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Delito de Opinião

Fantasia perigosa

Luís Naves, 10.10.15

O inaturável provincianismo e a tradicional bazófia lusitana conspiram para uma interpretação malabarista dos resultados eleitorais. Os vencedores, afinal, não venceram. A comunicação social, sempre atenta ao irrelevante e resistente à lógica, alinha nesta perigosa fantasia.

Um governo que reunisse as duas esquerdas teria de resolver o problema genético de uma sua parte ser contra o Tratado Orçamental europeu e outra parte a favor. Um governo de esquerda que revogasse as reformas que a troika impôs nos últimos quatro anos estaria a comprometer no imediato a confiança dos credores, secando o financiamento externo do país e levando em poucas semanas à formação de filas nas caixas multibanco.

O Tratado Orçamental estabelece o limite de défice estrutural de 0,5% do PIB e, caso sejam cumpridas as metas deste ano (2,7%), faltam cerca de dois pontos percentuais, 3 mil milhões de euros, que podem ser obtidos sobretudo através de crescimento económico e receita de impostos nos próximos três anos. Num contexto de crise europeia, surge esta tentação de ignorar a vontade popular e destruir o que foi feito. Ela leva-nos a instabilidade política, a uma nova situação de pré-falência e a um segundo resgate, ainda mais duro que o anterior. Não há espaço para loucuras e mesmo os nostálgicos dos governos de cinco minutos da Primeira República deviam entender que as elites fracas afundam países e que os naufrágios, no mundo contemporâneo, são demasiado rápidos.

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