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Delito de Opinião

Dos comentários a uma nova teoria do oásis

José António Abreu, 04.09.12

Em Dublinesca, de Enrique Vila-Matas, o editor que serve de personagem principal coloca um comentário agressivo no blogue de um barcelonês que não gostou do livro de Paul Auster que levou consigo numa viagem ao Japão. O editor apenas publicou um livro de Auster e não foi aquele (que nem leu) mas, apreciando Auster (sempre irónico, Vila-Matas não nos informa se o editor também aprecia a obra de Auster), sente-se pessoalmente incomodado. Por isso, ataca o blogger na caixa de comentários. Quando termina de o insultar sente-se mais descansado do que nunca. Ultimamente, anda tão susceptível e com a moral tão em baixo, que considera que, se tivesse deixado passar por alto esta injusta opinião sobre o livro de Auster, teria ficado ainda mais deprimido do que estava. (Da edição da Teorema, com tradução de Jorge Fallorca.) Devíamos lembrar-nos disto, ao ler as caixas de comentários de alguns blogues e, em particular, das edições online dos jornais. E depois devíamos ser magnânimos. Afinal, muitas pessoas nem conhecerão aquilo sobre que escrevem. Como o editor, nunca terão lido Brooklyn Follies, o tal livro de Auster. Mas precisam de desabafar. Se não o fizessem, ficariam ainda mais deprimidas. E convenhamos que já andamos todos demasiado deprimidos. Preparava-me assim para terminar este post com «Estejam à vontade: a caixa de comentários é vossa» quando me lembrei de que os comentadores do Delito são inusitadamente ponderados. Se calhar, ao contrário dos dos outros blogues – vá-se lá saber porquê: será o efeito Rui Rocha? –, não andam deprimidos.

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