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Delito de Opinião

Convidada: MARIA ARAÚJO

Pedro Correia, 04.09.17

 

O momento certo

  

Há cerca de um ano tive um contratempo com alguém da blogosfera, a propósito de um e-mail que me enviou, e a que não respondi porque a minha frequência no Sapo Mail era praticamente zero. Desde então tento ler, diariamente, a correspondência que recebo. São, maioritariamente, comentários/respostas aos posts.

Hoje, final da tarde, dei uma vista de olhos ao correio e, de repente, um nome que conheço da blogosfera chamou-me a atenção. Reparo no assunto.

Se os meus olhos ficaram petrificados, o meu coração bateu forte com a surpresa do conteúdo.

«Porquê eu?»

«E agora?! O que vou fazer?»

 

Sem a miníma ideia sobre a volta a dar ao assunto, sem conseguir perceber o que levou tão distinta pessoa a fazer-me um convite destes, estava a minha cabeça confusa e os meus olhos liam e reliam o pequeno texto.

Não tinha palavras nem dedos que me levassem ao teclado para dar-lhe uma resposta.

Pensei procurar textos no meu blog que me dessem ideias. Não queria decepcionar este senhor.

Foi então que me lembrei de cumprir o desafio que eu própria lançara a alguém, há algum tempo, e que não cumprira porque estava sem ideias.

No ambiente de trabalho do computador, procurei o documento que guardara para o reler e retribuir no momento certo.

Abri-o e li.

 

Num desabafo (assim o interpretei), o autor do texto transmitia alguma nostalgia de escrever no papel, à moda antiga, de corrigir os erros manualmente, o que a tecnologia agora faz por si.

E fazia a comparação entre o texto publicado, escrito no teclado, sem erros e perceptível, com o original, manuscrito, que vai “esgalhando”, de modo a chegar assim ao leitor.

Os puristas vêem a escrita no teclado como um retrocesso, porque assim não se tem consciência da passagem das ideias do papel para o monitor. Isto levou-me a verificar de que modo a minha escrita no computador e a manuscrita seriam diferentes também.

Peguei no papel e na caneta. Escrevinhei o que me veio à mente.

Risquei, rabisquei, rasguei folhas.

Confesso que senti alguma dificuldade em escrever uma frase.

 

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No teclado, os dedos chegam lá com destreza e os olhos detectam os erros. Percebemos que as ideias estão mal definidas, apagamos, corrigimos, acrescentamos, copiamos, colamos. Perdemos consciência do valor que as rasuras, os rabiscos, o pensamento e as emoções que transmitimos ao papel têm tanto na escrita como na nossa vida.

Isto fez-me voltar atrás no tempo. Foram muitos os manuscritos que guardei nas gavetas físicas das minhas memórias: os de amor, os de família, os de amigos, os do simples prazer de escrever.

No teclado do nosso computador escrevinhamos uma frase, um sentimento, uma opinião, um conceito. E esquecemos.

É como as fotografias. Com as novas tecnologias, deixámos de gravar no papel, de pôr na moldura que decoraria o móvel da sala aquele momento especial. Ficam arquivadas nas muitas pastas do computador até ao dia em que nos lembramos de reviver aquela viagem, aquele dia, aquele momento.

Acabo este este texto com a mesma frase/pensamento que o autor “esgalhou” no seu: “Com os actuais processadores de texto, deixei de ter passado."

 

 

Maria Araújo

(blogue CANTINHO DA CASA)

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