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Delito de Opinião

Dylan Once Again

Francisca Prieto, 13.10.16

Hoje o mundo veio abaixo, com um míssil disparado de Estocolmo. Atribuiu-se a Bob Dylan, o desgrenhado compositor de voz rouca, o Prémio Nobel da Literatura.

Passei o dia a ouvir opiniões de dois grupos antagónicos. De um lado, gente petrificada com a chegada do apocalipse e, do outro, malta a pulular em euforia pela ousadia da escolha. A mim, coube-me o desconforto. Porque de alguma forma, sentia que letras de canções não encaixavam na categoria.

A Velha do Restelo e a Rapariga Prá Frentex que coexistem no meu córtex pré-frontal e que arbitram os casos difíceis, degladiavam-se em argumentos ininterruptos.

Pois que letras de canções são poesia. E já foi premiado mais do que um poeta. Devia valer. E um dramaturgo? Também já foi premiado, ora. Será uma peça de teatro literatura? E o Chico Buarque? é poeta, caramba. Macacos me mordam.

E andei nisto todo o dia, a querer à brava ser a favor da nomeação de Bob Dylan para ser moderna, mas sem me conseguir render.

Até que, chegando à noitinha, e para meu grande alívio, percebi porque é que letras de canções e peças de teatro não se deviam misturar no campeonato da literatura. A questão é que, se na forma as podemos ver como semelhantes, na função nada têm a ver.

Um letrista escreve poesia para ser cantada. Um dramaturgo escreve teatro para ser levado a cena. À letra acrescenta-se música. Ao argumento, acrescentam-se actores, luzes, som.

A literatura é, simplesmente, para ser lida. Não tem outra função, não é apenas uma parte de outra coisa maior.

E nisso que reside a diferença. E é por isso que não faz sentido premiar a partir do mesmo saco.

 

Dylan.JPG

 

4 comentários

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    Francisca Prieto 13.10.2016

    Caro Xico,
    Menciona dois exemplos muito significativos, mas convenhamos que se devem ter passado séculos até que as trovas se tenham considerado literatura. À época eram apenas cantilenas.
    Um abraço
  • Sem imagem de perfil

    xico 13.10.2016

    Discordo em absoluto.
    Cantilenas da corte e escritas por reis.
    Não sou especialista. Como dizia o outro, eu é mais bolos. Mas julgo que toda a literatura, como arte consciente desse valor, se inicia com a poesia para ser cantada. A gesta dos heróis, as canções de amor, e as orações a Deus, como os salmos de David que eram sempre cantados. Não são cantilenas.
  • Sem imagem de perfil

    Anónimo 14.10.2016

    Já não sabem o que dizer (trovador, sério?) para justificar este prémio.
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