Este país não é para estadistas
Quando os vejo a discursar, em exercícios de aquecimento para a próxima campanha eleitoral, penso muitas vezes não no que os distingue, mas no que têm em comum com as suas audiências. Tal como as pessoas que os escutam também eles aprenderam, desde pequeninos, a criticar "os portugueses". Sem se reconhecerem a si e aos seus nos defeitos que lhes apontam, cresceram à sombra desse sentimento de auto-exclusão. De costas ritualmente voltadas para o colectivo, assimilaram a descrença na capacidade de realização do povo que já os romanos diziam ser ingovernável.
Está no seu código genético, no meu, no dos seus filhos. O sentimento de pertença dos portugueses é constituído não por identificação com os outros mas apesar deles. Talvez seja uma atitude mais saudável do que parece. Talvez seja uma forma muito pragmática de cada um se demarcar do insucesso crónico da nação e seguir com a sua vida em frente. Mas que efeito tem isto nos líderes políticos?
Se essa desconfiança seminal em relação ao povo que eles se propõem governar produz efeitos no seu comportamento, só podem ser nocivos. Liderá-lo nestas condições é, em última análise, um exercício de cinismo. É saber à partida que seja o que for que anunciem como projecto para o País não vai acontecer. Daí a reduzir a política à sua mais ínfima expressão é um passo.
Sem verdadeiras ambições reformistas o que resta aos políticos senão os jogos de poder? É neste contexto que a partidocracia ganha sentido. Acomodados e pessimistas como o tuga mais empedernido, os nossos líderes políticos não esperam fazer mais pelo país do que os seus distintos antecessores. Enquanto debitam em público os discursos que os assessores políticos lhes escrevem movem-se animados por interesses próximos, em torno de objectivos realistas, adquirindo competências e currículo como os melhores entre os melhores da política. Desta política que temos.
E é só.