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Delito de Opinião

Cinco perguntas

Teresa Ribeiro, 19.10.17

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Sei, à força de assistir a tantas entrevistas e debates pós-incêndios, em linhas gerais, quais são as medidas estruturais que os especialistas da área florestal aconselham. Se eu sei, quem ao longo das últimas décadas ocupou os cargos que têm sob a sua alçada as florestas, por força há-de saber, e com detalhe, tudo o que é preciso para avançar com reformas.

Por isso o ponto não é "o que se deve fazer", mas por que nunca ninguém fez? Nem governos PS, nem governos PSD. No vício de tratar da coisa pública sempre sob a lógica partidária, já houve quem fizesse as contas aos anos que cada um destes partidos foi poder, para diluir culpas ao locatário com menos tempo de permanência, no caso o PSD. 

Sobre a indignação da ex-ministra da Agricultura e Ordenamento, também conhecida como "ministra do eucalipto", também se fez fogo cruzado, pois as pessoas que vêem os incêndios pela televisão têm facilidade em relativizar tudo e enviesar a óptica para o lado que lhes convém. Pessoalmente confesso que incomoda-me ver quem não tem nada para contar sobre o que fez pelo país em matéria de prevenção e combate a fogos rasgar as vestes em público.

Mas perante esta tragédia o que menos me interessa é o espectáculo da digladiação partidária. O que eu queria saber era quem ganha com os incêndios? Quem são? Quantos são? E já agora, por que a criminalidade associada aos fogos é tema que fenece tão facilmente no discurso dos políticos, sejam oposição ou governo?

Subscrevo TODAS as críticas que se fizeram ao governo e senti-me bem representada pelo discurso do PR. Mas parece-me óbvio que mais de 500 incêndios num dia não se explicam com as alterações climáticas e muito menos com a incúria da população rural. No tempo da outra senhora, quando o país não ardia assim, porque as florestas eram bem administradas, já o povo fazia queimadas e havia fogos de artifício.

Os espanhóis falaram de terrorismo a propósito dos fogos. Eles de facto são lestos a chamar os bois pelos nomes. Nós por cá é mais foguetório parlamentar. E a eterna teia de interesses e cumplicidades que submete o país a uma gestão incompetente. Por estes dias, Helena Freitas ex-deputada, bióloga e professora da Universidade de Coimbra, disse à Lusa que "o território foi abandonado por todos os governos", e que além do mais "os ministérios têm dificuldade em interagir", algo que compromete qualquer reforma. Li-a e pensei: "É isto!" Qualquer alma que tenha passado por um governo e pela máquina do Estado sabe que é isto que nos tolhe.

Há dias o Miguel Sousa Tavares dizia na SICN que se calhar somos um Estado falhado. A frase não me saiu da cabeça.

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