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Delito de Opinião

Gestão a martelo

João Carvalho, 21.09.10

A despesa do Estado não só subiu, em relação ao ano passado, como acho curioso verificar que essa subida se verifica em 12 dos 16 ministérios. Mais curioso ainda é que, entre eles, tenha subido no Ministério da Economia, apesar de ter poupado com a extinção do plano anti-crise nacional (?), e no Ministério da Agricultura, que apresenta o aumento impensável de um-terço das suas despesas em 2009.

Nesta realidade assustadora em que a abertura dos cordões à bolsa da Segurança Social já não serve de pretexto, o primeiro-ministro diz que a subida corresponde ao que estava previsto e que está tudo controlado. O que não impediu que viesse um secretário de Estado do ministro das Finanças declarar que não há qualquer alarme e que o governo vai continuar a diminuir a despesa do Estado, numa referência a qualquer coisa que deve ter sonhado de noite. Nem vale a pena pedir explicações. De explicações precisam os decisores que nos arrastam à força para este pesadelo.

Pelo meio, têm aparecido vários gurus em macro-economia e finanças a garantir que é muito mais importante ter um bom Orçamento de Estado para 2011 do que obter um rápido consenso para a sua aprovação em tempo útil. Não preciso de ser um especialista para entender que, sem Orçamento aprovado a horas, governa-se por duodécimos do anterior, o que significa não haver subida nem descida das despesas do Estado: gasta-se o mesmo, o que é pior que mau. E isto os gurus não dizem.

Com o fantasma do FMI a pairar cada vez mais perto, o que fazer? Como alguém já disse, a receita é simples e conhecida: bastaria que Portugal aplicasse as medidas que estão a funcionar na Grécia sob a batuta do FMI, com a vantagem de podermos fazê-lo sozinhos, por iniciativa própria e sem ingerência externa. Já alguém assistiu ao encerramento de organismos e instituições que parasitam por aí? E qual é o tamanho real do buraco financeiro em que a verdade completa das contas públicas está metida, escondida nas empresas públicas e nas chamadas empresas municipais? E quanto custa ao Estado (e com que proveito) a teia infindável de fundações que o governo esconde?

Pois é: vamos discutir a revisão constitucional enquanto a gestão do país se faz a martelo. Só que as marteladas são perigosas: com estes habilidosos do martelo, depois das jóias pode já nem haver dedos sãos.

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