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Delito de Opinião

Michael Moore, o homem que doou mil perus

Rui Rocha, 29.10.11

 

O mundo organiza-se a partir do princípio da simplicidade. E os instrumentos que permitem concretizar a simplicidade são uma classificação bipolar e um lápis. O lápis serve-nos para desenhar um risco. A classificação  bipolar serve para situar a realidade face ao risco que desenhámos. Bom e mau, esquerda e direita, branco e negro, norte e sul, pobre e rico e tantos outros pares que nos são úteis na nossa relação com o mundo. Ora, o movimento Ocuppy Wall Street utiliza também este método de abordagem. O lápis do OWS desenhou a fronteira: 99% de um lado, 1% do outro. Simples, não é? É. Depois, é só distribuir os americanos pelo lado do risco que lhe corresponde. Simples, não é? É. E assim se fez. Michael Moore, o conhecido documentarista, colocou-se, naturalmente, do lado bom do risco. O dos 99%. Simples, não é? É. Pois, e participou nas manifestações e tudo. Então a história acaba aqui. Grato pela V/ atenção. Aum... o quê? O Michael Moore tem rendimentos e património que o colocam do lado do risco que corresponde ao grupo do 1%? A sério? Ah, negou que assim fosse. Então está tudo bem. Aum... o quê? Ah, acabou por admitir. Pois, pois, pois. E os seus rendimentos colocam-no no grupo restrito dos 10% mais ricos dentro da malta do 1%? Bem, bem, bem. Ah, mas já fez um post a explicar tudo que até já foi traduzido no Esquerda.net? Então, tudo está bem quando acaba bem, não? Ufa! Óptimo. Já agora, vamos só ver o que ele diz. Ah! Vendeu à Warner Bros. os direitos de distribuição de um filme por 3 milhões de dólares. Boa camarada. E o que fez com o dinheiro? Muito bem. Pagou impostos, pagou dívidas, criou uma fundação, deu algumas prendas a familiares e amigos, fez ofertas meritórias, comprou uma moto e um apartamento em Manhattan... Espera, isto parece uma fábula do capitalismo, caramba, cruzes credo. Não? Ah, pois. Também doou mil perus no dia de Acção de Graças. Pronto, assim já fica tudo muito mais claro. Jamais um capitalista faria uma doação de mil perus. E, embora o post de Michael Moore não esclareça, é certinho que, a partir daí, fez exactamente o mesmo sempre que recebeu dinheiro pelos seus direitos de autor (que são, como se sabe, uma genial invenção socialista). Claro, claro, claro. Pois, enfim, não sei camaradas. Mas, confesso que, apesar de tudo, estava muito mais entusiasmado quando comecei a escrever o post. Parecia-me tudo tão simples. Mesmo com a coisa dos mil perus, confesso que isto já não me parece tão claro como fazer um risco no chão e colocar as pessoas de um lado ou do outro. Bom, mesmo bom, era que o Michael Moore fosse realmente pobre. Ou, quando muito, remediado.

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