Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Até breve!

Ana Vidal, 18.10.11

De partida para o Brasil, onde vou para lançar este livro:

 

 

É este o programa das festas:

 

26 Outubro - Lançamento no Rio de Janeiro (cocktail no Jardim Botânico)

27 Outubro - Lançamento em S. Paulo (Câmara de Comércio, jantar de homenagem ao presidente português)

29 Outubro - Lançamento em S. Paulo (Casa Guilherme de Almeida, tertúlia literária)

 

Volto no princípio de Novembro. Até lá, sempre que puder prometo ir mandando notícias.

Deixo-vos alguns excertos do meu texto de introdução, que explicam sumariamente o livro.

 


Há muito tempo que versos e petiscos se cozinhavam na minha mente, em lume brando, como convém a uma receita que se quer apurada, insinuando no meu espírito aromas irresistíveis de cozinha de infância. Nasci numa família em que a gastronomia foi sempre – ao longo de gerações – um culto e um prazer, com honras de biblioteca e pesando, até, na escolha de itinerários de viagem. E o que pode haver de mais poético do que as memórias de um tempo em que tudo era assim, brando e promissor, sem pressas nem atropelos, apesar da sede imensa de uma vida inteira pela frente, por beber ainda?

 

Enquanto tudo se espera, tudo pode acontecer…

 

A ideia de reunir num mesmo livro duas das minhas paixões – a poesia e a gastronomia (na sua vertente culinária) – foi tomando forma naturalmente, deixando-me água na boca e na imaginação. Impunha-se encontrar uma fórmula original, que glorificasse igualmente as duas artes e as casasse harmoniosamente, prevenindo o risco de divórcio. Ambas são de personalidade forte e muita sensibilidade: nubentes difíceis, portanto. Mas possíveis, porque iluminadas pela mesma chama. Agostinho da Silva afirma-o, como ninguém, num dos seus pequenos e magníficos poemas:

 

A quem faz pão ou poema

só se muda o jeito à mão

e não o tema.

 

(...)  Inspirei-me ainda na ancestralidade desse misterioso, complexo e tantas vezes incompreendido universo feminino, a que naturalmente pertenço, expresso com golpe de asa e mestria neste verso de Ana Luísa Amaral:

 

E descascar ervilhas ao ritmo de um verso:

A prosódia da mão, a ervilha dançando

em redondilha.

 

Enfim, descoberta a fórmula – uma antologia de poesia lusófona, em que cada texto contivesse pelo menos uma referência culinária e esta pudesse dar origem a uma receita, lancei-me à saborosa tarefa da pesquisa de poemas. Encontrei, naturalmente, muitos mais do que os que constam neste livro, mas seria impossível apresentar aqui essa recolha exaustiva. A escolha dos poetas presentes nesta antologia não cedeu a quaisquer critérios ideológicos (políticos, religiosos ou outros). O único denominador comum que aqui se poderá deparar, além do tema, é a PALAVRA – e, por maioria de razão, a palavra poética – livre por natureza. Privilegiou-se, isso sim, uma representação tão abrangente quanto possível, no tempo, no espaço geográfico e no estilo. Por isso se encontrarão clássicos e desconhecidos, dispostos nestas páginas de forma propositadamente aleatória.

 

A qualidade dos poetas e dos poemas exigia igual rigor na escolha das receitas culinárias, razão pela qual elas foram entregues a alguns dos maiores magos da actual cozinha lusófona. Com as asas próprias dos artistas – e eles são-no, de pleno direito – inspiraram-se nos poemas que receberam como desafio, deixando-se contagiar pelo espírito e ambiente das palavras, e, acrescentando-lhes rasgo e técnica, enriqueceram este livro com as suas extraordinárias criações.

 

Finalmente, os artistas plásticos que, com as suas obras de arte, adicionaram forma e cor a esta aventura sensorial e assim a engrandeceram excepcionalmente. O universo de selecção foi o mesmo que para poetas e cozinheiros: os países de língua portuguesa como nacionalidade dos artistas. Dos clássicos e tradicionais bodégons à expressão livre do abstraccionismo contemporâneo, da pintura à escultura, passando pela cerâmica, estas obras são o perfeito contraponto para poemas e receitas.

 

(...) Quanto ao título, surgiu-me com a maior das naturalidades: a proclamação apaixonada de Natália Correia, na sua “Defesa do Poeta”, não poderia ser mais apropriada e consentânea com o espírito deste livro. Faço minhas as suas palavras: a poesia é para comer, sim. É alimento vital, calórico e energético, que nos deixa lambuzados os dedos da alma, e a chorar por mais. É um alimento tão precioso e essencial como o que damos ao corpo. E, tal como esse, igualmente perigoso: se mal usado, pode matar-nos de fartura enquanto nos promete a vida eterna.                         

28 comentários

Comentar post