O jornalismo que não se surpreende
Já escutei hoje mais de dez vezes a frase "sem surpresas" referente à distribuição dos Óscares. Se não há surpresa, não há notícia. Mas houve notícia. O cineasta galardoado com a estatueta de melhor realizador é francês (quantas vezes isso já sucedeu na história da Academia de Hollywood, ó jornalistas nada surpreendidos?). A película vencedora, O Artista, é uma produção franco-belga (lembram-se da última vez em que isto sucedeu ou se alguma vez ocorreu nestas oito décadas de distribuição dos Óscares, caros amigos?). O actor que recebeu o prémio para o melhor desempenho masculino, Jean Dujardin, é também francês (digam-me, por favor, qual foi o actor fancês que antes dele levou um Óscar para casa). E Christopher Plummer, veterano de longas-metragens que há muito fazem parte do imaginário universal, como Música no Coração, foi o mais velho actor de sempre a conquistar uma estatueta, neste caso destinada a premiar o melhor desempenho secundário: triunfou aos 82 anos numa indústria rendida ao culto da juventude.
Limitei-me a anotar algumas novidades em poucos minutos, ao correr da pena. Outras houve que poderia igualmente sublinhar aqui -- do Óscar de melhor argumento original para Woody Allen por um filme de produção europeia até ao cineasta iraniano distinguido com o prémio para melhor filme de fala não-inglesa.
Mas reconheço que é muito mais fácil iniciar notícias com o chavão "não houve novidades". Marca de um certo jornalismo preguiçoso que permanece instalado entre nós.
Imagem: Jean Dujardin e Bérénice Bejo numa cena d' O Artista