Comissão de Serviço - XXIII
[Motivos passageiros descontinuaram estas memórias, que agora voltam]
MAUSER
O 7 de Setembro (1974) foi uma data traumática para Moçambique. Mas para mim também.
Aborrecidos com os acordos de Lusaca, grupos de naturais brancos, incluindo soldados, quiseram travar o processo de independência e instaurar uma solução rodesiana, ocupando instalações importantes, por exemplo as emissoras.
Soares e Machel tinham apertado a mão. Crespo estava a caminho de Lourenço Marques para integrar o Governo de Transição. Para o engenheiro Jardim e outros descontentes o tempo esgotava-se.
Confusão. Revoltosos e grupos da Frelimo desataram as tiros uns nos outros, opositores da independência tomaram de assalto o Rádio Clube de Moçambique. Daniel Roxo, o Diabo Branco, líder das milícias do Niassa, chamou a sua gente.
Em Nampula, fazendeiros e familiares cercaram, num anel, o emissor da estação, mulheres e crianças à frente. Tensão ao minuto.
Os quartéis fecharam os portões. A ordem foi que nos armássemos para manter as unidades e neutralizar a revolta.
Foi o que fiz também, claro. O problema é que a arma que me puseram nas mãos, uma velha Mauser, estava emperrada. Que nervos!
Valeu-me – valeu-nos a todos! – um expedito oficial que, mandado reocupar o emissor da RCM, não longe dali, subiu a um poste, cortou a corrente aos microfones e o sonho rodesiano morreu por ali.
(Notinhas de uma guerra engolida)