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Delito de Opinião

Correcção do rumo

Sérgio de Almeida Correia, 06.07.09

Pelo que li esta manhã no Diário de Notícias, aliás na sequência de notícia de igual teor do Público, a decisão de José Sócrates de proibir duplas candidaturas nas legislativas e nas autárquicas provocou reacções adversas dentro e fora do PS. É compreensível. Por razões diferentes houve quem ficasse incomodado. O PSD viu fugir-lhe mais um motivo para atacar o PS. Não é de estranhar. Estranha foi a reacção que veio de dentro do partido. Mas esta, e não outras, é que era uma decisão fracturante que importava tomar. É com decisões como esta que se respeita o eleitorado, se credibiliza a política e se separa o trigo do joio. Internamente, a decisão incomoda por colocar em causa o sacrossanto carreirismo. É preciso dizê-lo já. Quem estava habituado a jogar em várias frentes e com elas contava para garantir sinecuras melindrou-se. Ainda bem que assim foi. O sinecurismo, enquanto sistema de governo que multiplica  as funções inúteis destinadas aos seus membros, tanto quanto eu saiba não faz parte da matriz ideológica do PS. O carreirismo e o funcionalismo partidário, dentro e fora do PS, só têm servido para criar castas de políticos acomodados e serventuários do poder, cujas carreiras políticas são movidas pelo desejo de promoção social, de estabilidade no emprego ou de aquisição e manutenção de privilégios a que de outra forma nunca aspirariam. A defesa da cidadania, o combate cívico, o respeito pela democracia e pelos cidadãos eleitores exige coragem e sacríficios. Pensar o contrário é continuar a apostar no actual estado de coisas onde medram a hipocrisia e o oportunismo. E mais coragem se exige quando esses combates podem trazer consequências desagradáveis do ponto de vista político ou profissional. Daí que, em regra, quando seja preciso agir  a maioria prefira ficar quietinha à espera que alguém se chegue à frente ou então aguarda "que a crise passe". Se há gente com responsabilidades políticas que dentro do PS se sente melindrada com a decisão de José Sócrates e vem dizer que discorda da decisão de proibição das duplas candidaturas por entender que as "regras do jogo" foram mudadas a meio, então está a confundir o interesse do partido e da democracia com os seus próprios interesses. Se a admissão das candidaturas  de Elisa Ferreira e de Ana Gomes ao Parlamento Europeu e às câmaras do Porto e de Sintra já se revelou um erro crasso, por que motivo haveria o PS de insistir na asneira em vez de corrigi-la? As tomadas de posição de alguns dirigentes que não se importaram de arriscar os seus lugares em candidaturas autárquicas - Fonseca Ferreira, David Martins ou Jovita Ladeira, para só referir alguns - merece o meu aplauso. Na nossa democracia, consolidada com demasiados vícios, muita coisa precisa de mudar. Formar novas mentalidades vai ainda levar muito tempo, mas era preciso começar por algum lado. Mesmo tardiamente. Nesta matéria, como em todas as outras que digam respeito à ética e à seriedade política, o exemplo tem de vir de cima e de dentro da nossa própria casa. Não pode haver melindres quando está em causa a credibilização da democracia. Uma carreira política tem de ser um serviço à comunidade. Não pode ser um Euromilhões.

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