Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Este país não é para estadistas

Teresa Ribeiro, 06.05.15

C:\Documents and Settings\Admin\Ambiente de trabal

 

Quando os vejo a discursar, em exercícios de aquecimento para a próxima campanha eleitoral, penso muitas vezes não no que os distingue, mas no que têm em comum com as suas audiências. Tal como as pessoas que os escutam também eles aprenderam, desde pequeninos, a criticar "os portugueses". Sem se reconhecerem a si e aos seus nos defeitos que lhes apontam, cresceram à sombra desse sentimento de auto-exclusão. De costas ritualmente voltadas para o colectivo, assimilaram a descrença na capacidade de realização do povo que já os romanos diziam ser ingovernável.

Está no seu código genético, no meu, no dos seus filhos. O sentimento de pertença dos portugueses é constituído não por identificação com os outros mas apesar deles. Talvez seja uma atitude mais saudável do que parece. Talvez seja uma forma muito pragmática de cada um se demarcar do insucesso crónico da nação e seguir com a sua vida em frente. Mas que efeito tem isto nos líderes políticos?

Se essa desconfiança seminal em relação ao povo que eles se propõem governar produz efeitos no seu comportamento, só podem ser nocivos.  Liderá-lo nestas condições é, em última análise, um exercício de cinismo. É saber à partida que seja o que for que anunciem como projecto para o País não vai acontecer. Daí a reduzir a política à sua mais ínfima expressão é um passo.

Sem verdadeiras ambições reformistas o que resta aos políticos senão os jogos de poder? É neste contexto que a partidocracia ganha sentido. Acomodados e pessimistas como o tuga mais empedernido, os nossos líderes políticos não esperam fazer mais pelo país do que os seus distintos antecessores. Enquanto debitam em público os discursos que os assessores políticos lhes escrevem movem-se animados por interesses próximos, em torno de objectivos realistas, adquirindo competências e currículo como os melhores entre os melhores da política. Desta política que temos.

E é só.

2 comentários

  • Sem imagem de perfil

    da Maia 07.05.2015

    A riqueza pode ser medida pelo que se tem.
    A pobreza pode ser medida pelo que falta ter.

    Assim, maior riqueza não representa menor pobreza, porque por muito que se tenha, pode sempre desejar-se mais.
    Ou seja, o sujeito que começa por querer ser o maior do bairro, depois da paróquia, da freguesia, do concelho, do distrito, etc... e este caminho é inesgotável, a menos que controle a sua sofreguidão inata.

    Para isso, a reflexão íntima mais complicada não é sobre ter mais e mais, mas sim sobre o que falta para o próprio ficar em paz consigo e com o que o rodeia.

    O homem é o único animal inatamente pobre.

    O conceito de pobreza no reino animal é praticamente inexistente, porque as "ambições animalescas" são usualmente satisfeitas no seu território, excepto em períodos ocasionais de grave carência.
    Numa situação de equilíbrio, cada bicho encontra a comida suficiente, e não precisa de mais, encontra o acasalamento suficiente, e não precisa de mais.
    Os desejos estão em equilíbrio com o seu enquadramento.

    No caso humano, isso é completamente diferente, porque a mentalidade não educa um combate ao desejo incessante.
    Não havendo limites naturais para esse desejo, pode-se entrar numa espiral sem fim, onde tudo o que se tem ou venha a ter não é suficiente. Simplesmente, quando não se sabe o que se quer, a pobreza é inata, e nenhuma outra riqueza a resolve, excepto a resposta a essa questão.

    O aumento de riqueza não implica o fim da pobreza.
    Essa é uma estúpida ideia, repetida vezes sem conta.
    O aumento da riqueza só permite terminar a pobreza de quem se satisfaz com algum limite. Porém, há inúmeras pessoas, normalmente mais ricas, para quem o aumento de riqueza é apenas uma droga que alimenta um sonho, mas não cura a doença, porque a cada passo procura mais riqueza, sem perceber que o seu problema é a pobreza inata que não reconhece. Sem reconhecer a doença, não irá procurar a cura.
    Ora, essa incessante busca de riqueza de uns, acaba por afectar todos, mesmo os que estão satisfeitos com o que têm, puxando-os para uma pobreza que assim se alastra a todos.

    Em resumo, o combate à pobreza só em pouco se liga ao aumento de riqueza, especialmente nos dias que correm, onde as carências globais são um artifício mercantil.
    O combate à pobreza deve começar pelos mais pobres, e esses não são necessariamente os menos ricos, pelo contrário, são normalmente os mais ricos.
  • Comentar:

    Mais

    Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

    Este blog tem comentários moderados.