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Delito de Opinião

Legislativas (27)

Pedro Correia, 06.09.09

  

DEBATE MANUELA FERREIRA LEITE-FRANCISCO LOUÇÃ

 

O jogo das expectativas também conta para a avaliação das prestações dos políticos nos debates. Manuela Ferreira Leite beneficiou de algum modo desse factor no frente-a-frente que hoje a opôs a Francisco Louçã na TVI. As expectativas gerais, para o desempenho desta estreante em debates, eram mais baixas. Daí talvez a sensação de que a líder do PSD não tenha estado tão mal como alguns previam. Feito este intróito, há que dizer que algumas das suas fragilidades ficaram bem patentes esta noite. Dou apenas um exemplo: enquanto o seu antagonista, provando que tinha feito o trabalho de casa, conhecia bem o programa eleitoral social-democrata, ela jamais demonstrou ter lido uma só linha do programa bloquista. O que, aliás, proporcionou a Louçã uma das frases da noite: "Está a fugir do seu programa como o diabo da cruz". Dir-se-á que é uma questão de pormenor. Não é, para quem ambiciona ter responsabilidades governativas.

Ferreira Leite, acossada por Louçã, jogou demasiado à defesa, gastando preciosos minutos a tentar desfazer imputações do líder do Bloco. "Nunca pus em causa o Serviço Nacional de Saúde"; "Nunca quis privatizar a segurança social"; "Nunca defendi que devem ser despedidos 150 mil funcionários públicos". Na segurança social, terá surpreendido alguns ao elogiar a reforma feita pelo Governo socialista, que "resolveu o problema iminente da ruptura" do sistema.

Num confronto entre economistas, ficaram evidentes as diferenças entre um PSD que quer diminuir o peso do Estado na sociedade e um BE assumidamente estatizante. "Estamos a empobrecer por causa de um sistema económico que não está a gerar riqueza", disse Ferreira Leite. "Não faz nenhum sentido, de certeza absoluta, privatizar bens essenciais", afirmou Louçã. Neste capítulo, a líder do PSD marcou pontos ao evocar as 300 mil pequenas e médias empresas portuguesas, nas quais "assenta o essencial do nosso sistema produtivo". Mas o bloquista foi mais convincente na questão do desemprego ao lembrar os cerca de cem mil desempregados que não constam das estatísticas oficiais por terem desistido de bater à porta dos inúteis centros de emprego.

É cada vez mais óbvio que o BE está a disputar ao PCP protagonismo nas questões laborais. Mas os célebres temas 'fracturantes' permanecem no discurso bloquista. E aqui foram mais evidentes que nunca as divergências entre os dois políticos. O estatista Louçã, nestas matérias, advoga o Estado mínimo, com frases grandilonquentes como esta: "O Estado não dita o amor de uma pessoa." Já Ferreira Leite assume posições mais próximas da direita conservadora do que da social-democracia clássica. Maria José Nogueira Pinto, candidata número 4 do PSD por Lisboa, certamente aplaude a sua recusa categórica em legalizar os casamentos homossexuais. Mas tenho dúvidas se muitos eleitores do centro, de cujo voto Ferreira Leite tanto necessitará no dia 27, se revêem neste discurso. Coube-lhe aqui, de qualquer modo, a sua melhor tirada neste frente-a-frente: "Eu defendo o casamento mas não imponho o casamento. Francisco Louçã não defende o casamento, mas impõe o casamento."

Dito isto, há um lapso que a presidente do PSD tem de corrigir com urgência: a sua tendência em 'privatizar' o programa social-democrata. Esta noite ouvimo-la falar várias vezes no "meu [seu] programa", referindo-se às propostas eleitorais do partido. Ora, salvo melhor opinião, o programa não é dela: é do PSD. E, até prova em contrário, ela não se confunde com o partido. Embora alguns dos seus acólitos por vezes pareçam esquecer-se disso.

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