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Delito de Opinião

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Leonor Barros, 27.06.09
O primeiro ensinamento que tirei quando cheguei a Paraty foi que não se deve beber água de coco quando se vai fazer uma viagem longa de carro, com poucos sítios para parar à beira da estrada excepto o mato brasileiro frondoso e tropical Pelo meio da manhã de um dia quente e luminoso apareceu o transfer, à porta do hotel, em Ipanema. Um táxi apenas, sem mais turistas, e a recepção calorosa do taxista, Sérgio de seu nome, simultaneamente guia durante o caminho longo entre o Rio e Paraty. Não tivesse eu bebido um dos néctares mais simples mas mais saborosos que conheço também pelo ritual em si e a simplicidade do fruto catado pela cabeça e a singela palhinha, teria achado o caminho bem menos longo. Uma vez chegada a Paraty, só tinha algo em mente, sempre o mesmo, acompanhado do grilo falante Nunca mas nunca mais te lembres de beber água de coco e assim que entrei na Pousada rompi de imediato com uma das regras do sítio: não usar sapatos durante a estadia no local. E depois de arrumadas as malas e instalada bem lá no último piso do sobrado com um terraço de chão de madeira e uma rede amarela tão convidativos que lá ofereci o corpo beijado pelo sol à descontracção, arrumei os meus dias no Rio e me abandonei ao reencontro com as minhas origens, o deve e haver da matriz miscigenada, foi pôr pé nas ruas de paralelepípedo e adentrar uma das vilas mais acolhedoras que conheço. A vegetação exuberante e as montanhas em pano de fundo, o casario bem cuidado, os sobrados e a calçada, a praça de dia mais tranquila e de noite animada pelos artesãos, uma caipirinha com a cachaça certa e, acima de tudo, a mistura alquímica de que são feitos todos os lugares mágicos que nos preenchem a alma: algo indizível, dificilmente descritível, algures entre a plenitude e a nostalgia que transportamos como uma tatuagem na alma. Um passeio de escuna para me banhar nas águas mais tépidas e prazeirosas que conheci no Brasil e para sempre o ar quente e húmido, exactamente como eu gosto, o calor displicente que embala os corpos e amacia a alma e depois mais uma volta no mato para o banho indispensável de cachoeira, há sempre uma cachoeira à nossa espera no Brasil, e depois voltar e guardar bem perto do coração aquele pedaço de Brasil mesclado com Portugal e sentir esta vontade de perdidamente voltar.
 
Embora este texto já tenha sido publicado aqui, a vontade de voltar regressa em força agora que se aproxima a FLIP.

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