A entrevista
1. Esta noite, na RTP, José Sócrates mostrou ter aprendido finalmente como se chama a presidente do PSD. Em entrevistas anteriores, era incapaz de dizer o nome dela.
2. Nem uma palavra sobre maioria absoluta. Evidente sinal dos tempos: o tema desapareceu por completo do discurso do primeiro-ministro.
3. Foi um Sócrates melífluo, quase humilde, que apareceu perante os portugueses no canal público: nem vestígio do animal feroz. Outro sinal dos tempos.
4. Óbvia a intenção de encostar o PSD à direita conservadora. Manuela Ferreira Leite deve sentir-se realizada: tem feito tudo para isso.
5. Certeira, a crítica à líder do PSD por ter excluído os rivais internos das listas parlamentares. É fácil perceber que este será um dos temas recorrentes da campanha socialista. A frase 'asfixia democrática' vira-se contra Ferreira Leite.
6. Acabaram as críticas ao BE e ao PCP: ao primeiro-ministro agora só interessa rebater o que diz o PSD. Percebo-o bem: ele precisa dos votos da esquerda como de pão para boca.
7. De política de alianças, nem uma palavra concreta. Mas houve pelo menos uma ideia: Sócrates diz não rejeitar à partida nenhum cenário. É curioso: há dias, em entrevista ao jornal i, um dos vice-presidentes do PSD afirmou exactamente o mesmo.
8. "As coisas começam a melhorar", declarou o primeiro-ministro. Quatro anos e meio depois, com a maior taxa de desemprego das últimas três décadas, eis uma das raras frases de encorajamento que é capaz de dizer aos portugueses. Repito: quatro anos e meio depois.