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Delito de Opinião

Crónica da Galiza - I

Ana Vidal, 09.09.09

Estou na Galiza, com um acesso limitado à net (só raramente consigo entrar, como é o caso de agora). Nos dias que aqui tenho passado - os últimos das minhas férias - tenho aproveitado para matar saudades desta região que adoro e já não visitava há alguns anos, rever velhos amigos, passear, ler alguma coisa do que tenho em atraso e, last but not the least, deliciar-me com uma gastronomia que é um dos grandes trunfos desta magnífica zona. Ontem, em Vigo, diante de um insuperável "pulpo a gallega" no Eligio (uma tasquinha antiga, sem identificação exterior e com pergaminhos de boémia artística, que só é conhecida de quem vive aqui ou tem a sorte de ser introduzido por um cliente da casa), comentava-se a crise económica nacional/internacional, agudíssima e ainda sem qualquer luz ao fundo do túnel: o desemprego crescente, a insatisfação generalizada, o aumento das tensões e desequilíbrios sociais (que, em Espanha, facilmente encontram eco em movimentos terroristas organizados, potenciando a insegurança e o medo), a falência de pequenas e médias empresas e a retirada estratégica de multinacionais, a corrupção política, o descrédito progressivo das instituições, sobretudo as ligadas à justiça. Um quadro em tudo semelhante ao nosso, mas com os contornos especiais de um país que passou da abundância confortável ao descalabro em muito pouco tempo. Pergunto como nos vêm a nós, portugueses, em idêntica situação e neste momento pré-eleitoral. A resposta é intrigante: "Excessivamente parados, sabes?". Quero saber porquê. "Porque, perante a adversidade e o desânimo, vocês paralisam". "E vocês?", pergunto eu. "Nós esbracejamos."

 

Este diálogo lembra-me, inevitavelmente, aquela fábula (japonesa, creio) dos dois ratinhos que caem inadvertidamente num jarro de leite. O primeiro, percebendo que nada pode fazer para sair dali, dá aos pés durante algum tempo e depois pára, rendendo-se à sua sorte e afogando-se no leite. O segundo, pelo contrário, não desiste de bater os pés. Já muito cansado e pensando estar a aproximar-se do fim, nota de repente que o "chão" debaixo dos seus pés começa a ficar sólido, permitindo-lhe salvar-se: o leite, com a agitação prolongada, transformara-se em manteiga.

 

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