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Delito de Opinião

Convidada: RITA PIRES

Pedro Correia, 22.11.17

 

Das músicas que enfeitiçam

 

 

«Índio do queixo torcido 

Que se amansou na experiência 

Eu vou voltar pra querência 

Lugar onde fui parido.» *

 

Música.

Um mundo muito relativo. Cheio de opções e de estilos. Pessoal e, quase, intransmissível. O que gostamos hoje pode não ser aquilo de que gostávamos há um, cinco ou dez anos. Ou então pode e mantemo-nos fidelíssimos a uma ou outra, em particular, durante anos a fio. 

 

Gostamos de uma porque a ouvimos no momento certo. Gostamos de outra porque a ouvimos no momento errado. Não nos esquecemos daquela porque era a que tocava na rádio quando nos levantávamos para ir para a escola e os nossos pais conversavam à janela, apanhando o primeiro ar da manhã, minutos antes de também saírem de casa para trabalhar.

Queremos voltar a ouvir a outra porque precisamos de chorar o mesmo choro de há uns anos, quando descíamos a rua e passávamos no lugar onde conhecemos um amor já perdido.

Gostamos de uma porque nos faz vibrar exactamente da mesma maneira que vibrávamos quando tínhamos 20 anos e o mundo era um lugar sem fim e até o impensável era possível.

Escutamos outra porque nos traz uma existência onde a tristeza não existe. E pomos outra a tocar justamente porque precisamos de sentir uma percentagem dessa tristeza. 

 

 

 

Qual é a probabilidade de encontrarmos a música certa para nós?

Aquela mais consistente, que nos encaixa no ser, ou a outra mais emotiva que fala de nós, em determinado momento, sem que quem a criou nos conheça ou venha a conhecer? 

O que faz uma pessoa ligar o rádio, em casa para cozinhar ou no carro antes de rumar ao trabalho, no exacto momento em que Aquele som está no ar?

O que faz outra pessoa vaguear na Internet e encontrar aquela outra música que nunca ouviu em lugar nenhum? 

 

Foi algo parecido que me sucedeu com a música que ilustra este post. Julgo, até, que pode muito bem ter sido neste mesmo blogue o local onde a achei. E depois o mundo virtual tem destas coisas. Pesquisam-se mais músicas, escutam-se entrevistas.

Não desfazendo o autor da letra, sublinho quem a interpreta. Vítor Ramil, uma tranquilidade capaz de fazer viajar para a mais doce nuvem de algodão. Há muitas outras músicas das quais gosto, sem dúvida. Mas gostar desta é pessoal e – definitivamente – intransmissível.

 

* Poema de João da Cunha Vargas, musicado por Vítor Ramil.

 

 

Rita Pires

(blogue CENAS TIPO)

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