Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

À deriva

Pedro Correia, 18.09.10

 

"Não sou daqueles que desistem do investimento nem mudo de rumo face à primeira contrariedade", proclamava José Sócrates a 1 de Maio, garantindo aos portugueses que o Governo iria "manter-se firme" na defesa do comboio de alta velocidade. Um ano antes, o primeiro-ministro já sonhava que o TGV teria “um impacto absolutamente extraordinário” na economia e no emprego, que se faria sentir já “em 2009 e 2010”. Afinal, como tem acontecido desde que tomou posse, Sócrates voltou a faltar à verdade, comprovando que vive num país de fantasia, totalmente dissociado dos factos: o Governo acaba de anular o concurso público internacional relativo à construção da linha do Transporte de Grande Velocidade no troço Lisboa-Poceirão, adiando assim para as calendas um projecto que chegou a prometer como uma hipótese de saída para a crise. A terceira travessia em Lisboa, antes apresentada como uma das grandes obras do regime, é igualmente metida na gaveta. Isto vem justificado num notável despacho assinado pelos ministros das Finanças e das Obras Públicas, que reconhecem a existência de uma "significativa e progressiva degradação da conjuntura económica e financeira" do País. O Diário da República desmente assim as torrentes de propaganda de um governo cada vez mais à deriva. Tudo isto quando se sabe que a dívida pública portuguesa aumentou num ano de 80% para 87% do PIB, correspondendo a uma média de 2,5 milhões de euros por hora, e os juros que o Estado português tem de pagar atingiram um novo máximo, o que torna quase inevitável a intervenção do Fundo Monetário Internacional. "Há muito que Angela Merkel manda mais que Sócrates na nossa política orçamental", como acaba de escrever no Público Luís Campos e Cunha, que foi o primeiro responsável pelo Ministério das Finanças do actual ciclo político socialista.

No meio deste caos, por bandas do partido do governo há ainda quem encha a boca com a putativa defesa do "estado social". Quem fala verdade é a titular da pasta da Cultura, Gabriela Canavilhas, ao aludir ao "colapso" iminente do mesmíssimo "estado social". A pianista é ela, mas quem insiste em dar-nos música são alguns outros. Sentados a seu lado no Conselho de Ministros.

6 comentários

Comentar post