Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

A importância do primeiro parágrafo

Pedro Correia, 29.08.09

  

É o maior desafio para qualquer jornalista: como agarrar o leitor logo nas primeiras linhas? Há técnicas clássicas que se desenvolveram para focar a atenção das pessoas num texto, seduzindo-as com o estilo e o conteúdo. Um desafio estimulante, diga-se. E tanto mais estimulante quanto é certo que a capacidade de concentração da generalidade dos leitores contemporâneos está cada vez mais diluída. A estética de videoclip, o culto do zapping, as mil e umas artimanhas da linguagem publicitária, as centenas de canais televisivos ao dispor de cada um, as mensagens de telemóvel que a todo o momento nos assaltam e a magia da Internet tornam-nos seres dispersos e errantes. A ninguém sobra hoje tempo nem paciência para ler textos de jornal que se estendem por várias páginas. A comunicação moderna tem requisitos bem específicos neste domínio.

Mas não seria assim também noutras épocas? Na sua memorável comédia A Primeira Página, escrita há oito décadas, os dramaturgos norte-americanos Ben Hetch e Charles MacArthur centraram toda a acção numa redacção de jornal – daquelas bem antigas, cheias de fumo e com garrafas de uísque em cima das secretárias. O director do Chicago Examiner, Walter Burns, pede ao mais conceituado dos seus repórteres para lhe ler o parágrafo de abertura da prosa que tem na máquina de escrever. Não gosta nada do que ouve, preguntando-lhe por determinado pormenor. “Isso vem no segundo parágrafo”, esclarece o repórter. “E quem diabo vai ler o segundo parágrafo?”, dispara o director.
Tantos anos depois, este é um dilema que permanentemente nos assalta: quem acabará por ler os segundos parágrafos de cada texto nosso?

3 comentários

Comentar post