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Delito de Opinião

A imagem que mil palavras não apagam.

Luís Menezes Leitão, 23.03.12

 

É curioso que a língua inglesa utilize para designar a fotografia a expressão "snapshot", que nos dá a sensação simultânea de um tiro e de uma captura. Porque de facto quem tirou esta fotografia deu um tiro certeiro na imagem de Portugal em todo o mundo. Bem pode o Governo protestar que nada tem a ver com a Grécia, que a greve geral não conseguiu os objectivos visados, e que o povo apoia na sua esmagadora maioria o programa de ajustamento. Toda esta argumentação, por muito certa que esteja, se evapora perante uma imagem com esta brutalidade. O que aqui se vê é uma mulher indefesa, além do mais jornalista, a ser barbaramente agredida sem qualquer necessidade. E embora a imagem represente apenas um segundo de um dia que teve vinte e quatro horas, é esse instante que vai perdurar na memória desse dia, estragando completamente a imagem de Portugal no mundo.

 

Parece que a PSP fez um comunicado em que, para além das habituais "averiguações" pede aos jornalistas que estejam correctamente identificados e se coloquem devidamente no terreno. E que tal propor também aos agentes um curso sobre direitos humanos? É que mais uma meia dúzia de imagens destas e bem podem os nossos governantes andar pelo mundo todo a dizer que Portugal não é a Grécia. Provavelmente responder-lhe-ão: pois não, é o Chile de Pinochet.

3 comentários

  • Acho que está enganada. Pelo que conheço da América, vejo que a polícia, embora às vezes cometa excessos, tem um profissionalismo muito superior. Não é normal os agentes atacarem jornalistas dessa maneira, uma vez que estão treinados para distinguir os agitadores dos simples espectadores.
    O que a imagem demonstra é uma violência despropositada de bater por bater em quem quer que esteja no caminho. Isso já não é segurança, é intimidação, que é típica das ditaduras, de que o Chile de Pinochet é um bom exemplo.
  • Sem imagem de perfil

    IsabelPS 25.03.2012

    Mmmm... Constato que se justifica plenamente a sensação de "cotovelo espetado nas costas" ;-)

    Nem de propósito, a mais recente demonstração do profissionalismo superior da polícia americana tal como relatado na nossa imprensa:

    http://www.publico.pt/Mundo/somos-todos-trayvon-martin-1539244

    Tenho seguido muito menos ultimamente o que se passa do lado de lá do Atlântico, depois de uns 7 anos em que tinha em casa um "running commentary" da política americana (que começava, aliás, pela afirmação desgostosa de que não está escrito em parte nenhuma que os Estados Unidos são uma democracia, limita-se a ser uma república). Mas vi qualquer coisa pelo rabo do olho sobre a actuação da polícia sobre manifestantes/ocupantes em Oakland, por exemplo.

    Mas o mais simples é pedir a uma amiga internáutica de 75 anos que é um autêntico observatório dos direitos civis e constitucionais que me mande 10 exemplos recentes de intimidação por parte da(s) polícia(s) americana(s). Mando-lhe a fotografia do polícia português e digo-lhe: há quem pense que isto é típico das ditaduras, de que o Chile de Pinochet é um bom exemplo, e que não pode passar-se na América, cuja polícia tem um profissionalismo muito superior. Depois ponho aqui o que ela me enviar.

    Sabe, foi precisamente um americano que disse que a eterna vigilância é o preço da liberdade. Não vamos lá enquanto pensarmos que há democracias em que a polícia não abusa do poder porque isso é típico das ditaduras e que, por conseguinte, cada vez que isso se passa em Portugal estamos no caminho da ditadura e não no caminho normal da nossa democracia imperfeita em que, qual Rainha Vermelha, temos de correr sempre, sempre para não sairmos do mesmo sítio.

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