Acordar um dia
Ana Vidal, 30.05.13
Em algum momento hão-de juntar-se os doidos e votar moções de nuvem, eleger pássaros, escolher as leis do acaso, formar governos de um dia e presidentes de um salto. Hão-de os bancos comprar cantos e assobios, as pastas negras transportar berlindes e piões, as gravatas atadas em cordas de saltar e os decretos transformados em aviões de papel. E Europa há-de ser outra coisa, que rebentemos todos se não for outra coisa.
Belíssimo e contundente, este texto de Nuno Camarneiro sobre uma Europa que é cada vez mais uma espécie de museu do mundo, cheia de preciosidades mortas e pó nas esquinas das salas, à espera de turistas que venham de lugares longínquos para admirá-las depressa e voltar para as suas terras onde se vive uma vida de vivos. A Europa está a morrer, orgulhosamente agarrada aos seus pergaminhos de rainha-mãe e sem perceber que eles hão-de ser a sua mortalha. Mas ainda tenho esperança de um dia poder votar moções de nuvem e eleger pássaros.