Estrelas de cinema (2)
MORANGOS SEM AÇÚCAR
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É uma das mais interessantes películas que chegaram já este ano a Portugal. Passou praticamente despercebida na estreia em Lisboa devido às actuais contingências da distribuição. Mas felizmente consegui vê-la numa cidade de província, onde o cineclubismo permanece vivo. Refiro-me ao filme A Onda, de Dennis Gansel – uma singular incursão numa turma do ensino secundário que funciona como retrato exemplar da sociedade alemã actual. Tudo se passa nas aulas de Autocracia, em que o professor – muito mais vocacionado, de início, para leccionar Anarquia, uma disciplina alternativa – opera uma verdadeira revolução pedagógica na sala, acabando por se tornar vítima do seu próprio sucesso. Numa cena crucial, que serve de chave a todo o filme, o professor Rainer Wenger pergunta aos estudantes que o ouviam, ainda entediados: “Acham que seria possível a repetição de uma ditadura na Alemanha?” A resposta surge em coro: negativa. Mas o rodar dos dias – e das aulas – demonstra como esta percepção é profundamente errada: muitos de nós, a qualquer momento, ficamos disponíveis para aplaudir um projecto ditatorial, seja de direita ou de esquerda. Ninguém está imune ao ovo da serpente.