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Delito de Opinião

Correspondência de Natal

Teresa Ribeiro, 01.11.11

 

A Cartier escreveu-me. Mandou-me num encarte de luxo, com o retrato de uma mulher tão linda como eu gostava de ser, um baiser volé. Diz que é "um perfume de paixão, com uma esteira desconcertante". A mim o que me desconcertou foi o contraste entre o que gastaram no mailing e a forretice na oferta do produto. Não dá sequer para experimentar na pele. Reduz-se a uma lágrima cativa no cartão por um adesivo. É como se a Cartier me dissesse: "Querida, se a sua ideia é só aproveitar uma borla, esqueça".

Em legenda, a marca esclarece que Baiser Volé se trata da "expressão original de uma flor majestosa e inalcançável, o lírio". O lírio? Logo a flor bíblica que simboliza a simplicidade?

Na hora de produzir estas vacuidades, os publicitários, não duvido, sofrem muito à procura de palavras. Para tocar nas cordas frívolas das potenciais consumidoras da nova fragrância da Cartier, eles acrescentam que o lírio em causa "é extraordinário", porque "fresco, floral e empoado", ou seja, indicado para quem queira parecer extraordinariamente fresca, floral e empoada. Os termos quase se contradizem. Os oxímoros são um lugar comum neste género de textos, que se destinam a vender coisas praticamente impossíveis.

Não tenho dúvidas, o Baiser Volé vai vender-se neste Natal. As mulheres adoram coisas praticamente impossíveis, aliás é isso que explica o sucesso da indústria cosmética. Quanto a mim, passo. É que ando sem t€mpo para isto.

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