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Delito de Opinião

Dez livros para comprar no Natal

Pedro Correia, 06.12.16

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Livro seis: Cartas por um Sonho, de Ángeles Doñate

Tradução de São Amaral

Edição Suma de Letras, 2016

372 páginas

 

A morte do romance, tal como prenunciaram os cultores do nouveau roman no seu labiríntico processo de “desconstrução da narrativa ficcional”, era manifestamente exagerada. Meio século depois, o romance como género literário está bem e recomenda-se – e contagia até outros formatos, incluindo as séries televisivas de qualidade, onde as regras da narrativa clássica são assumidas sem sombra de constrangimento.

As modas literárias nascem e morrem, mas não se apaga na espécie humana o gosto de contar uma história – tenha os saltos cronológicos que tiver, recorra a sofisticados jogos metafóricos ou a vocabulário da rua, utilize a primeira pessoa do singular ou o plural majestático, seja narrada de trás para diante ou da frente para trás.

Prender a atenção de um vasto número de leitores com uma narrativa de alcance universal é um dom revelado pela escritora catalã Ángeles Doñate neste seu romance de estreia a solo, surgido originalmente em 2015, sob o título El invierno que tomamos cartas en el asunto. Cultora da ficção epistolar, de que dá tão recomendáveis provas nesta obra, a autora constrói um enredo para todas as idades, capaz de dar um bom filme em qualquer idioma.

Eis o ponto de partida: para que serve um carteiro num mundo onde já ninguém redige cartas à moda antiga e a tecnologia digital condenou à extinção o gosto pela escrita manual? Sara, a carteira de uma aldeia de montanha chamada Porvenir, prepara-se para ser transferida da povoação: o posto do correio inaugurado há mais de um século será extinto por falta de utentes. Nasce aí um surpreendente movimento de solidariedade, que mobilizará as pessoas mais diversas – e, sem nenhuma delas suspeitar, várias vidas mudarão dessa forma. Porque “quando alguém escreve uma carta, entrega parte do seu tempo e da sua alma”.

Êxito editorial em Espanha, já traduzida para vários países, esta obra confirma que o romance atravessa um período de inegável fulgor, contrariando as velhas previsões dos seus supostos coveiros. Assim continuará. Como se o tempo ficasse suspenso e todos os sonhos se tornassem possíveis face ao sortilégio da letra impressa.

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