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Delito de Opinião

Convidada: MARGARIDA C. AGUIAR

Pedro Correia, 08.11.17

 

Envelhecimento demográfico, um desafio à inovação

 

Nas economias mais desenvolvidas, o fenómeno do envelhecimento demográfico é uma realidade inexorável que está a entrar, cada vez mais, pela casa adentro. Por cá, o assunto não tem merecido a atenção que exige, não apenas pela dificuldade que temos demonstrado de descolarmos do curto prazo, mas também pela falta de visão necessária para o desenho de políticas públicas com objectivos que no médio e longo prazos operem os efeitos desejáveis.

O envelhecimento demográfico é considerado por muitos um problema para o futuro. E não deixa de ter razão quem assim pensa numa sociedade que não é capaz de pensar de forma diferente. A primeira transformação a fazer é cultural. Não sendo possível inverter o envelhecimento demográfico, o que verdadeiramente importa é sermos capazes de encontrar soluções que se adaptem às novas realidades.

Com efeito, o fenómeno do envelhecimento não é novo – todos sabemos. Os números são sobejamente conhecidos e as projecções têm uma probabilidade elevada de se concretizarem, bastando para tal olhar para o passado e o presente. Há muito que a estatística nacional e que estatísticas e estudos de instâncias e centros de investigação europeus vêm chamando a atenção para as trajectórias inversas da curva de natalidade e da curva de longevidade. A primeira em movimento descendente e a segunda, pelo contrário, em movimento crescente. A população total está a reduzir-se e estamos a envelhecer. Portugal é um dos países mais envelhecidos do mundo. Os números não oferecem dúvidas. Estes, ao contrário de muitos outros, não têm discussão.

 

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Vivermos mais tempo é motivo para nos deixar mais felizes. Seria expectável que esta perspectiva de bem-estar nos obrigasse a pensar e a actuar no sentido de criarmos condições para que a boa notícia do aumento da esperança de vida possa ser vivida com dignidade e qualidade de vida.

Políticas públicas e sociedade civil deveriam conjugar esforços para remar ambas para o mesmo lado, complementando-se e articulando-se na definição de estratégias nacionais integradas e transversais, intertemporalmente consistentes, fortemente apostadas no investimento na inovação, identificando caminhos para os quais deve ser canalizado o esforço.

É muito importante que as populações tomem consciência do envelhecimento. Não basta saberem que vivem mais anos: é fundamental que compreendam as políticas públicas do envelhecimento e participem nelas, se organizem enquanto sociedade civil, de modo a criar um clima favorável às transformações da economia e organização social. Temos toda a vantagem em sermos protagonistas da mudança. Antecipar caminhos, dispor de uma estratégia para lidar com as boas e as más notícias é a única via. O pior que nos pode acontecer é o futuro bater à nossa porta e não estarmos preparados para o receber.

 

Portugal não está ainda preparado para a complexa realidade trazida pelas alterações demográficas, com reflexos, entre outros, na economia, nos hábitos de poupança, na equidade intergeracional, na gestão do ciclo de vida, na organização do trabalho e da sociedade, no emprego, na ocupação do tempo e no entretenimento, nas redes familiares e sociais.

O envelhecimento demográfico tem impactos significativos na despesa pública com os sistemas de pensões e de cuidados de saúde ou na gestão da dívida pública.

Com a população activa a reduzir-se, temos pela frente um desafio superior que é o de sermos capazes de aproveitar as capacidades das pessoas mais velhas, contribuindo não apenas para melhorar a produtividade, mas também para humanizar a sociedade, erguendo pontes entre as gerações mais novas e as gerações mais velhas.

O caminho passa por as populações dos países envelhecidos tomarem consciência da relação entre a solução dos problemas criados pelo envelhecimento e a existência de uma cultura pró-inovação. Portugal está dentro deste "barco". Está em causa uma transformação cultural que, evidentemente, se vai fazendo. Mas precisamos de agir com antecedência, de modo a, com tempo, nos organizarmos.

 

 

Margarida Corrêa de Aguiar

(blogue QUARTA REPÚBLICA)

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