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Delito de Opinião

Meia-desfeita à portuguesa

Rui Rocha, 09.01.12

 

Almoçámos em Amares. O restaurante é um velho conhecido. Sem pretensões e com preço a condizer. Durante um par de anos, foram-nos apetecendo outras baixelas. Agora, que temos um futuro glorioso perdido algures no passado, impõe-se o regresso a porto seguro. Pronto, porra. A uma conta que não se aproxime dos três dígitos. Estivéssemos em 2009 e as duas salas apresentar-se-iam, num Domingo, a rebentar pelas costuras. Reencontramo-lo com uma delas fechada e a outra meia-cheia. Isto digo eu. Cliente exigente, ambiciono o mínimo preço, a máxima qualidade e o proporcional recato. Mas, se por um momento abandonasse o estreito caminho dos egoísticos interesses e, por humana empatia, me colocasse na posição do prestável proprietário, logo concluiría, vendo tal e qual como vêem os seus olhos que a terra há de comer, que a dita estava meia-vazia. Sente-se então connosco, leitor, como se lá estivesse estado. E partilhe a nossa refeição. Pegue num rojãozinho de entrada, vá. Mas, proteja-se do pingo de gordura. Se vir que tal, previna-se com um guardanapo de pano entalado entre o pescoço e o colarinho. Vá saboreando, enquanto ouvimos involuntariamente a conversa do amável estalajadeiro  com os comensais da mesa ao lado. Que noutros tempos é que era. Que teve até de construir um estacionamento descomunal para poder aparcar os autocarros. E tantos eram. E traziam fregueses aqui conduzidos pelas juntas de freguesia. Com refeiçõezinhas pagas em cheque visado pelos nossos impostos. E assinado pelo Sr. Presidente da Junta, assim chamado porque, entre outras coisas, ali juntava muita gente. Dias com facturação de mais de 40.000 euros e o diabo a sete. Com as suas chatices, é certo. Como foi o caso de uma dolorosa pranchada do fisco. Que se soubesse o que sabe hoje em lugar de desviar tanto, muito mais teria desviado. Pois se a pranchada veio na mesma... Que agora há que aguentar. Que bom ano e muitas propriedades. Que igualmente e coisas assim. Permita-me, leitor, agora que as despedidas ali ao lado já se fazem, que o traga de volta à nossa mesa. Não terá reparado, mas entretanto chegou o bacalhau. Neste caso, à Braga. Sendo que ali ao lado, como pôde constatar, se serviu outro prato típico. A meia-desfeita. À portuguesa. Agora, todavia, esqueça-se disso. Concentre-se no que temos na travessa. Não vá engasgar-se com alguma espinha ou calhar-lhe a parte da badana.

4 comentários

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    Rui Rocha 09.01.2012

    É engraçado falares no Inácio. É de facto uma casa de referência em Braga. Ia lá com os meus pais (e aos outros que foram surgindo no Campo das Hortas) no final da década de 70. Depois, em certo jantar, tivemos o azar de apanhar o empregado Sr. Albino (falo dele porque já não deve andar por cá), com uma ramada (de verde, claro) de caixão à cova. Por isso, há mais de 30 anos que lá não vou. Esse que referes em Caldelas, não há como discordar. Em Braga, recomendo o Em Cima da Mesa (ah, o pernil...), recente, ao cimo da Rua de S. Domingos. E o D. Júlia, na Falperra (lá virá alguém dizer que pertence a Guimarães), também tem andado consistente e é muito agradável no Verão. Em Amares, o Amarense também andava recomendável (não é aquele a que me refiro no texto) e não sei como está o Tapada. Enfim, mesmo sem Papo d' Anjo, não faltam opções. O problema é mesmo o orçamento.
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    Laura Ramos 09.01.2012

    No D. Júlia já ouvi falar. Mas 20 kms a oeste também tens o Maria da Pedra Furada, em Barcelos. Mas, desde que não me obriguem a beber vinho verde, até no Viana se come bem. Haja o que não há: muito tremoço...
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    Rui Rocha 09.01.2012

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