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Delito de Opinião

Up yours!

Teresa Ribeiro, 06.11.11

A Ordem dos Médicos ameaça boicotar os genéricos. A patroa da saúde em Portugal, que até hoje nenhum governo conseguiu dobrar, diz que está nesta guerra em defesa dos interesses dos doentes. Muito preocupados com a nossa saúde, os senhores da OM recusam a prescrição  dos medicamentos que dizem ser menos fiáveis. A indústria farmacêutica, que amiúde lhes proporciona salutares convívios em locais exóticos, também concorda que, para nosso bem, o melhor é continuarmos a consumir os medicamentos de marca.

Não fossem outros médicos, como os do Sindicato Independente dos Médicos, dizerem que a prescrição por substância activa "é essencialmente segura e serve os melhores interesses dos doentes e sociedade", e eu saber que em países ricos e civilizados como a Inglaterra e a Alemanha se aplicam políticas que favorecem o mercado de genéricos, eu ainda pensava duas vezes. Assim, parece-me que o que está mesmo a fazer falta a esta discussão é o debate sobre a necessidade de se produzir um novo medicamento para a prepotência e impudicícia, a aplicar no único sítio que me ocorre. Sim, falo de supositórios.

2 comentários

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    Miguel 07.11.2011

    Caro S, vejo o seu texto e compreendo a lógica do mesmo, no entanto existem algumas falácias que comprometem toda a conclusão a que chega.

    O problema aqui está no sistema de genéricos instituído em Portugal, e na forma como o Infarmed disponibiliza AIMs e como os preços são feitos.

    Provavelmente é médico, ou então um farmacêutico teve alguma relação intima com a sua esposa/filha, porque vejo ai uma clara tentativa de colocar o ónus desta medida no lado das farmácias, o que não pode estar mais longe da realidade, e passo a explicar:

    1º O mercado do genéricos tem estado, em grande parte e especialmente no interior, "escolhido" pelos médicos que ganham compensações em vários formatos, muitas vezes monetários, sem que disso paguem ao estado qualquer imposto. Ou seja, de modo completamente ilegal e imoral já vi médicos a prescrever princípios activos que inclusive uma marcas nem tem no seu portefólio. Enfim, é a protecção do doente no seu expoente máximo...

    2º As farmácias, como agente final do circuito do medicamento, detêm a escolha dos produtos que decidem ter em stock e decidem ceder aos seus utentes. A partir do momento que o INFARMED (autoridade máxima do medicamento) considera um medicamento apto para cedência no mercado, este é tão válido quanto qualquer outro, e não vamos levantar hipocrisias nisto, é um facto cientifico.

    3º Os critérios de escolha de um determinado genérico em detrimento de outro são, antes de mais, e isto processa-se como em qualquer outra empresa, critérios de valor comercial, nomeadamente um valor em linha com o mercado e rastreabilidade e garantia de qualidade.

    4º Existem excelentes médicos em Portugal, e farmacêuticos que apenas pensam em lucros. Assim como a situação completamente inversa. A natureza humana leva a que isto aconteça. Mas os argumentos dos médicos são completamente inválidos, sabendo que queixam-se muito da suposta incapacidade dos genéricos vs medicamentos de marca vs outros genéricos, mas raramente apresentam essas supostas falhas ao Infarmed. Entre as 3 classes que apresentam falhas nos medicamentos (médicos, farmacêuticos e enfermeiros), os médicos são o que menos o fazem.

    5º Eu, como gestor e farmacêutico, preferia que existissem poucas ou apenas uma linha de genéricos no pais, com poucos laboratórios por molécula. Mesmo perdendo margem comercial. Iria ser mais fácil para o utente, para que os médicos não fizessem estas parvoíces, e em ultima análise, melhor para os gastos do estado.

    Assim, é fácil de compreender que a grande falha é no modo como os genéricos estão implementados em Portugal. Permite ser uma classe que devia estar alheia a esta escolha (os médicos) escolher em detrimento de factores pouco transparentes e sem bases cientificas.

    O ideal seria o INFARMED escolher outra forma de acção, que nivelasse os preços (em algumas moléculas existem disparidades de preços ridículas, tipo 40-4€), que diminuísse o numero de apresentações, e apresentar uma forma credível e cientifica para os médicos responsáveis apresentarem as suas excepções justificadas para casos particulares. Felizmente muitos profissionais de saúde em Portugal são excelentes, e acredito que a médio prazo isto vá acontecer. Mas enquanto tiverem bastonários a defender o indefensável, só vão aldrabar e confundir os mais de 99% da população que não percebe nem tem que perceber a dinâmica do mercado do medicamento.
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