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Delito de Opinião

O insuperável sectarismo do PCP

Pedro Correia, 30.11.17

Nunca cessarei de me espantar com o sectarismo do PCP, incapaz de reconhecer mérito aos empresários, que considera seus "inimigos de classe", em obediência cega e rígida aos sacrossantos mandamentos leninistas. Mesmo a um empresário como Belmiro de Azevedo, que nunca integrou as famílias do dinheiro antigo nem o capitalismo especulativo e parasitário.

Self made man, oriundo de uma região pobre, Belmiro foi o mais representativo empreendedor privado português em democracia. Desenvolveu um grupo económico que se tornou no maior empregador nacional, apenas superado neste aspecto pelo próprio Estado, garantindo mais de cem mil postos de trabalho num país onde o desemprego é ainda o drama social mais premente. Criou riqueza, exerceu o mecenato (na Casa da Música, por exemplo) e fomentou a cidadania ao fundar em 1989 um jornal de inegável prestígio, o Público, de onde nunca colheu um cêntimo de lucro.

Concordássemos ou não com as ideias do líder histórico da Sonae, agora falecido, a sua memória merece respeito, como ficou assinalado num voto de pesar aprovado pela larga maioria dos deputados na Assembleia da República. Um voto que apenas contou com a oposição declarada dos comunistas: na sua fanática intolerância, o PCP ainda imagina que Portugal ficará melhor sem homens como Belmiro de Azevedo - emblema da iniciativa privada numa sociedade tão carente de investimento produtivo.

Estes serôdios discípulos de Lenine estão redondamente enganados. E cada vez mais acantonados numa ideologia sem sentido. Um mundo sem empresários é fatalmente um mundo sem horizontes. Mais estreito, mais pobre e menos livre.

Belmiro de Azevedo (1938-2017)

Luís Menezes Leitão, 30.11.17

Gostava especialmente de Belmiro de Azevedo. Era um grande empresário, que transformou uma empresa familiar num grande grupo económico, que aguentou contra ventos e marés, fazendo da vida empresarial praticamente um duelo. Curiosamente perdeu as duas maiores batalhas em que se envolveu: a oposição à OPA do BCP sobre o BPA, que perdeu, e a OPA da Sonaecom sobre a PT, que também perdeu. Mas, mesmo quando perdia, estava sempre pronto para a batalha seguinte, já que, como ele dizia, não há derrotas eternas, nem vitórias definitivas.

 

Mas o que gostava mais em Belmiro era o seu estilo truculento e a capacidade de impor os seus pontos de vista. Num país onde se considera que o respeitinho é muito bonito e em que a maior parte das pessoas só diz meias palavras, com receio das consequências, Belmiro dizia e fazia o que pensava, sem constrangimentos de qualquer ordem, sendo absolutamente demolidor quando era necessário. Recordo-me uma vez que o Parlamento o queria ouvir num inquérito, e ele disse que só estaria disponível às oito da manhã, pois tinha que apanhar o avião para o Porto. Pois não é que os deputados, que habitualmente só chegavam às 9h30m, foram abrir propositadamente o Parlamento às oito da manhã, com receio de serem chamados de preguiçosos por aquele homem que fazia do trabalho a sua divisa.

 

Ficou na história o conflito de Belmiro com Marcelo Rebelo de Sousa, quando ele era presidente do PSD, e criticou o facto de a Sonae estar a fazer investimentos no Brasil com apoio do Estado. Belmiro respondeu-lhe à letra, exigindo que tirassem Marcelo da presidência do PSD, e que ele fosse erradicado da sociedade portuguesa. Lembro-me de que o artigo que escreveu na altura terminava assim: "Aqui tem, professor Marcelo Rebelo de Sousa. Por mim, escusamos de ficar por aqui: não me calo nem que Cristo desça à terra. E desengane-se: dito por mim, isto quer dizer realmente isso mesmo". Cristo desceu efectivamente à terra e nem assim Belmiro se calou, só o tendo feito em definitivo ontem. E os poderes do Estado mostraram mais uma vez a sua verdadeira natureza. O Presidente fez uma declaração formal de condolências e, no Parlamento, que em tempos tinha aberto de propósito para o ouvir, houve deputados a abster-se ou mesmo a votar contra um simples voto de pesar. Só que Belmiro de Azevedo era muito superior a esse tipo de posições oficiais e só podemos imaginar o que diria sobre as mesmas. Ontem partiu um grande homem.

O pesar

jpt, 30.11.17

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Um voto de pesar na Assembleia da República pelo falecimento de alguém não é a expressão de condolências pessoais, é um acto político. Como tal é perfeitamente legítimo, ainda que possa (erradamente) parecer antipático, votar contra a expressão política desse pesar. Belmiro de Azevedo foi um grande empresário português, um grande capitalista como antes se dizia, e também foi simbólico desta nossa via económico-social. Assim sendo é perfeitamente normal que o PCP, como adverso a esta via, vote contra a expressão política de um pesar pelo seu desaparecimento. É isto a política e a sua componente ideológica.

 

Agora o que não tem qualquer tipo de pertinência, o que é mesmo incompreensível porque inexplicável, é uma abstenção. Por outras palavras, ou sim ou sopas. E assim sendo este pequeno caso político, a posição da assembleia face à morte do empresário, mostra bem a vacuidade medíocre dos ... abstencionistas.

 

 

De como um prémio pode ser uma forma de assédio moral

Inês Pedrosa, 29.11.17

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Atribuir a Maria Teresa Horta, em 2017, o quarto lugar ex-aequo do Prémio Oceanos, que é o mais importante prémio literário para literatura de língua portuguesa ( à excepção do Prémio Camões, claro - mas esse é um prémio de consagração pela totalidade da obra, e aliás é também escandaloso que Maria Teresa Horta ainda não o tenha recebido) representa uma forma de assédio moral, uma humilhação que a obra da autora de Minha Senhora de Mim e As Luzes de Leonor de forma alguma merece, e a que as regras mínimas da mais elementar educação deviam tê-la poupado. Não achavam Anunciações - a obra em causa neste prémio - digna do Prémio? Não a premiassem, e assumissem essa decisão. Dar-lhe um rebuçadinho para dividir com outro menino é que não é coisa que se faça a uma autora que, desde 1960, quando publicou a colectânea de poemas Espelho Inicial, até hoje, construiu uma obra ímpar, com mais de 40 livros publicados. 

Maria Teresa Horta é uma voz absolutamente singular, original e renovadora na poesia contemporânea de língua portuguesa; isso mesmo tem sido realçado por alguns dos mais notáveis poetas e críticos - como Ana Luísa Amaral, que se estreou na poesia em 1990 com Minha Senhora de Quê, glosando e dialogando com Minha Senhora de Mim (1967).  Escreve sobre o desejo das mulheres pelo corpo dos homens com um desassombro, uma exactidão e uma liberdade que abala todos os preconceitos e incomoda visivelmente muitas e mui solenes eminências pardas. Tem talento e tem leitores, dois pecados que só se admitem a um escritor do sexo feminino se aparecerem separados, com fumos de humildade e contrição, para exorcizar o poder que unidos representam. 

Os prémios podem ajudar a divulgação e a tradução dos livros, é certo, mas, em última análise, são fenómenos temporais e temporários; nenhum conjunto de jurados tem o poder de fazer entrar na posteridade, ou excluir dela, nenhum autor. Tolstoi perdeu o primeiro Prémio Nobel da Literatura, em 1901, para o escritor francês Sully Prudhomme, que ninguém hoje lê nem se sente tentado a publicar. Virginia Woolf, Marguerite Yourcenar, Marguerite Duras e Clarice Lispector nunca o receberam, e continuam a deslumbrar gerações sucessivas de leitores. Para quem se sente permanente e infinitamente grato à obra de Maria Teresa Horta, como é o meu caso, é indiferente que os seus livros cintilantes como relâmpagos sejam ou não reconhecidos por este ou por aquele grupo de inteligências críticas suas contemporâneas; mas que, ao cabo de 57 anos de um trajecto literário de raro pioneirismo e inovação se lhe ofereça um prémio de consolação e a meias com outro escritor, é simplesmente ofensivo.       

Dir-me-ão que o Prémio Oceanos contempla livros e não carreiras. Fraca e frequente desculpa, nesta nossa época de imorais relativismos, em que a literatura se tornou uma passarela de moda onde só brilha - e brevemente - a carne fresca. Mas mesmo assim, pergunto: leram Anunciações? A sério? 

Já li o livro e vi o filme (209)

Pedro Correia, 29.11.17

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  BALADA DA PRAIA DOS CÃES (1982)

Autor: José Cardoso Pires

Realizador: José Fonseca e Costa (1987)

Não é o melhor livro de Cardoso Pires, mas talvez seja a melhor longa-metragem de Fonseca e Costa: um denso policial, baseado em caso verídico, com inesquecível desempenho de Raul Solnado no papel do chefe de brigada Elias Santana, da Judiciária. Se tivesse de optar entre um e outro, elegia o filme.

Convidado: JOÃO BRANCO

Pedro Correia, 29.11.17

 

Análise patológica à falta de cultura desportiva

que grassa pelo nosso país

  

I

Um espectáculo profundamente abjecto, asqueroso e degradante que ultrapassou todos os limites da decência e do bom senso e trespassou a própria lei, tornando-a, como se diz na gíria, um mero verbo de encher. Não posso de modo algum qualificar de outra maneira, com recurso a uma adjectivação mais suave, a luta fratricida a que temos assistido, no campo das palavras, nos últimos anos no futebol português. Se o fizesse, creio que estaria a passar um verdadeiro paninho quente pela irracionalidade instalada no pensamento dos dirigentes, dos jornalistas (?) e dos adeptos (adeptos? consumidores, vá) do futebol do país que é actualmente o detentor do título europeu.

O mais grave disto tudo é precisamente isso: o mau exemplo, a má imagem, o horrível cartão de visita do nosso futebol que temos vindo a oferecer a toda a Europa. Enquanto campeões europeus em título deveríamos estar a viver actualmente a fase de maior apogeu do nosso futebol. Deveríamos ter aproveitado o momento histórico (e a responsabilidade associada que veio certamente pendurada na Taça; se a quiseres manter na vitrine do teu museu daqui a 4 anos, aproveita esta ocasião para proceder à realização de um conjunto de acções, medidas ou programas que possam melhorar o grau de conhecimento sobre o jogo existente no teu país, a formação de treinadores, aumento de qualidade que certamente se irá reflectir na formação de melhores atletas e de mais completos seres humanos; dota os teus clubes de mais condições infraestruturais e superestruturais; usa toda a experiência e conhecimento acumulado para formar melhores dirigentes; porque só assim poderás manter o nível de qualidade e potencial atingido) vivido pela nossa selecção na Gália para realizar uma inversão total ao estado de sítio instalado, estado de sítio que é tão e somente o produto do estado de falência generalizada (financeira, moral, cultural) dos nossos clubes, dos nossos dirigentes, dos nossos consumidores-cidadãos, dos grupos editoriais e até dos próprios jornalistas.

Estou convicto que todos têm a sua quota-parte de culpa neste degenerativo processo em curso que ameaça, a curto prazo, recolocar o nosso futebol no mesmo patamar em que se encontrava há 30 anos se o paradigma vigente não for alterado rapidamente para outro que atribua mais importância ao conhecimento sobre o jogo.

 

II

A direcção pensa e acorda a estratégia no briefing diário. O presidente vira-se para o seu ventríloco de estimação, para um Saraiva qualquer, que pode chamar-se Marques ou Luís Bernardo (se bem que o Luís Bernardo não risca nem escreve absolutamente nada nos discursos de Luís Filipe Vieira; tal serviço é encomendado a uma espécie de ghost-writer chamado António Galamba; ó Luís, este é o meu melhor ângulo?) e diz: "olha, ó Saraiva, mandas-me este texto para o Fernando Mendes?" - o Saraiva manda para o Mendes. O Mendes, que bem pode chamar-se Calado ou Freitas, não se importa de ejacular (todas as noites) a informação em directo porque, estando necessitado do verdinho que recebe do clube e do canal de televisão para realizar uma acção de cobertura aos fiados que deixou um pouco por toda a parte, dispõe-se a tudo. Até a mentir.

Ameaçado de despedimento caso não escreva sobre o assunto, o jornalista de turno abre o laptop para contornos ficcionais à coisa. "Se não escreveres, o povo não deixa cá o clique. Se o povo não vier cá deixar o seu clique, ninguém patrocina isto. Se ninguém financiar isto, vamos todos para o olho da rua. Portanto escreve bem. Escreve tudo o que sentes até que te doam as mãos, menino."

 

O cidadão comum, advogado de profissão, lê no dia seguinte, antes de entrar na sessão no tribunal, sessão onde o cosmos lhe cai graciosamente sobre o ombro e sobretudo, sobre a língua:

Advogado A: "Meretíssimo, em primeiro lugar saúdo a sua pessoa, desejando-lhe toda a  sapiência (e todos os mais humildes, sinceros, estimados e atenciosos votos de confiança, saúde para o Sr. Meretíssimo e para a sua santa família) na aplicação da Justiça neste processo que nesta gloriosa manhã de Inverno nos traz até aqui à humilde casa basilar do Estado de Direito Democrático, campo de batalha de muitas querelas cavalheirescas entre causídicos, nas quais respeitamos honrosamente como sempre, como não poderia deixar de ser e como é nosso apanágio, a lei e os bons costumes de actuação desta corte. Queira-me também o meretíssimo Juiz dar-me apenas um segundinho muito importante para saudar os Srs. Procuradores com a mais calorosa e cordial das saudações, declarando-me incondicionalmente rendido ao trabalho lavrado neste despacho de acusação, despacho que aproveito para considerar como fidedigno em relação aos actos. A Sr. Procuradora, garbosa como sempre, com o seu cabelo aprumadinho que certamente muito trabalho deverá ter dado à sua ditosa mas não menos genial cabelereira..."

(entretanto o Juiz adormece porque o homem desdobra-se ordinariamente em mesuras, tratando até a empregada de limpeza de ocasião que está a passar pelo corredor por "Minha querida senhora, tieta do agreste que agora me deste uma visão do demónio que não posso, ai se não fosse casado, o que faria consigo sua pérola de diamantes, mais linda que qualquer uma ali posicionada estrategicamente no peitinho, ai no peitinho, ai o meu peitinho que não cabe em mim de tanta paixão que sinto, não tanto descaída para o seio direito mas mais para o esquerdo da Grace Kelly)"

Advogado B repete de seguida a mesma ordem de cumprimentos e saudações, bajulando tudo e todos a eito, qual metrónomo da arte do piropo hipócrita. Eis a arte de dizer muito pouco em muitas palavras, uma especialidade clássica do ser lusitano.

 

A audiência é dada por encerrada. Os dois advogados chegam ao café:

A: "O gajo nem lhe tocou, pá. Foi um mergulho para a piscina. Como é que és tão cego, meu?"

B: "Não toca? Vives em que mundo, caralho?"

A: "Olha, no do teu clube, que só sai à rua de 8 em 8 anos, certamente que não vivo, ó dragarto. Todos os anos vou ao Marquês com a família lá pelos idos de Maio enquanto tu ficas em casa a tocar corneta."

B: "Não admira. Com as instituições todas dominadas e com os árbitros todos comprados. É só colinho, tu..."

A: "Colinho? Mas tu és do único clube que até ao dia de hoje viu um dirigente condenado por corrupção!"

 

Por aqui me fico. Eis o verdadeiro elogio à irracionalidade. Este é o discurso irracional de gente que se considera a última coca-cola do deserto da racionalidade, os Descartes dos tempos modernos. Posto isto nem queiram imaginar o teor linguístico do discurso que à mesma hora é mantido por dois bêbedos no tasco. Várias foram as vezes em que já os vi, aqui pela rua do Arco, em Viseu, à paulada.

O produto do pensamento de um bando de manipuladores torna-se o prato do dia. A bola, o leitmotiv disto tudo, é pontapeada para fora do estádio sem piedade. Discute-se tudo até ao osso: movimentações de bastidores, problemas internos, problemas de balneário, situações financeiras dos clubes, zangas entre jogadores e namoradas, posts enigmáticos no twitter... A falha de marcação do central é sempre justificável e justificada com um erro do árbitro no minuto seguinte. Passámos da era da crítica aberta ao árbitro à éra da crítica aberta ao videoárbitro. Levam os dois na tarraqueta.

Parafraseando o saudoso Salgueiro Maia: "eis ao estado a que chegámos!"

Urge acabar com isto. 

 

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III

Um país sem respeito pela diferença e incapaz de promover a igualdade de oportunidades é um país falido moralmente. Falido moralmente e sem futuro. Que é um país sem futuro já eu sei há muitos anos. Contudo, como sou um romântico da coisa, teimo em continuar por aqui a arrumar caixotes à espera que a minha oportunidade chegue. 

"Eles vão acreditar nas tuas capacidades, meu querido."

Vão, o tanas! Neste país só se salva quem tem cunhas ou quem exerce eficazmente a sua influência junto de terceiros.

Voltando ao assunto.

Sabiam que o Comité Olímpico Português paga mensalmente:

  • 1375 euros a atletas olímpicos de Nível I do Ciclo de Preparação para os Jogos, pagando apenas 518 a atletas paraolímpicos do mesmo nível?
  • 1100 euros a atletas olímpicos de Nível II e somente 386 euros (um valor abaixo do salário mínimo nacional) a atletas paraolímpicos?
  • 900 euros a atletas olímpicos de Nível III e somente 226 euros (abaixo de qualquer pensão rural paga a quem nunca colocou um cêntimo a render na Segurança Social durante toda a sua vida) a atletas paraolímpicos do mesmo nível?

 

Sim, é verdade. Não quero contestar os valores que são pagos aos atletas olímpicos apesar de crer que estes valores não satisfazem nem de perto nem de longe as suas necessidades, visto que são atletas que, além dos gastos estruturais decorrentes das suas vidas, têm que gastar centenas de euros em materiais de treino, suplementos alimentares, viagens, alojamento, refeições em dias de competição, consultas médicas, de enfermagem, consultas de fisioterapia, gastos com staff técnico, etc... Estas bolsas são uma perfeita esmola. Quero, sim, contestar apenas a desigualdade da coisa. O que diferencia mesmo o suor de um atleta olímpico de um atleta paraolímpico? 

E as próteses, pagam-se como? E as cadeiras adaptadas para momentos de competição, pagam-se como? E os óculos, pagam-se como? E as despesas estruturais, de deslocação, alojamento e material dos atletas-guia que acompanham alguns dos atletas? E as despesas das pessoas que têm de acompanhar os atletas que não são autónomos? Será que uma mísera esmola de 226 euros no caso dos atletas de Nível III paga tudo isto?

Já agora: porque é que se atribuem 1375 euros mensais a um atleta como o Nelson Oliveira (pago principescamente na Movistar) e só se atribui uma bolsa de 1100 euros ao Rui Bragança (Taekwondo) que coitado, para competir internacionalmente, tinha que ir saquear a arca das pandinhas de 1 euro aos pais?

 

IV

Por último.

Quando vou por aí ao domingo de manhã ao Fontelo ver jogos de formação, assusto-me com as atitudes que são praticadas pelos pais. Não obstante a pedagógica informação que circula a rodos pelos campos, que é distribuída no início da época pelos clubes aos pais, pelas associações regionais e pelas federações aos clubes, sobre o papel dos pais na vida desportiva dos seus filhos, vejo cenas que não lembram nem ao Mitroglou:

"Rodrigo, tu não vais dar mais golos ao Francisco. Os olheiros do Dragon Force vieram-te ver. Quantos mais golos deres ao Francisco, mais estás a contribuir para que ele vá para o Porto e para que tu fiques aqui a jogar pelos distritais. É isso que queres?"

"Tá bem, pai."

Sim, leram bem. Esta foi a apreciação, num tom despregado, em que um pai se dirigiu ao filho à saída do balneário, bem à minha frente. Sim, o clima de competição inter-trabalhadores promovido pelo sistema capitalista já chegou ao único sítio onde é actualmente permitida à criança brincar. 

 

O futebol representa para alguns pais a sua válvula de escape das frustrações do dia-a-dia. Tenho visto comportamentos que não lembram nem ao diabo, como pais a agredir-se, árbitros a ser apedrejados, pais a ameaçar árbitros à entrada dos balneários, pais descontrolados a ameaçar treinadores (porque o seu filho só jogou 3 minutos!!), pais a retirar crianças do campo quando a prestação dos filhos não lhes está a correr de feição, pais a criticar a alto e bom som o rendimento de colegas dos seus filhos à frente dos seus pais. Para outros, a participação desportiva do seu pequeno rebento é encarada como a única oportunidade para escalar o monte do Evereste que é a sociedade portuguesa.

Os olheiros andam aí. Há que gabar a cesta para que ela finalmente se venda. Com os olhos postos no Prémio se um dia o rapazote vier a vingar neste mundo cão (facto que acontece na razão de 1 em 100000000000) para certos pais, a actividade desportiva do seu filho é um vale tudo. Leram bem: um vale tudo. Vários são os que diariamente me pedem um olheiro à medida das simpatias clubistas. Eu bem tento retorquir, com alguma ironia (que nem todos entendem), que para se chegar ao Benfica ou a um Sporting não basta partir a jarra lá de casa com um pontapé de bicicleta.

É preciso muito mais que isso, mas eles não querer crer! 

 

Uma generosa fatia dos comportamentos que vou vendo por esses campos vem de pais que não fazem a mínima ideia do sofrimento, do constrangimento e até dos traumas (que se irão reflectir na personalidade do futuro indivíduo, provocando aquilo a que chamamos profundas falhas de carácter) que provocam nos miúdos com as suas atitudes. Há pais que não compreendem que uma atitude motivada pela performance do filho, que a desvalorização do desporto enquanto uma ferramenta de mero divertimento, que a valorização do desporto como uma forma de ascensão social, e que a incorrecta pressão que incutem sobre o rendimento desportivo dos seus filhos ou sobre a gestão que é feita por treinadores e dirigentes são atitudes que passam naturalmente para os comportamentos destes.

 

 

João Branco

(blogue O MEU CADERNO DESPORTIVO)

Posso votar em mais do que um?

Pedro Correia, 28.11.17

Vi agora que o DELITO foi mencionado para "melhor blogue de opinião do ano" por ilustres blogonautas a quem aproveito para saudar, embora ciente de que não chegaremos à votação final nesta dinâmica galáxia Sapo.

Vim tarde, portanto já não posso encaminhar o voto nas direcções que mais gostaria. Na Cristina Nobre Soares, na Vânia Custódio, na Catarina Duarte, na Alice Alfazema ou na Lina Santos, por exemplo.

Felizmente posso votar em finalistas entretanto seleccionados por votação digital. Na Ana, na Psicogata, no Robinson Kanes ou no João Freitas Farinha, só para mencionar quatro.

Contem comigo, confrades da blogosfera. Só uma dúvida me assalta: posso votar em mais do que um?

Lá no bairro

Rui Rocha, 28.11.17

Isto é uma merda. A Mariana Mortágua esfrega o chão, faz o comer, trata dos filhos, passa a roupa do Costa a ferro, dobra-lhe as camisolas interiores, arruma-lhe os peúgos brancos na gaveta de baixo da mesa de cabeceira. E depois, o gajo anda na rambóia com a EDP. A Mortágua esbraceja, grita, ameaça, diz que faz e acontece. Mas no dia seguinte lá está outra vez com a esfregona na mão ou a coser-lhe as trusses enquanto o fulano vai ter com a outra. Na rua, a Mortágua anda com a cabeça muito direita, caminha muito digna. Mas todo o bairro vê o que se passa. O bardina sabe que é bonito e aproveita-se da fraqueza dela.

Coisas que aprendemos com a esquerda nos últimos dias

Rui Rocha, 27.11.17

- Não há dinheiro para tudo; 

- Não há problema em deslocalizar trabalhadores mais de 350km;
- Devemos ficar felizes pelo "Portugal cumpridor" das obrigações assumidas junto das Instiuições europeias; 
- As pessoas estão primeiro mas apenas se continuarem a pagar IMI por casas que arderam na tragédia dos incêndios;
- O trabalho ao Domingo pode ser pago em vales de desconto do Pingo Doce.

 

Mais duas semanas assim e temos de pedir a intervenção da troika para nos salvar destes austeritários cegos e fundamentalistas.

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