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Delito de Opinião

Aprenderam pouco...

Helena Sacadura Cabral, 27.05.14



No meu tempo de aluna de Economia passeavam-se pela Universidade uns filhos família cujo nome, pronunciado em voz alta, dizia tudo da sua origem. Vestiam e falavam de maneira especial e de um modo geral conviviam em grupo fechado, olhando os restantes colegas como representantes de uma classe social que pouco ou nada lhes dizia. Tinham-me algum respeito porque era eu que fazia as "sebentas" de algumas cadeiras, porque era a melhor aluna e porque, sem bem saberem porquê, usava um nome conhecido da História. E, de nomes, parece que percebiam. Mas não pertencíamos ao mesmo mundo. Isso era tão claro para mim quanto para eles...

Há dias quando fui tomar a bica ao local habitual, vejo parar um Maserati - lindo, confesso - e sair de lá um homem dos seus 35 anos, bastante alto, indumentária casual, cabelo claro e passada confiante. Dir-se-ia um ilustre representante da fidalguia do dinheiro.

Não me enganei. Com efeito, ao fazer a encomenda - dado o tom de voz, todos ficámos a conhece-la -, lá veio o nome. Nesse momento, ao ouvi-lo, reconheci o pai, na voz, no rosto e, claro, no apelido.

Saíu com a mesma ligeireza com que entrou. O Maserati arrancou em beleza e, por instantes, na sala reinou um silêncio incómodo, que apenas foi interrompido por um pedido meu de mais um rissol, emblemática escolha de classe social, que fazia toda a diferença com o rol que ouvíramos antes.

Enquanto comia o pastel, pensei como depois de 40 anos passados sobre o 25 de Abril, as classes dominantes usam sempre o mesmo apelido e pouco ou nada aprenderam. Ou, dito de outro modo, como pouco ou nada, os obreiros da revolução lhes ensinaram!

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