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Delito de Opinião

A terrível redução dos salários no sector privado

Rui Rocha, 17.11.11

O dia amanheceu com um novo foco de intensidade dramática. Diz-se que a Troika quer impor a redução dos salários do sector privado. Por esta hora, os jornais, as rádios e as televisões já entrevistaram milhões de especialistas. O dono do café onde tomei um galão e meia torrada apresentou-se hoje aos clientes de barba feita e roupa lavada. Confidenciou-me que existem boas razões para acreditar que também ele será ouvido ainda hoje sobre este tema. Afinal de contas, já não falta ouvir mais ninguém. Todavia, convém reflectir um pouco antes de arrancarmos os poucos cabelos que nos restam. Desde logo, quem ler o relatório de acompanhamento publicado e ouvir as intervenções dos elementos da Troika com atenção, poderá chegar à conclusão de que não se trata de uma imposição, mas de uma previsão. Face à retracção do consumo e à redução dos salários da função pública, nada mais natural do que um reajustamento mecânico dos salários no sector privado, sobretudo nos sectores que dependem do mercado interno. A estrutura remuneratória da generalidade das empresas privadas já integra hoje uma parte variável indexada aos resultados. Se a empresa ganhar menos, os trabalhadores levam menos para casa. Se a empresa perder, os trabalhadores vão para casa. Depois, mesmo que se venha a concluir que a imposição virá, com a indispensável alteração legislativa, convém não esquecer alguns pontos. A essa redução nominal seguir-se-ão ajustamentos de diversa natureza. As empresas saudáveis não deixarão de compensar os seus trabalhadores (os que merecerem) com outras remunerações complementares. As que enfrentarem dificuldades verão na medida um balão de oxigénio. Se ficarem por aí e não se reinventarem, acabarão por fechar apenas um pouco mais tarde. Ou seja, no sector privado, a vida continuará como antes. Com sucessos, fracassos, injustiças, entradas, saídas, prémios, promoções, mais ou menos remuneração em função dos resultados individuais e das vitórias ou derrotas das empresas, despedimentos colectivos, falências, salários em atraso ou desemprego. Trata-se de ganhar, perder e voltar a tentar. Por isso, que não doa a cabeça a todos quantos estão muito preocupados com as possíveis dentadas da Troika na carne dos trabalhadores do sector privado. Estes já vivem há muito tempo no espaço e no tempo da realidade. Como diria o outro, é a vidinha.

2 comentários

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    Rui Rocha 17.11.2011

    Não tenho a certeza de que tenha passado nos termos em que foi divulgado, Mke.
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