Tarde piaste.
A Europa, que negou à Turquia a entrada na União (eram pretos, eram árabes, cheiravam mal), que negociou cordões de segurança com a Líbia para conter a imigração ilegal (eram pobres, eram porcos, falavam alto) manifesta agora a sua comoção perante um povo que se levanta pela liberdade e pela justiça, nas palavras meigas de Rompuy.
De um dia para o outro fechamos a tenda, espantamos os camelos e mandamos o líder carismático para a puta que o pariu. A festa estava boa mas há um povo que se levanta, Muamá. E quando um povo se levanta, a Câncio desperta de seis anos de anestesia realista e já não há nada a fazer. Quando um povo se levanta limpamos o pó aos valores e a senhora Muznik discorre sobre os riscos do fundamentalismo islâmico. Quando um povo se levanta a nossa direita liberal-salazarista incha de virtudes democráticas e recorda Chávez, Fidel Castro e Erdoğan mas esquece, porque estão tão longe, Berlusconi ou Sarkozy.
Ah, isto vai soar lindamente nas ruas do Cairo e nos arrabaldes de Tripoli. A Europa dos direitos, a Europa dos princípios, a Europa que lhes cerrou as fronteiras, que lhes mimou os vergudos, que os fodeu com punhos de renda enquanto estavam prostrados agora levanta-se para os aconselhar.
Ajuda-te a ti próprio e todos te ajudarão, escrevia Nietzsche. Vai aprendendo, Abdul.