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Delito de Opinião

Convidada: GRAÇA SAMPAIO

Pedro Correia, 14.02.18

 

Exageros e fundamentalismos

 

O último quartel do século XX deixou a marca de que aquele foi o século da imagem. Para quem não é historiador – que é o nosso caso – o século não se vai medindo pelo tempo cronológico, ou seja, os cem anos, mas tão-somente por aquele em que nos movemos, aquele que mais nos marcou.

Há e sempre houve o ser e o parecer. Ora, pelo menos que me lembre, as pessoas de bem que antecederam o tempo da ditadura da imagem, sempre sobrepuseram o ser ao parecer. [esqueçamos agora o ter, que esse daria para escrever mais um ror de linhas..] Porém, desde que os fazedores (ou manipuladores?) de ideias descobriram a imagem e começaram a vendê-la – e não estou a falar do cinema ou da televisão – o parecer sobrepôs-se e nunca mais deixou o ser respirar livre.

Como fiquei chocada quando ouvi da boca de um professor de uma universidade de renome onde andava a fazer uma pós-graduação nos idos de 90 que «atualmente mais vale parecer que ser.»

Mas se o século passado terminou subjugado à tirania da imagem, já o atual, que está agora a entrar na maioridade, não se livra da canga dos fundamentalismos e dos enormes exageros. Culpa desta comunicação inculta, oca e falha de pensamento e de leituras, ou das redes sociais que pululam e se multiplicam em opiniões ignaras? Culpa nossa que nos deixamos arrastar e subverter pelas primeiras frases sem erros de sintaxe que se nos deparam.

Nem é preciso chegarmos ao exemplo terrível dos fundamentalismos religiosos que nos têm entrado pela casa dentro com as guerras decorrentes das ditas «primaveras árabes» com que o ocidente se deixou deslumbrar. Se quisermos pensar em exemplos de fundamentalismo religiosos nem precisamos de sair do país. De Lisboa. Basta atentarmos nos dislates que o seu inclemente cardeal tem bolçado.

Fundamentalismos políticos de uma direita fechada e ressentida contra governantes mais visionários que mostram ou mostraram preocupações sociais. Fundamentalismos de quem tem obrigações constitucionais e institucionais de defesa dos cidadãos contra os mais fracos, os menos poderosos, contra as mulheres ou simplesmente – o que é pior – contra quem não milita nos seus cânones da moral, da política, da visão do mundo, da religião (meu deus!). Fundamentalismos facciosos.

Não menos inquietantes os exageros que mostram, esses sim, como somos seguidistas e nem sempre pensamos pelas nossas cabeças. Quem já não se lembra do exagero que foi a importância dada aos livrinhos azuis e rosa da Porto que “menorizavam” – diziam – as meninas “e constituíam uma enorme ofensa à igualdade de género”? E o exagero acerca dos piropos? E o exagerado sururu em torno das posições da Catherine Deneuve e da Brigitte Bardot sobre o caso dos assédios trazidos a lume pelas atrizes hollywoodescas – em que também se tem exagerado…

Já para não falarmos do «politicamente correto»…

 

 

Graça Sampaio

(blogue PICOS DE ROSEIRA BRAVA)

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