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Delito de Opinião

Cadernos de um enviado especial ao purgatório (41)

Luís Naves, 20.09.14

No caso do Iraque, é bastante evidente que a América não tem intenção de enviar tropas para o terreno, o que aliás seria um brinde oferecido aos radicais do Estado Islâmico (eles não querem outra coisa). O EI está a tentar perturbar o fluxo de petróleo, cuja produção se encontra sobretudo no Curdistão e no sul do Iraque, mas o radicalismo tentará também ser uma ameaça aos regimes autoritários da região. Até que ponto a monarquia saudita é estável? Os curdos continuam a controlar a parte mais apetecível do petróleo iraquiano e os pontos de saída parecem por enquanto seguros, mas os ocidentais estão claramente à defesa.

Os imperialistas ingleses da Era vitoriana diziam que não tinham aliados, mas apenas interesses. Os americanos deviam um dia deixar-se de grandes discursos sobre a defesa de alianças e dos valores da democracia e da moral, assumindo com simplicidade aquilo que sempre fizeram, que foi defender os seus interesses. Tentando perceber o que é conveniente para a América (e para o Ocidente), podemos analisar um pouco melhor os vários conflitos que se agravam no Médio Oriente. Tudo o que afecte o fluxo de petróleo terá de ser travado. Tudo o que enfraqueça o governo iraquiano de maioria xiita terá de ser evitado, pelo que Washington precisa de estabelecer uma comunicação com Teerão, que será cada vez mais um importante parceiro conjuntural. A Arábia Saudita é uma perigosa incógnita, como veremos porventura nas próximas peregrinações a Meca. Os regimes tradicionais da região devem encarar a radicalização com especial medo, o que implica não ser esta a melhor altura para falar em revolução árabe. E, no entanto, sem uma abertura nestes regimes, sem um pouco mais de justiça, o descontentamento das populações só alimentará os radicais. 

 

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