma legião de comentadores nas televisões e nos jornais. Mas Costa, melhor que ninguém, está consciente da fragilidade da solução política que protagoniza - o que ficou bem patente no chumbo dos partidos à esquerda do PS ao orçamento rectificativo apresentado pelo Executivo, só aprovado graças à abstenção do PSD na sessão parlamentar de 23 de Dezembro. Em termos políticos, o ano que agora começa promete ser escaldante.

 

Costa obteve 14 votos entre os 23 membros do DELITO que participaram neste escrutínio (podendo cada um escolher mais que um nome). Em segundo lugar, com quatro votos, ficou Jorge Jesus, protagonista da mais polémica notícia de 2015 a nível nacional - ou pelo menos a que fez correr mais tinta nos jornais: a sua transferência do Benfica para o Sporting, anunciada em Junho. Algo semelhante ocorrera apenas uma vez, no remoto ano de 1930.

 

Os restantes votos dispersaram-se, solitários, por nomes bem conhecidos da política nacional: Cavaco Silva, Jerónimo de Sousa, Catarina Martins, Mariana Mortágua, Pedro Nuno Santos e Heloísa Apolónia. Houve igualmente um voto para o activista luso-angolano Luaty Beirão, protagonista de uma mediatíssima greve de fome em Luanda, e para Vhils (nome artístico do pintor e grafiteiro Alexandre Farto), escolhido pela Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal como personalidade do ano.

 

Figura nacional de 2010: José Mourinho

Figura nacional de 2011: Vítor Gaspar

Figura nacional de 2013: Rui Moreira

Figura nacional de 2014: Carlos Alexandre

6 comentários

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    Pedro Correia 02.01.2016

    Cuidado com o vírus fundamentalista, Ali Cate. Acautele-se.
    Bom ano também para si.
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    M. S. 02.01.2016

    Caro Pedro Correia:
    O senhor bem se esforça por analisar (e criticar) a nossa realidade político-social de forma inteligente, mas a maioria do seu público aqui no Delito (de que o comentário de Ali Kath é um bom exemplo) não o ajuda.
    Deixo-lhe uma frase-desabafo de João Lobo Antunes, de uma recente entrevista no jornal Expresso:
    «A liberdade e a democracia são uma espécie de oxigénio, que serve para respirar num tempo tão complexo como o nosso. Mas é preciso mais, é preciso construir. E temo que isso não seja possível com a polarização do debate, com a falta de respeito por um sentimento tão simples e elegante como é a decência.»
    Continuamos com Liberdade e Democracia, como demonstra a existência do Delito (e os comentários de Ali Kath e o meu), mas a decência (especialmente na convivência e nas relações entre as pessoas) está a tornar-se um bem demasiado escasso.
    Vivemos um tempo muito complexo, como nos diz João Lobo Antunes, e muito perigoso, acrescento eu.
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    Costa 02.01.2016

    A decência está, no caso em apreço, desde logo ausente na ânsia de conquista do poder. Por parte de quem fez o que fez para lá chegar. Que os fins justificam os meios é claramente demonstrado no governo presentemente em funções.

    Quem quer ser respeitado deverá dar-se ao respeito. O facto de se ser considerado figura nacional do ano - o que se percebe perfeitamente, sob um ponto de vista objectivo, atendendo à influência que terá no futuro próximo (e provavelmente, afinal, bem para lá desse) - pode resultar das melhores ou das piores razões.

    Costa

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    M. S. 03.01.2016

    Senhor Costa:
    Discordo frontalmente da sua opinião.
    As minhas objecções não são éticas, aí não há nada a apontar.
    Casos como este sucedem-se desde há décadas no espaço político-cultural ocidental onde nos inserimos.
    Neste momento temos a Bélgica, a Dinamarca, acho que a Letónia ou outro dos 3 bálticos.
    E a Austrália? Ainda mais chocante para que tem o seu ponto de vista.
    As minhas objecções são políticas, o governo não durará 2 anos porque os 2 parceiros (e a nota de rodapé) não são fiáveis: ponto final.
    Defender coisas como a tradição para contestar a formação do governo, dizer que nunca houve tal entre nós, é do mais elementar atavismo, de que somos exímios em querer o sol na eira e a chuva no nabal: queremos ser modernos e tradicionais ao mesmo tempo: não passamos de uns atávicos.
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    Costa 03.01.2016

    Meu caro senhor,

    O tema que suscita e refuta foi por aqui, e não só, abundantemente analisado. Seja quanto à inaplicabilidade de uma analogia directa entre o caso português e aqueles outros que suscita; seja quanto ao benefício em tempos aceite pelo PS, e sem problemas de consciência, das tais tradições; seja quanto à estranheza (para moderar a linguagem) do comportamento de A. Costa perante a sua actuação - e argumentação que a fundamentou - face a A. J. Seguro; seja quanto à natureza perversa de acordos feitos com quem tem na sua liturgia a constante desconsideração (novamente modero a linguagem) do PS e professa uma ideologia cuja concretização - e ela própria - o tempo demonstrou ser o que se sabe; seja quanto à bizarria da forma de concretização desses acordos, seja quanto à sua considerável vacuidade.

    Se toda a gente - o meu caro incluído - toma essa outra gente como não sendo fiável, a celebração de acordos com ela diz muito, também, quanto a quem os celebra. E não será abonatório isso que diz.

    Mas, graças ao brilho do seu raciocínio e a precisão do gume das suas palavras fiquei eu a saber que sou um atávico (e suponho que só por bem escassa margem escapei a "salazarista"). E logo, na matéria, "elementar". Em suma um néscio irrecuperável. Ainda assim, graças a Deus (ou outra coisa qualquer, pois há que ter em conta a sensibilidade dos não crentes, claro!), existe V. para lançar salvíficos raios de luz por entre as minhas trevas.

    Agradeço-lho, mas rogo-lhe que por mim se poupe de tal canseira. Não a mereço, o meu atavismo é irrecuperável.

    Atentamente,
    Costa
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