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Delito de Opinião

Talvez valha a pena pensar um pouco sobre o assunto

Carlos Barbosa de Oliveira, 04.09.09

Não entro em histerias. Não faço acusações sem provas inequívocas. Não elejo alvos para desferir ataques pessoais ou fazer auto promoção. Cultivo o rigor e a isenção.
Estas são as regras que utilizo enquanto jornalista mas, obviamente,  que não são aplicáveis nos blogs onde escrevo, porque nestes espaços não me sinto vinculado a essas regras. O blog é um espaço de opinião. A que me sinto com direito como cidadão, que não está desligado da vida social e política do país.
Vou tentar, porém, analisar - na pele de jornalista - o caso do momento. Nessa perspectiva, penso que ainda não é o momento de tirar conclusões do caso MMG.
Aguardo serenamente pelas 20 horas. Se a TVI divulgar INTEGRALMENTE as investigações feitas pela equipa de MMG, fico com a (quase) certeza de que não houve mãozinha do governo. Se, pelo contrário, optar por esconder as investigações, fico com uma dúvida: atendendo a que a decisão foi tomada em Espanha, será  que as peças revelariam alguma coisa inconveniente para o governo de Zapatero e as suas relações com o PS? Penso que não. É  já conhecido o corte de relações entre a PRISA e o PSOE, pelo que alguma ligação do caso com acontecimentos em Espanha não estará relacionada com quem está actualmente no governo. Para bom entendedor…
Vejamos então a hipótese de a investigação ter encontrado mais provas contra Sócrates e aí, sim, pode levantar-se a possibilidade de ter havido intervenção do governo. Fico, no entanto, sem encontrar respostas para as razões que terão levado o governo a manobrar no sentido de suspender o Jornal de MMG. E aí entra outra hipótese, que só MMG pode ajudar a deslindar: que razões a  levaram  a dar uma entrevista ao “Público” no dia em que foi conhecida a suspensão do seu jornal?  Por que razão lembrou, nessa entrevista, que “seriam estúpidos” se acabassem com o Jornal dela? E, ,já agora, seria interessante que ela desvendasse as conclusões a que chegou porque, se não o fizer, é legítimo levantar a hipótese de a peça não existir, ou não trazer nada de novo.
Não creio que a TVI deixe de divulgar a peça. A razão é simples. Apesar de demissionária, a direcção de informação  continua a exercer funções, pelo que só não divulgará a investigação se não quiser. E se a opção for não divulgar, a solidariedade manifestada pela direcção de informação com MMG terá de ser posta em causa. Ou, então, a direcção de informação abandona de imediato as suas funções e denuncia que foi proibida de exibir a investigação e voltamos ao princípio.
Finalmente, se a investigação for divulgada, conclui-se que o objectivo da PRISA foi  apenas afastar – não despedir - MMG (tem toda a legitimidade para o fazer) e, eventualmente, alguns dos elementos do “inner circle” de José Eduardo Moniz. O que também é legítimo. Normal na Administração Pública e nas empresas.
Este post é um mero exercício especulativo. Mas é com todos os pressupostos colocados  em cima da mesa que um jornalista deve trabalhar. Depois deve comparar informações, confrontar fontes, pesquisar, ligar as pontas e tentar tirar as conclusões. Só nessa altura estará em condições de produzir a notícia.
Dir-me-ão que o jornalismo, hoje em dia, não se compadece com este tipo de jornalismo, por ser muito moroso. É uma verdade apenas parcial. Trabalhei em Inglaterra e nos Estados Unidos e lá é frequente um jornal destacar um ou dois jornalistas para, durante um  ano, investigarem  determinado assunto. Por aqui, há mais preocupação em vender jornais e andar atrás do mediatismo das notícias, do que em ser rigoroso. O caso Freeport surgiu em 2005. Durante quatro anos, ninguém se interessou pelo assunto. Foi um tempo perdido, que poderia ter sido muito bem aproveitado para fazer investigação. Agora, para recuperar esse tempo, fazem-se notícias à pressa.
Claro que lá fora também existe este tipo de jornalismo. Como bem demonstram os casos Aznar/PP em relação ao 11 de Março (rapidamente desmascarado) ou a tragicomédia da invasão do Iraque. No entanto, se queremos jornalismo sério, em Portugal ou em qualquer parte do mundo, é obrigatório que a comunicação social invista na investigação. Sem deixar cair determinados casos no esquecimento e ressuscitá-los quando dá mais jeito a interesses que nada têm a ver com jornalismo. É que, ao contrário do que muitos defendem, nem sempre as notícias mais importantes são as que se relacionam com o presente. São, sim, aquelas que influenciam o nosso futuro.

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