Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Autárquicas (7)

Pedro Correia, 16.07.09

 

HELENA ROSETA, ANTES E DEPOIS

 

Helena Roseta é uma das pessoas que mais respeito na política portuguesa. Conheço-a bem, tenho acompanhado o seu percurso e sei que sabe distinguir o fundamental do acessório, não ligando às pedras que lhe foram arremessando no caminho. Tivesse ela um feitio diferente e estaria neste momento a sentir certamente um imenso gozo ao ver tantos socialistas prostrados em seu redor, elegendo-a como nova heroína do partido por ter acedido em integrar a lista eleitoral do PS, que em 2007 a tratou com indescritível arrogância, bem ao estilo do pior de José Sócrates.

Como jornalista, acompanhei dia a dia esse processo. Sou testemunha da indignação que a Helena sentiu ao não receber sequer uma linha de resposta a uma carta que enviou a Sócrates, enquanto secretário-geral do partido, disponibilizando-se para liderar uma candidatura do partido às eleições intercalares em Lisboa. O líder socialista, que nem queria ouvir falar dela, exigiu a António Costa que abandonasse o Governo, onde era ministro de Estado e da Administração Interna, e avançasse como candidato à principal autarquia do País. Repetiu nas intercalares de Lisboa os erros políticos que já tinha cometido nas presidenciais de Janeiro de 2006, ao trocar Manuel Alegre por Mário Soares.

Posso também testemunhar: Costa cumpriu a missão com relutância. Sentia que Sócrates - seu eterno rival no PS - lhe fazia uma espécie de nó cego: se ganhasse em Lisboa, amarrava-o à cidade; se perdesse, o seu capital político desvanecia-se. Era assim nesse mês de Julho de 2007. E é assim este ano, por maioria de razão - como se verá em Outubro.

 

A Helena, desprezada pelo partido, fez o que lhe competia: bateu com a porta e candidatou-se como independente à câmara. Sem aparelho, sem aparato propagandístico, quase sem dinheiro, conseguiu mais de dez por cento, ficando à frente do PCP e do BE. Apesar de nessa campanha alguns dos incondicionais de Costa, certamente à revelia do candidato, a terem desancado forte e feio, em vários tons - todos de péssimo gosto.

Eis apenas alguns dos mimos com que foi brindada:

Emídio Rangel: «Helena Roseta vai certamente continuar a descer e começa nesta ocasião a experimentar situações de aperto que eram previsíveis. Com uma campanha freirática, piedosa e desengonçada, só pode continuar em plano inclinado (Correio da Manhã)

Vital Moreira: «O prémio da demagogia nas eleições municipais de Lisboa...vai sem nenhuma hesitação para Helena Roseta, que deu em aparecer de bicicleta, numa de ecologista.» (Causa Nossa)

Miguel Abrantes: «Nos últimos dias, Roseta aparece comparada, repetidas vezes, com La Pasionaria. Desconheço a razão: Dolores Ibarruri foi uma figura destacada da Guerra Civil de Espanha; Roseta foi uma figura destacada do Botequim, ali no n.º 79 do Largo da Graça, em Lisboa.» (Câmara Corporativa)

 

Conheço a Helena. Sei que não pensará hoje duas vezes nestes insultos com que os adeptos de Costa a brindaram em 2007. Sei também que não se deixará iludir por todos quantos a pretendem agora levar em ombros, transformando-a numa campeã das causas da esquerda 'unitária', liderada pelo PS. Ela é uma das personalidades mais bem formadas que tenho encontrado, tanto no plano pessoal como no plano político: impermeável ao insulto, imune à lisonja. Lá bem no fundo, aposto, até se divertirá por estes dias com os ridículos elogios que os mais fiéis de Sócrates hoje lhe dedicam, venerandos e obrigados. Para o melhor e para o pior, a política também é feita disto.

3 comentários

  • Sem imagem de perfil

    Carlos Santos 16.07.2009

    Caro Pedro Correia,

    Não vou ocupar a sua caixa de comentários com respostas a ataques pessoais. Disse o que pensava onde devia dizer. Se quiser saber, é consigo, e está em carta aberta.
    Cumprimentos,
    Carlos Santos
  • Imagem de perfil

    João Carvalho 16.07.2009

    Olhe que não, meu caro. Começa a ser cansativo ver «ataques pessoais» em tudo quanto revele ideias diferentes dos "atacados". Li criteriosamente o que está em causa e não só não encontrei a mais leve ponta de qualquer ataque pessoal como, ainda por cima, não faria o mais pequeno sentido atacar um opinador de blogosfera quando se está a discorrer sobre política nacional.
    Claro que a menção a um imaginado ataque pessoal facilita muito as coisas: põe fim a um debate que nem sequer começou, por retirada de uma das partes.
  • Comentar:

    Mais

    Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

    Este blog tem comentários moderados.