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Delito de Opinião

Andamos muito distraídos

Luís Naves, 10.06.16

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Instalou-se entre nós a narrativa de que vivemos numa espécie de oásis, à margem das grandes complicações europeias. A obsessão pelo futebol contribui para nos distrair um pouco mais, como é evidente na indiferença com que recebemos as notícias recentes de Espanha. Aqui, no Delito, Diogo Noivo tem escrito sobre o tema, mas destaco este texto, que, a meu ver, toca no nervo das transformações europeias: os populistas  engolem o centro, não apenas em Espanha, mas em vários países. Os radicais (à esquerda e direita) só estão preocupados com a tomada do poder e é pena que este texto não tenha sido mais lido e citado.

A descoberta da flexibilidade ideológica permite ao Podemos mudanças de rumo e de táctica que, neste caso, colocaram esta força, aliada aos comunistas, no limiar dos 25%, à frente dos socialistas. Se houver governo de esquerda, o PSOE será a força menor da coligação; se os socialistas se aliarem à direita ou viabilizarem um governo do PP, o Podemos estará na oposição, a chefiar a esquerda e a esperar a sua próxima oportunidade. Com o centro esquerda cortado às postas, os populistas poderão “assaltar o céu”, como dizem.

Na direita, em países como Áustria e França, está a ocorrer um fenómeno semelhante. Os partidos da extrema-direita deslocaram-se para o centro, suavizando a sua retórica mais tóxica e parecendo aceitáveis para a classe média. Na Áustria, foi ultrapassado esse patamar transformador e os radicais são agora maiores do que o centro. Em França, os socialistas estão em dificuldades para manter a liderança da esquerda e os republicanos são desafiados à direita. Os populistas de extrema-direita avançam na Finlândia, na Holanda, na Suécia e na Dinamarca. Os de esquerda instalam-se na Grécia, Espanha, Itália. Prepara-se a hecatombe do centro nas eleições para o Parlamento Europeu, em 2019.

A gerigonça portuguesa parece um mecanismo de oásis, mas pode ser a antecipação destes problemas. Há quem coloque no mesmo saco os três partidos que apoiam o governo de António Costa e some as intenções de voto (dá o extraordinário número de 53%) sem acrescentar que dois desses partidos estão fora do governo e que, em caso de falhanço da aliança táctica, o PS corre o risco de perder muitos votos. É mais lógico somar BE e PC, o que dá 18% nas sondagens, ou seja, não estamos longe do resultado atribuído à coligação Podemos e IU em Espanha (25%). Se isto bater outra vez na parede, o cenário espanhol é mais do que possível entre nós, é altamente provável.

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