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Delito de Opinião

Comissão de Serviço - XXIII

Fernando Sousa, 28.07.12

[Motivos passageiros descontinuaram estas memórias, que agora voltam]

 

MAUSER

 

O 7 de Setembro (1974) foi uma data traumática para Moçambique. Mas para mim também.

Aborrecidos com os acordos de Lusaca, grupos de naturais brancos, incluindo soldados, quiseram travar o processo de independência e instaurar uma solução rodesiana, ocupando instalações importantes, por exemplo as emissoras.

Soares e Machel tinham apertado a mão. Crespo estava a caminho de Lourenço Marques para integrar o Governo de Transição. Para o engenheiro Jardim e outros descontentes o tempo esgotava-se.

Confusão. Revoltosos e grupos da Frelimo desataram as tiros uns nos outros, opositores da independência tomaram de assalto o Rádio Clube de Moçambique. Daniel Roxo, o Diabo Branco, líder das milícias do Niassa, chamou a sua gente

Em Nampula, fazendeiros e familiares cercaram, num anel, o emissor da estação, mulheres e crianças à frente. Tensão ao minuto.

Os quartéis fecharam os portões. A ordem foi que nos armássemos para manter as unidades e neutralizar a revolta.

Foi o que fiz também, claro. O problema é que a arma que me puseram nas mãos, uma velha Mauser, estava emperrada. Que nervos!

Valeu-me – valeu-nos a todos! – um expedito oficial que, mandado reocupar o emissor da RCM, não longe dali, subiu a um poste, cortou a corrente aos microfones e o sonho rodesiano morreu por ali. 

 

(Notinhas de uma guerra engolida)

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