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Delito de Opinião

Legislativas (29)

Pedro Correia, 08.09.09

 

DEBATE JOSÉ SÓCRATES-FRANCISCO LOUÇÃ

 

Há pequenas frases que dizem tudo. Um político pode ficar amarrado a elas para sempre. Aconteceu hoje à noite com José Sócrates, na RTP, no mais acalorado debate até agora realizado nas televisões durante esta pré-campanha para as legislativas. Francisco Louçã, o seu antagonista, acabara de dizer que foi "socialista laico e republicano toda a vida" quando o líder do PS lhe replicou nestes termos: "Eu sempre me filiei no socialismo democrático. Nunca tive outra família política."

Sabendo-se que Sócrates esteve filiado no PPD de Francisco Sá Carneiro - grande rival do PS de Mário Soares - logo após o 25 de Abril de 1974, esta frase confirma que Sócrates tem uma relação difícil com a realidade. "Volte a pôr os pés na terra", atirou-lhe Louçã. Tinha razão para falar assim: o país do primeiro-ministro é o país da propaganda, das previsões não concretizadas, dos promessas desmentidas pelos factos.

Dito isto, há que sublinhar o seguinte: Sócrates levou a melhor neste debate ao enredar o líder do Bloco de Esquerda na estratégia que levava bem estudada. A maior parte deste frente-a-frente foi preenchida não com a análise detalhada destes quatro anos e meio de governo socialista dotados de maioria absoluta mas a analisar o programa eleitoral do Bloco. Sócrates forçou Louçã a jogar à defesa, encurtando-lhe a margem de manobra. Enquanto o homem forte do BE se justificava das acusações do primeiro-ministro, que lhe colava os rótulos de "extremista" e "radical", iam decorrendo preciosos minutos. Para se debater o programa do Bloco, não se debateu o País.

Louçã percebeu ainda a tempo que estava a perder o debate, que até lhe tinha começado bem com a sua devastadora invocação de casos como a entrega da GALP a Américo Amorim ou do terminal de contentores de Alcântara à empresa construtora de Jorge Coelho sem concurso público. Nessa altura foi o chefe do Governo quem se viu remetido a posições defensivas, recorrendo a truques de retórica já estafada.

"Candidato-me para vencer a direita", disse o socialista.

"Candidato-me para vencer a crise", retorquiu-lhe o bloquista.

Foi então que Sócrates abriu o programa eleitoral do seu adversário e começou a questionar a política fiscal do Bloco, o amplo programa de nacionalizações do Bloco, o "ataque à classe média" supostamente protagonizado pelo Bloco, "a estratégia clássica da esquerda radical" defendida por Louçã. Acenos evidentes aos eleitores da classe média que têm vindo a a ser atraídos pelo BE, como as últimas europeias demonstraram.

O líder bloquista invocou precisamente a derrota do PS nas europeias para referir que "Manuel Alegre, sozinho, teve mais votos" que os socialistas neste último escrutínio. Namoro evidente à ala esquerda do partido que tem governado Portugal em 11 dos últimos 14 anos. De Bloco Central ninguém falou. Mas é cada vez mais perceptível que essa é uma solução governativa que está a ser equacionada por dirigentes do PS e do PSD. Não foi o próprio Sócrates que neste debate, lembrando a sua própria experiência de militante, acentuou que os dois partidos integram a mesma "família politica"?

2 comentários

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    Pedro Correia 08.09.2009

    Factos: PS e PPD não são da mesma família política. Nunca foram. Pelo contrário, com Sá Carneiro foram sempre partidos rivais - nessa altura ainda mais rivais do que são hoje. Nem estiveram nunca na mesma família política internacional, como sabe. Isto são coisas tão elementares que nem valeria a pena estar a sublinhá-las aqui. A menos que ache que Mário Soares poderia ter sido quadro do PPD (de Sá Carneiro e Mota Amaral e Alberto João Jardim) e, inversamente, Sá Carneiro poderia ter sido dirigente do PS. Não acha, pois não? Então estamos de acordo.
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