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Delito de Opinião

A tragicomédia grega em 5 passos e algumas conclusões

Rui Rocha, 03.11.11

Os passos:

- 27 de Outubro de 2011: "Este é um novo dia para a Grécia" (George Papandreou, a propósito do novo plano de resgate para a Grécia).

- 31 de Outubro: "Decidi convocar um referendo sobre o plano de resgate" (George Papandreou).

- 2 de Novembro: "Jogada política genial de Papandreou" (Manuel Maria Carrilho).

- 2 de Novembro: "A Grécia cumpre ou sai. Fica suspensa a transferência de fundos prevista no plano de resgate." (Merkel & Sarkozy).

- 3 de Novembro: "O referendo nunca foi um fim em si mesmo" (George Papandreou).

 

As conclusões:

a) Nunca esteve em causa a devolução da soberania ao povo. O referendo foi usado por Papandreou como arma política de recurso face à fragilidade da sua própria situação pessoal. A consulta do povo foi um joguete arremessado de forma oportunística.

b) A Grécia sai ainda mais enfraquecida de um braço de ferro suicida e extemporâneo. O bluff não pegou.

c) A opção política de Atenas continua a ser a submissão à Troika e à agenda do resgate, com toda a perda de soberania que esta implica, eventualmente agravada por uma maior desconfiança dos parceiros europeus perante os factos dos últimos dias. A alternativa seria ainda mais dolorosa.

d) A situação política da Grécia permanece extremamente confusa e periclitante, perante um Primeiro-Ministro fragilizado, uma oposição comprometida com os erros do passado e a necessidade de clarificação da solução que se seguirá: governo de salvação nacional ou, mais provável,  governo transitório, eventualmente com novo Primeiro-Ministro, com mandato estrito de aprovação dos termos do plano de resgate e convocação de novas eleições.

e) O Ministro das Finanças Venizelos assume preponderância política. A sua posição contrária ao referendo prevaleceu. Papandreou é o grande derrotado.

e) A trapalhada política provocada por Papandreou e os avanços e recuos relativamente à questão do referendo representam um combustível adicional derramado sobre o barril de pólvora político e social da Grécia. A rua terá dificuldade em aceitar que lhe retirem um referendo que foi prometido como forma de devolver a soberania ao povo.

f) A Grécia sobreviverá na Zona Euro, eventualmente, por mais um tempo, até se consumar a sua derrocada. A crise aberta por Papandreou obrigou os líderes europeus a considerarem essa hipótese como real. É possível que, devidamente ponderada, não lhes tenha parecido tão má como isso.

2 comentários

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    Rui Rocha 03.11.2011

    Sos, penso que a Grécia é um assunto encerrado para a Alemanha e para a França. Por esta altura, tanto se lhes dá que fique ou que saia. A grande (enorme) preocupação da Zona Euro / UE é a Itália. Se amanhã tiver tempo e não houver outros focos de actualidade, hei-de escrever sobre o assunto.
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