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Delito de Opinião

As canções da minha vida (4)

Pedro Correia, 28.02.17

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COIMBRA

1947

 

Lá em casa, desde os tempos da minha mais remota infância, sempre houve canções. Recordo-me de a minha mãe cantar vezes sem conta – e com ela aprendi largas dezenas, talvez centenas, de cantigas. Também o meu pai cantarolava, com menos jeito e um repertório menos vasto – mas foi quanto bastou para dele herdar umas tantas. E ambas as avós me transmitiram igualmente este gene e este gosto de cantar a qualquer momento: são raras as ocasiões em que uma música não me acompanha. Sem necessitar de auriculares.

Foi numa temporada em casa da minha avó materna, teria eu uns cinco anos, que a ouvi cantar Coimbra pela primeira vez. Lembro-me como se fosse hoje: passava ela roupa a ferro enquanto lhe saíam aqueles versos que logo me atraíram a atenção: «Coimbra é uma lição / de sonho e tradição / o livro é uma canção / e a lua, a faculdade.» Não tardei a repeti-la, incapaz no entanto de me aperceber ainda das subtilezas da letra – de tal maneira que durante algum tempo cantarolava “Olívia é uma mulher”. Fazia algum sentido, para o rapazinho que eu era, que a mulher fosse um livro?

Hoje admito que houvesse tanto de nostalgia como de júbilo na cantoria da avó Maria, desenraizada da sua Coimbra natal, onde raras vezes regressou após o casamento. Uma cidade que também passei a considerar minha já em adulto: a voz do sangue nunca nos abandona.

 

Muitos ignoram que Coimbra nasceu no cinema. Corria o ano de 1947, ia estrear-se a longa-metragem Capas Negras, com Amália Rodrigues e Alberto Ribeiro a encabeçar o elenco - cantores-actores de quem o público exigia ouvir trinados. O realizador Armando de Miranda - que sete anos antes divulgara a canção O Meu Alentejo  no filme  Pão Nosso - encomendou uma cantiga emblemática a um dos maiores duos de autores da música popular portuguesa: o compositor Raul Ferrão (1890-1953) e o letrista José Galhardo (1905-1967), que só tiveram de tirar da gaveta uma composição guardada desde 1939.

Assim nasceu esta belíssima Coimbra, interpretada pela primeira vez por Alberto Ribeiro (um dos estudantes no filme, juntamente com Artur Agostinho e Igrejas Caeiro) mas cedo popularizada por Luís Piçarra e pela própria Amália, que a cantou durante anos nos seus espectáculos e a incluiu no seu primeiro LP editado em Portugal, Amália no Olympia (1957).

Capas Negras foi um dos maiores êxitos de bilheteira do cinema português: permaneceu 22 semanas em cartaz, atraindo cerca de 200 mil espectadores ao Condes, sala lisboeta onde se estreou.

 

O tema de Ferrão e Galhardo não tardou a correr mundo, tanto em versões instrumentais como vocais, sob o título genérico Abril em Portugal adaptado ao respectivo idioma, tornando-se no mais perdurável cartaz turístico do nosso país em forma de música. Logo em 1947 o compositor e letrista irlandês Jimmy Kennedy (1902-1984) elaborou os versos ingleses do tema, que viria a ser celebrizado nas vozes de Louis Armstrong, Bing CrosbyVic Damone e Tony Martin. Em 1953 ascenderia ao segundo lugar do top da Billboard, na versão instrumental da orquestra de Les Baxter. Outras se seguiram, incluindo as de Xavier Cugat e Ray Conniff.

Em francês foi popularizada a partir de 1950 por Yvette Giraud e Eartha Kitt, com versos de Jacques Larue (1906-1961).

Roberto CarlosJulio IglesiasCaetano Veloso - entre tantos outros - também lhe deram voz.

Mas ainda hoje estou convencido de que nunca ninguém a cantou tão bem como a minha avó.

«Coimbra do choupal / Ainda és capital / Do amor em Portugal, ainda. / Coimbra onde uma vez / Com lágrimas se fez / A história dessa Inês tão linda.»

 

Música recente (74)

José António Abreu, 28.02.17

Rhiannon Giddens, álbum Freedom Highway.

Giddens já passou por vários projectos. Este é o seu segundo álbum a solo. O primeiro, lançado em 2015, tinha o número mínimo de originais para não poder ser classificado com exclusivamente de versões. Desta feita, nove dos doze temas são originais, mas alguns parecem tão genuínos que é como se pudessem ter sido compostos em meados do século XIX e cantados em torno de fogueiras no Texas ou em plantações de algodão no Louisiana. Há aqui uma preocupação com a história dos Estados Unidos, com as lutas, os sacrifícios e a violência que ela incluiu. A canção At the Purchaser's Option, no vídeo acima, é inspirada num anúncio verdadeiro, no qual uma escrava de 22 anos é oferecida para venda, ficando à consideração do comprador a inclusão no negócio da sua filha de nove meses. Outros temas estabelecem relações com os tempos actuais, através das letras mas também da música, que inclui espirituais negros, blues, folk, country, toques de jazz, até mesmo hip-hop. Estranho mas acessível, tradicional mas desafiante, duro mas inspirador, atrevo-me a afirmar, após somente um par de audições, que vai constituir um dos meus álbuns do ano.

Vai levar a palma ao Saraiva

Sérgio de Almeida Correia, 28.02.17

"Basta o residente não ser “habitual”, isto é, ser estrangeiro ou ter regressado de uma estadia de mais de cinco anos fora do país, para Portugal ser um domicílio fiscal muito agradável. No portal das finanças, está confessado o objectivo de “atrair beneficiários de pensões obtidas no estrangeiro”. Resultou no caso da Suécia, donde as partidas para Portugal terão triplicado entre 2011 e 2014."

 

Se António Costa tivesse alterado o regime teria feito mal porque Portugal precisava dessas receitas. Como até agora ainda não o alterou, António Costa faz mal na mesma. É lógico, de acordo com a irrepreensível lógica do historiador Rui Ramos.

Apenas lamento que Rui Ramos não tivesse perguntado na altura, isto é, no tempo do governo da coligação PSD/CDS-PP, quando essas partidas da Suécia para Portugal ajudaram a compor as contas de Vítor Gaspar e de Maria Luís Albuquerque (e ainda assim foram insuficientes para atingirem um défice de acordo com as exigências de Bruxelas), se também então podíamos ser suecos.

É que se o Governo de Passos Coelho (o das ajudas de custo e despesas de representação), do "Dr." Relvas (o da licenciatura a jacto) e do Dr. Macedo (o dos vistos gold) me tivesse permitido, nessa altura, ser sueco, talvez hoje, a milhares de quilómetros, não me sentisse tão português e tão parecido com os gregos de cada vez que transfiro dinheiro para pagar as contribuições da minha futura reforma.

 

Nem-Nem

Diogo Noivo, 28.02.17

As redes sociais aproximam as pessoas de uma forma inovadora e surpreendente. Além de encurtarem distâncias e de superarem barreiras culturais, as redes sociais ligam indivíduos que, de outra forma, jamais coexistiriam sob um mesmo tecto. Por vezes, a ligação oferecida pela experiência em plataformas como o Twitter ou o Facebook é de tal forma intensa que, mais do que ligar pessoas, opera ligações dentro delas. Nomeadamente ligando-lhes o cérebro ao duodeno.
Estou consciente que a afirmação anterior é tudo menos consensual pois, argumentarão alguns, a ligação directa da massa encefálica ao tracto gastrointestinal é muitas vezes uma condição pré-existente que as redes sociais apenas potenciam. Seja como for, as consequências são palpáveis – e lamentáveis. Nas redes sociais, a reacção antecede com frequência a compreensão. Legiões imolam-se em retórica inconsequente sem perceberem bem porquê. Como escreveu Miguel Tamen, nunca o intervalo entre espasmos e prosa foi tão curto.
Alguns jornais aproveitam-se do estado de catatonia funcional dos nativos digitais, não para trazer alguma elevação à arena, mas sim para tirar partido da idiotia. O método mais habitual designa-se clickbait, em tradução livre «engodo para clicks», e visa captar clicks e visualizações, dois elementos essenciais para definir o preço da publicidade – e, assim, as receitas do jornal. Em regra, o clickbait assume duas formas. Primeiro, e sabendo que os conteúdos partilhados nas redes sociais raras vezes são abertos, os jornais recorrem a parangonas que agitam curiosidades. Por exemplo, uma notícia titulada “O novo amor de António Costa” uma vez aberta dá conta ao leitor que o Primeiro-Ministro descobriu a sua paixão por sushi ou pela chanfana.
A segunda expressão de clickbait, especialmente desonesta, recorre a títulos que instigam indignações fáceis. Mais do que teorizar sobre esta segunda abordagem, proponho que olhemos para uma ‘notícia’ publicada há dias pelo jornal i. Lê-se no título que “Jovens que não estudam nem trabalham vão receber 700€ mensais de subsídios estatais”. Logo, todos os jovens que não trabalham nem estudam vão receber 700€ do Estado. Avançamos para o lead e confirmamos o título. Por outro lado, a fotografia que ilustra a ‘notícia’, e que é todo um tratado sobre mensagens subliminares, mostra jovens ociosos que aparentam ter uma vida folgada, ficando portanto implícito que vivem à conta de terceiros. Isto é, à primeira, à segunda e à terceira vistas tudo indica que o Estado vai sustentar todos os jovens portugueses que não trabalham nem estudam. Como seria de esperar, a notícia provocou revolta ardente e generalizada nas redes sociais.
Contudo, lendo o texto na íntegra, ou socorrendo-nos de notícias a sério sobre o mesmo tema, como esta do Observador, percebemos que se trata de um programa de apoio ao empreendedorismo de jovens que não trabalham nem estudam – habitualmente designados em Portugal como jovens “nem-nem”. Para aceder ao programa, estes jovens têm de cumprir um conjunto de requisitos, como ter concluído o ensino obrigatório, têm de se candidatar, têm de apresentar os seus projectos, têm de ser seleccionados, e só então poderão aceder aos apoios disponíveis. Importa referir ainda que o programa tem 315 vagas, um número inferior aos cerca de 300 mil jovens portugueses que estão sem trabalho e que não estudam. Em suma, a realidade dos factos é substancialmente diferente daquilo que nos é sugerido pelo jornal i.
Tudo contado e somado, percebemos que o texto publicado pelo i espelha, porventura por simpatia, o tandem sobre o qual versa: nem é um trabalho respeitável nem mostra estudo deontológico.

Então e os outros?

Sérgio de Almeida Correia, 28.02.17

 

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"Acho extraordinário que seja possível deitar pela janela fora dezenas de milhares de milhões de euros e ninguém preste contas sobre o que é que aconteceu. O que é que o Banco de Portugal andou a fazer durante estes anos todos? Porque é que os senhores que saem, depois de não terem conseguido tomar conta dos recados, depois já podem voltar? Porque é que há esta dança de cadeiras e ninguém assume responsabilidades em relação a assunto nenhum? O que é que nos garante que não vai voltar a acontecer?"

"Porque é que neste caso [CGD], que custa ao erário público milhares de milhões, não se pode saber?"

"Ameaça ao regime? Pobre regime se depende só disso. Era uma ameaça aos ladrões."

"Como é que é possível pensar que uma tão grande parte da população aceita que uma parte importante dos impostos, que paga com esforço, seja para cobrir coisas que ninguém sabe bem o que é que foi? Lança-se suspeições sobre tudo no geral. Eu não acredito que todas as pessoas se portem mal. Agora, acho que é muito útil saber-se que, quando se tem determinados lugares, se pode ser responsabilizado pelo que se faz. Em Portugal, temos muita dificuldade em sair deste bom rapazismo, onde ninguém diz mal de ninguém, ninguém critica, porque ‘amanhã também posso precisar’. É um ambiente péssimo."

 

Alertado pelo título de uma notícia do Observador, fui ler a entrevista de Pedro Ferraz da Costa ao ECO (economia online).

Há muitos pontos em que estou em clara divergência com Pedro Ferraz da Costa, Presidente do Conselho Directivo do Fórum para a Competitividade, mas não posso deixar de concordar com ele quanto às transcrições que acima faço.

Distâncias à parte, aquilo para que o entrevistado chama a atenção não constitui nada de novo. Em causa estão factos cujo conhecimento está ao alcance de qualquer cidadão minimamente interessado, factos que ciclicamente se repetem, de tal forma que ao fim de quatro décadas de democracia são quase que assumidos como se fossem normais. Só assim, aliás, se compreende que se continuem a fazer as coisas como sempre se fizeram, nunca se percebendo muito bem quem se quer ou se está a proteger nesse modo de assim fazer. A começar pelas comissões parlamentares de inquérito que não raro só servem para o espectáculo mediático.

E embora não deixe de ser preocupante que se tenha chegado ao ponto de ser um patrão, num país de tantos trabalhadores, a fazer tais afirmações e a colocar as interrogações que todos a nós próprios há muito devíamos ter formulado, importaria não restringir o âmbito dessas questões ao universo da CGD. Eu também quero saber, e todos devíamos querer saber, quem foram, quem são, os tipos (não vou ao ponto de lhes chamar "ladrões") que beneficiaram com as moscambilhas da PT, do BES, do BANIF e de todas essas empresas que andando paredes-meias com o Estado e com alguma maltosa que andou, e que ainda anda, alguns de forma dissimulada, pela política e os partidos, beneficiam das negociatas, dos esquemas e dos empréstimos, não prestando contas a ninguém, sendo permanentemente desresponsabilizados e dando cabo dos milhões que depois sobram para os portugueses pagarem.

É fundamental saber, até para que no futuro não haja governantes a incluírem em comitivas oficiais empresários em situação de insolvência.

As canções da minha vida (3)

Pedro Correia, 27.02.17

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C'EST SI BON

1948

 

Algumas canções acompanham-nos vida fora, etapa após etapa. Estão presentes quando precisamos delas. Ajudam-nos a encarar a vida com doçura, a desvendar-lhe a face mais prazenteira e sorridente.

Acontece com esta, minha parceira de tantas manhãs inundadas de sol. Segue-me desde a adolescência: julgo que a escutei pela primeira vez no meu ano de caloiro no liceu. Vivíamos muito longe de Portugal, numa cidade do antigo império colonial, sem televisão, onde os bailaricos eram um dos divertimentos mais assíduos, com música ao vivo improvisada a partir dos acordes das orquestras de Paul Mauriat e James Last escutadas no leitor de cassetes – novidade absoluta à época.

 

Foi numa dessas cassetes, em versão instrumental, que ouvi pela primeira vez C’ Est Si Bon. Ainda sem saber que as célebres nove primeiras notas deste tema musical haviam surgido por inspiração do acaso ao compositor Henri Betti (1917-2005), quando passeava nas emblemáticas arcadas da sua Nice natal num dia do Verão de 1947. Pianista habituado a acompanhar Maurice Chevalier nos anos da ocupação nazi em França, Betti não tardou a completar a partitura, pedindo de seguida ao seu amigo André Hornez (1905-89), exímio escritor de canções, que lhe improvisasse uma letra.

Assim surgiu um dos mais famosos marcos da canção francesa, então no auge pelas vozes de Edith Piaf, Charles Trenet e do jovem Yves Montand, entre tantos outros. Foi precisamente a Montand que Betti e Hornez remeteram a canção, inicialmente destinada a ser incluída no seu novo repertório, numa série de espectáculos no parisiense Théâtre de l’ Étoile, a partir de Outubro desse ano. Mas o cantor preferiu guardá-la e foi ultrapassado por outro intérprete: a estreia de C’est Si Bon ocorreu a 18 de Janeiro de 1948 na rádio e um mês depois em registo discográfico, com 2 minutos e 40 segundos de duração, na voz do malogrado Jean Marco acompanhado pela popular orquestra de Jacques Hélian.

Começava a ser um sucesso quando Montand enfim a gravou, em Maio. E ficou para sempre associado ao tema, que deu várias voltas ao mundo em diversos idiomas – incluindo o inglês, gravado por Louis Armstrong com a orquestra de Sy Oliver, em Junho de 1950, e o português, interpretado pela brasileira Rita Lee, com letra de Roberto de Carvalho (1988).

Uma das versões mais famosas teve como intérprete Dean Martin, no seu álbum French Style, datado de 1962.

 

C’ Est Si Bon, um foxtrop sensual e festivo, perdura como símbolo musical daqueles trinta anos gloriosos da Europa que se ergueu das cinzas da guerra e se reinventou com uma energia digna de causar inveja ao mundo.

Tempos irrepetíveis, em que todos os sonhos prometiam tornar-se realidade e em que não faltava quem acreditasse que nunca mais guerra alguma voltaria a obscurecer os dias.

 

«C'est si bon / De partir n'importe ou, / Bras dessus, bras dessous, / En chantant des chansons. / C'est si bon / De se dir' des mots doux, / Des petits rien du tout / Mais qui en disent long.»

 

Contra a discriminação na cerimónia dos Óscares

Rui Rocha, 27.02.17

Então e a indústria de Hollywood? Tão avançada, tão progressista, tão activista, tão pelos direitos, tão pelas minorias, tão anti-estereótipo, tão anti-Trump. E depois, vai-se a ver e é na própria cerimónia dos Óscares que se perpetua a discriminação de género. Um Óscar para o melhor actor e outro para a melhor actriz? Porquê? O que é que a Academia quer dizer com isso? Acaso as mulheres não seriam capazes de ganhar aos homens se concorressem na mesma categoria? É isso? É o contrário? E os intergénero? Onde está o Óscar para os intergénero? Pelo Óscar unificado para o melhor desempenho sem discriminação de género, já! E, se for preciso, com quotas, para evitar abusos. E, já agora, o Óscar para o melhor desempenho animal? O PAN não diz nada? Mas que vergonha é esta? E os preocupadinhos com o brinquedo para meninos e para meninas do McDonald´s? Onde é que andam?

Perdoai-lhes que não sabem o que fazem

Rui Rocha, 27.02.17

A Ryanair, por exemplo, tem partidas do Porto para Roma Ciampino às quartas com regresso às segundas. Marcando com antecedência, encontras viagens de ida e volta para duas pessoas por 150 euros. Cinco noites de hotel com mais que razoável conforto na capital italiana saem-te por 450 euros. Estimemos ainda um total de 400 euros para transportes e alimentação. Estamos portanto a falar de um custo total de 1000 euros para duas pessoas para 6 dias e 5 noites em Roma com a possibilidade de visitar o Coliseu, a Fontana de Trevi ou o Fórum Romano. Se fizeres questão, podes ir ao Vaticano no Domingo ver o Papa. Entretanto, leio que estão a pagar 1000 euros por uma noite em saco-cama para dois adultos durante a visita papal a Fátima. Deus me perdoe, mas é preciso ser-se parvo.

O «êxito» nacional - rapidinhas

José António Abreu, 27.02.17

O crescimento.

Ficou abaixo do que o PS prometera. Ficou abaixo do que, segundo o PS, teria sido com um governo PSD-CDS. Ficou abaixo do que foi em 2015. Ficou acima das previsões mais pessimistas.

 

A dívida.

A resolução do Banif foi precipitada para 2015. A recapitalização da Caixa foi adiada para 2017. Ainda assim, subiu em termos absolutos e talvez em percentagem do PIB.

 

A austeridade.

Foi transferida dos salários para os equipamentos e para o material, dos funcionários públicos para a generalidade dos cidadãos, desapareceu dos noticiários e, por conseguinte, terminou.

 

Os juros.

«Para o infinito e mais além», anunciaria Buzz Lightyear.
 

O investimento.

Foi aplicado em publicidade institucional.

 

A transparência e a ética republicana.

Completamente garantidas pela inviolabilidade das mensagens sms.

 

O PCP e o Bloco.

Desta vez são cúmplices.

 

O presidente.

O indivíduo deslumbrado que tenta parecer um gajo porreiro, emite opinião sobre tudo, inventa factos e distribui facadinhas nas costas. Que melhor representante do país se poderia arranjar?

 

O défice.

Com ou sem o perdão fiscal, o congelamento do investimento, a venda dos F-16, as cativações, a reavaliação de activos, o atraso nos pagamentos a fornecedores?

 

«O défice mais baixo da democracia portuguesa.»

Onde é que já ouvi isto?

Reflexão do dia

Pedro Correia, 26.02.17

«Um processo aqui, um caso de corrupção ali, uns empréstimos sem retorno, uns favores a amigos, uns assaltos a empresas, algumas manipulações do mercado, umas transferências para offshores, muita mentira e uma prodigiosa incompetência fizeram da "jóia da coroa" o que ela parece hoje e que faz com que os políticos tenham receio do pântano. Fica-se cada vez mais com a impressão de que o caso da Caixa é o caso do regime: tudo anda ligado, da política à banca, da PT aos telemóveis, das águas aos petróleos, da electricidade à celulose, do BES ao Banif, do BPN ao BCP... Podem fazer-se todos os inquéritos imagináveis, ficará sempre algo de fora, aparecerá sempre, à última hora, novo facto inesperado que permita negociação futura e ocultação passada. Debaixo de cada pedra há lacrau ou veneno. E muitos parecem interessados em esconder e esquecer. Mas acrescentam sempre qualquer coisa. (...) Se a democracia portuguesa não consegue apurar responsabilidades, julgar culpados, castigar nepotes e afilhados e refazer um banco seguro e honesto, se a democracia portuguesa tal não conseguir, condena-se a si própria. O processo da Caixa corre o risco de vir a ser o processo do regime.»

António Barreto, no Diário de Notícias

Antes tarde

Sérgio de Almeida Correia, 26.02.17

Blogue da semana.

Luís Menezes Leitão, 26.02.17

Desde que me conheço sempre fui um apaixonado por livros, pelo que costumo comprar com regularidade as novidades que surgem no mercado editorial. Mas também sempre me interessaram as obras que já não se conseguem encontrar, nem sequer nos alfarrabistas. E para isso a única possibilidade que temos é ir às bibliotecas. Passam-se momentos magníficos nas bibliotecas, normalmente edifícios com salas amplas e enormes galerias, em que os funcionários velam pelo silêncio como se fossem guardiões de um templo. Normalmente temos por isso um tempo de espera em silêncio nessa sala até que nos tragam finalmente a preciosidade que procurámos em vão durante tanto tempo. Depois resta-nos esperar que o horário da biblioteca seja compatível com o tempo que precisamos para ler essa obra. Neste mundo da internet e do audiovisual, as bibliotecas merecem uma atenção especial, sendo por isso importante um blogue que a elas se dedica. O Bibliotequices é por isso o blogue da semana. 

Sala cheia também em Braga

Pedro Correia, 25.02.17

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 Marques Mendes esta tarde, durante a apresentação do livro

 

Mais de cem pessoas acorreram esta tarde à Livraria Bertrand no Shopping Liberdade, em Braga, para a sessão de apresentação da Política de A a Zrepetindo o êxito ocorrido em Lisboa, a 26 de Janeiro.

Diversas figuras da política local - não apenas a nível da cidade mas do distrito - compareceram neste evento, que contou com a apresentação de Luís Marques Mendes, conselheiro de Estado e ex-presidente do PSD, e Nuno Almeida Barreto, membro da Comissão Política Distrital do PS.

Marcaram presença, por exemplo, o deputado socialista Joaquim Barreto, líder do PS-Braga, e o ex-deputado Ricardo Gonçalves, actual membro da Comissão Nacional do PS. Tive o prazer de reencontrar também, entre amigos e conhecidos, duas grandes figuras da blogosfera: o nosso Rui Rocha e José Meireles Graça, do imprescindível Gremlin Literário.

Darei destaque autónomo, noutro texto, às simpáticas e generosas palavras de Marques Mendes nesta sessão de promoção da obra, que assino em parceria com Rodrigo Gonçalves. Política de A a Z é um dicionário enciclopédico com 333 entradas - de Absolutismo a Zé Povinho - que pretende encurtar distâncias entre eleitores e eleitos, descodificando e descomplicando o jargão político. "Esta obra é um acto de cidadania", sublinhou Nuno Barreto.

O livro - divulgado pela editora Contraponto como "um guia para compreender todos os segredos da política" - pretende colmatar uma lacuna do mercado editorial português num ano em que muito se falará em política, por cá e lá fora. A propósito da nova administração norte-americana, dos processos eleitorais em França, Holanda e Alemanha, das eleições autárquicas portuguesas e do centenário da Revolução de Outubro na Rússia.

A próxima sessão de apresentação está prevista para o Porto, a 9 de Março.

 

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 Exemplares da 'Política de A a Z', na Bertrand de Braga

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