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Delito de Opinião

As canções de Abril

Pedro Correia, 31.03.15

Este mês que vai começar terá por cá vários nomes bem conhecidos da canção do século XX, de géneros muito diferentes. Eis alguns: Bob Dylan, Carmen McRea, Julie Andrews, Kate Bush, Marlene Dietrich, Nat King Cole, P. J. Harvey e Rudy Vallee.

Por alturas do 25 de Abril virão John Lennon e Joan Baez, nomes incontornáveis da canção de protesto.

Mas antes haverá temas de algum modo relacionados com a Páscoa - a primeira quadra festiva do mês.

E como sempre agradeço as sugestões que queiram dar-me.

Clássicos para a Prainha (V)

Bandeira, 31.03.15

Ambrose Bierce: The Devil's Dictionary

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As primeiras entradas do dicionário satírico de Ambrose Bierce, jornalista e autor (quando não estiver seguro quanto ao que alguém fez ou não fez e não lhe apetecer ir conferir, escreva “autor”), surgiram em 1881, no hebdomadário The Wasp, de São Francisco.

Após carreira irregular na imprensa, o dicionário viria a ser publicado em 1906 sob o título The Cynics Word Book, “um nome que o autor não teve o poder de rejeitar nem a felicidade de aprovar” (do prefácio do próprio Bierce, ou talvez do diabo, jamais o saberemos) e que se terá ficado a dever a pruridos religiosos do editor. O senhor das moscas, naturalmente, achou graça a isso e fez brotar das profundezas dos infernos legiões de Cynic books fraquinhos, muito lamentados por Bierce e por todas as criaturas de gosto refinado pelo mau nome que deram à palavra “cínico”.

Em 1911, para grande felicidade de Bierce, o livro viria a ser publicado sob o título por que hoje o conhecemos, constituindo a alta bitola contra a qual esbarram todos os dicionários satíricos que se lhe seguiram, à excepção talvez do da Academia, que me custou 40 contos em moeda antiga e ainda hoje se ri disso.

Exemplos do rigor científico de The Devil’s Dictionary são as definições de "egoísta” (uma pessoa de mau gosto, mais interessada nela do que em mim), “rezar” (pedir que as leis do universo sejam revogadas em favor de um único peticionário, confessadamente indigno do benefício) e “dicionário” (um dispositivo literário malévolo para entravar o crescimento da língua e torná-la difícil e inelástica, sendo o dicionário de Bierce a óbvia excepção).

(Nota: está disponível edição supimpa da Tinta da China em português.)

Apareçam

Pedro Correia, 31.03.15

Mais um mês chega ao fim. Tempo de anotar as estatísticas do DELITO DE OPINIÃO referentes aos últimos 30 dias, segundo o contador do Sapo: 86.022 visitas e 138.762 visualizações.

Média diária ao longo deste mês de Março: 2.967 visitas e 4.785 visualizações. O que permitiu registar, também em termos médios, 123 leitores e 199 páginas visitadas por cada hora do mês que agora termina. Mais de dois leitores por minuto.

Cá esperamos por vós também em Abril, com o mesmo interesse pelo que aqui se escreve. Apareçam: temas polémicos não faltarão.

Vermes comandados pelo cérebro que não têm

José António Abreu, 31.03.15

Os homens são capazes de ignorar a fome e ir à procura de um par. Um novo estudo feito numa espécie de vermes comprovou que a culpa não é propriamente deles, mas sim do seu cérebro.

No Observador, por Carolina Santos.

 

Confesso: a primeira coisa que fiz, ainda antes de ler o artigo, foi verificar se tinha sido escrito por uma mulher. Em primeiro lugar pela deliciosa associação entre homens e vermes (eu sei que o estudo foi mesmo realizado em vermes mas talvez fosse mais correcto e abrangente usar «machos» em vez de «homens»). Depois pela igualmente deliciosa facilidade com que se aceita a extrapolação do comportamento dos referidos vermes para o ser humano, deixando de lado eventuais diferenças a nível de  - sei lá - número de neurónios. Finalmente pelo ainda mais delicioso recurso à velha dicotomia corpo-mente, na tentativa magnânima de desculpar essas criaturas vermiculares e desprovidas de neurónios, os homens (obrigado, Carolina; se vieres ao Porto nos próximos tempos avisa e vamos jantar, OK?; ou então até podemos saltar o jantar, que para mim é secundário). Porque a culpa (e tanto haveria a dizer sobre o facto de, mesmo após a ciência justificar o comportamento, poder continuar a associar-se-lhe o conceito - a ter de culpar-se alguém, que tal escolher Deus?) é do cérebro, não é propriamente dos homens. Só uma mulher podia considerar que quaisquer seres humanos - machos, fêmeas, hermafroditas - se definem por factores externos ao cérebro.

 

Nota 1. Como o meu sentido de humor não é partilhado por alguns leitores do Delito - mas Kafka também se ria ao ler as suas histórias aos amigos e poucos leitores delas fazem o mesmo desde então -, fica o alerta: este texto contém ironia e pretende ser uma provocação benigna.

 

Nota 2. Não, não estou a comparar o que escrevo ao que Kafka escrevia. Em contrapartida, a minha vida é quase tão excitante quanto foi a dele.

 

Nota 3. Agora vou dar descanso aos neurónios que não tenho, parar com estas notas e entreter-me a observar as mulheres que andam por aqui, OK?

 

Nota 4. Estranho. Estou com fome.

O "rosto humano" dos homicidas

Pedro Correia, 31.03.15

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Nunca cessarei de me espantar com o reduzido valor da vida humana na moeda corrente do tráfego noticioso. Um indivíduo comete um crime horroroso, arrastando com premeditação para a morte centena e meia de inocentes a bordo de um avião como se fossem reses a caminho do açougue. E logo de todo o lado despontam peças amáveis, que o tratam familiarmente pelo nome próprio, atribuem o massacre de que foi responsável aos efeitos de uma arreliadora "depressão", difundem incessantemente fotografias do pacato e risonho rapaz que seria antes de se ter "descontrolado" e divulgam testemunhos abonatórios acerca da personalidade do visado, assegurando ao mundo que se tratava de uma pessoa tranquila, um rapaz "competente e sonhador".

E - cherchez la femme - jamais esquecem de mencionar, vezes sem conta, que o sujeito se viu abandonado pela namorada. Sugerindo assim ao leitor ou espectador incauto que a responsabilidade suprema do massacre não terá sido do assassino mas da rapariga que recusou prolongar o namoro. Nestes momentos surge sempre um psicólogo a referir a condição depressiva como causa do "acidente" (benigno vocábulo utilizado em profusão) e talvez nem falte até um sociólogo de pacotilha a designar o indivíduo como "vítima" de uma sociedade injusta ou do sistema capitalista, que "é por natureza repressor".

 

Já lemos e ouvimos de tudo nesta sociedade-espectáculo que cultiva a emoção em sessões contínuas mas segmentadas em capítulos sucintos e precários. Por isso a indignação de muito boa gente tem prazos de validade cada vez mais curtos e é dirigida a alvos móveis, que variam consoante a tendência do momento.

Neste caso, por exemplo, a primeira vaga de estridência nas redes sociais dirigiu-se contra a idade avançada da aeronave da Germanwings, uma companhia aérea de baixo custo integrada no grupo Lufthansa. Sem investigação, sem aprofundamento dos factos, sem nada comprovado: bastou alguém acender um rastilho para logo milhares de almas ferverem de fúria contra a companhia aérea que se permitia utilizar aparelhos tão "antigos". Na escala de valores contemporâneos, como sabemos, ser novo é sinónimo de ser bom.

 

O problema é que não se tratou de um "acidente", não foi um azar, não foi um capricho divino. Foi um homicídio premeditado pelo tal jovem sorridente e desportivo cujas imagens nos invadem o domicílio à hora dos telediários. Com o nome impresso por toda a parte, irresistível tentação para outros psicopatas que anseiam por minutos de fama à custa do sangue alheio.

Em vez uma bomba ou uma AK-47, o tal tipo amável optou antes por um Airbus 320 como instrumento do massacre. “Descontrolou-se”, repete alguém. Como já sucedera com aquele assassino norueguês, um monstro de sorriso gélido que em 2011 matou a sangue-frio 77 adolescentes num acampamento de Verão.

Também ele contou com a benevolência de psiquiatras que logo o consideraram “inimputável” – como se o mal não estivesse inscrito desde os confins dos tempos na condição humana. Também ele teve o nome e o rosto impressos por toda a parte.

Um e outro, celebridades instantâneas à escala planetária. Neste mesmo mundo em que tantos benfeitores permanecem anónimos e jamais serão procurados para notícia de telejornal.

 

Leitura complementar:

A glória póstuma do assassino

A barbárie está no meio de nós

Clássicos para a Prainha (IV)

Bandeira, 30.03.15

Hesíodo: Os Trabalhos e os Dias

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Se dúvidas houvesse quanto às perturbações que o funcionamento irregular de um sistema judicial pode causar no espírito de um indivíduo são, uma leitura de Hesíodo seria o suficiente para as dissipar. Um agricultor humilde perde, por subversão da Justiça, uma causa; e no momento seguinte está a descrever as origens do universo em hexâmetros dactílicos. Assisti a internamentos forçados por bem menos do que isso.


As atribulações de Hesíodo começam quando Perses, seu irmão, o arrasta para tribunal sob pretexto de discordar das partilhas da herança paterna, apropriando-se de um monte de ovelhas – julgo que se diz “um rebanho”, mas não estou seguro – através de uma técnica arcaica de corrupção envolvendo moedas e um par de mãos (aqui o pundonoroso leitor, imaginando com horror um corrupto juiz beócio do século VIII a.C., passa as costas da mão na larga testa suada).

Hesíodo recupera da perda das ovelhas, mas Perses desbarata o produto do seu triunfo forense em manga erótica, linhas de valor acrescentado, raspadinhas, coisas assim, e vê-se forçado pela deusa da destituição – decerto havia uma na Grécia – a recorrer a Hesíodo. Timidamente sugere um depósito na conta bancária, pode até ser cheque ou vale postal, mas o irmão (que em todo o caso, como bom rural que é, desconfia de bancos, sem razão, inteiramente sem razão) adopta uma postura entre o vingativo e o didáctico. E redige para Perses Os Trabalhos e os Dias.

As dicas de Hesíodo relativas à lavoura, e mesmo algumas de índole mais pia – assim de repente lembro-me daquela em que exorta Perses a jamais verter águas em pé virado para o sol –, quebram o gelo em qualquer festa; mas é ao mito de Pandora que as pessoas tendem a achar mais graça, mesmo as mulheres, as cujas Hesíodo coloca ao nível moral da barata. Pandora foi a primeira mulher, moldada à imagem das deusas imortais com terra e água por Hefesto, o deus coxinho, e dotada pelos restantes olímpicos de todos os atributos – sem esquecer a perfídia, a mentira, etc. Ela era o castigo divino por o titã Prometeu ter roubado o isqueiro a pai Zeus para o dar a uns homens que mal conhecia sem lhes cobrar sequer um cêntimo. Não há cigarros grátis.

Não direi que Hesíodo, lá por execrar as mulheres, aprovava o género masculino. Ele descreve as cinco idades do homem – a de ouro, em que o Windows instalava actualizações apenas quando não se estava a precisar do computador e os homens (lembre-se, não havia mulheres) eram tão felizes que morriam como que adormecendo; a de prata, quando a infância durava cem anos, após o que se falecia rapidamente por falta de cobertura do seguro médico; a de bronze, com gente tão violenta que mal nascia ia direitinha para o Hades; a dos heróis, com as suas guerras de Tebas e de Tróia e reformas douradas na ilha da Bem-Aventurança; por fim, a de ferro, a sua, dele, Hesíodo, a tal de Prometeu e do fogo, tão má que, enfim, perdoe, acho que não sou capaz de falar sobre isso.

Nem tudo está perdido, porém. É certo que 30 mil espíritos nos vigiam, que o olho de Zeus tudo vê e que a Justiça, sua filha, anda à coca (não literalmente) dos que procuram vencer causas nos tribunais através de estratagemas. O importante é ser-se íntegro, perseverar no trabalho e sobretudo ter cuidado, muito cuidado (não pergunte) com o dia 5 de cada mês.

Ler

Pedro Correia, 30.03.15

O esticar da corda. Do Luís Novaes Tito, n' A Barbearia do Senhor Luís.

Por uma nova república. Do João Gonçalves, no Portugal dos Pequeninos.

Tese. De Vital Moreira, na Causa Nossa.

Quo vadis, Caesar? De José Gabriel, no Aventar.

Tradição fraticida. De Miguel Botelho Moniz, n' O Insurgente.

Notícias que são um clássico. Do Rodrigo Moita de Deus, no 31 da Armada.

O papel soma e segue. De Maria do Rosário Pedreira, no Horas Extraordinárias.

A primeira derrota de Costa

Pedro Correia, 30.03.15

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 António Costa em campanha no Funchal (15 de Março)

 

António Costa decidiu derrubar António José Seguro, sem deixar o então secretário-geral do partido submeter-se ao teste das eleições legislativas após três anos em funções no Largo do Rato, com um argumento derivado do mais puro achismo lusitano: achava-se em melhores condições de protagonizar o ciclo político pós-Passos Coelho.

Isto sucedeu, note-se, no rescaldo imediato das eleições europeias de 2014, em Portugal ganhas pelo PS. Esse foi o terceiro triunfo de Seguro em três anos: antes, com ele à frente do partido, os socialistas tinham vencido as eleições regionais dos Açores e as autárquicas.

Costa achou "poucochinho" o triunfo nas europeias - que constituíram um descalabro generalizado para a família socialista no Velho Continente ao qual o PS português foi um dos raros partidos que escaparam - e, estribado na tropa de choque de José Sócrates, garantiu aos militantes que faria melhor do que os 38% das intenções de voto atribuídas a Seguro pelas sondagens à época.

 

Quase um ano depois, afinal, o PS permanece como estava: Costa não ganhou um milímetro nas pesquisas de opinião para o partido, que acaba de averbar uma estrondosa derrota nas eleições regionais da Madeira. Apesar de prometerem ser as mais propícias de sempre para a oposição socialista pois marcavam o fim do longo consulado jardinista.

Com um péssimo candidato a encabeçar a lista regional, uma desastrosa política de alianças que privilegiou o patusco Coelho - o Beppe Grillo funchalense - e o excêntrico Partido dos Animais, e sem a menor capacidade de aglutinar a esquerda local, mais dividida que nunca, o PS acaba de ser remetido para mais quatro anos de oposição no arquipélago, assistindo impotente à revalidação da maioria absoluta do PSD, desta vez comandado por Miguel Albuquerque. E sem ter sido sequer capaz de ultrapassar o CDS como segunda força política regional.

Pior ainda: os socialistas recuam em relação ao anterior escrutínio, ocorrido em 2011, não só em número de votos e percentagem, mas também em lugares no Parlamento regional. Há quatro anos elegeram seis deputados (em 47), agora têm os mesmos, mas como concorreram em coligação com três partidos, um desses assentos caberá ao patusco Coelho, que se apressou a descolar do PS, esgotado o prazo de validade deste partido enquanto barriga de aluguer.

 

António Costa participou na campanha eleitoral da Madeira, apoiou o candidato fracassado, envolveu-se. E perdeu.

Estivesse ainda Seguro ao leme do PS nacional, acossado por um batalhão de bitaiteiros televisivos dispostos a "fazer-lhe a folha", e não faltaria o coro das carpideiras a bramar contra a "frouxa" liderança no Largo do Rato.

Como Seguro já não está, resta o silêncio.

 

Leitura complementar:

Açores: dez apontamentos eleitorais (texto de 14 de Outubro de 2012)

Bolo do caco com a mesma forma

Sérgio de Almeida Correia, 30.03.15

madeira2015.jpg Na Madeira cumpriu-se democraticamente o ciclo eleitoral.

O PSD/Madeira, agora de Miguel Albuquerque, volta a estar de parabéns. Levando em linha de conta os anteriores arrufos entre o ex-líder e o actual e a perda de cerca de quinze mil votos por comparação com as eleições anteriores, o resultado, mesmo com uma abstenção elevadíssima, é digno de nota, sendo legítimo desejar-lhe uma governação à altura das responsabilidades. Resta saber qual o preço que irá ser cobrado ao PSD de Passos Coelho por este resultado regional que reedita a maioria absoluta.

Apesar dos cadernos eleitorais continuarem a aguardar limpeza, a abstenção não pode deixar de ser considerada brutal e deverá constituir um sério aviso ao que poderá vir a caminho para as eleições legislativas. Mas aqui com consequências bem mais imprevisíveis tanto em matéria de maiorias como de formação de uma equipa governativa.

Pesado, diria mesmo doloroso, foi o resultado eleitoral do PS. No final do ciclo do jardinismo, numa altura em que as críticas foram mais do que muitas aos desvarios gastadores de Jardim, e depois de um período de grande aperto, à semelhança do que aconteceu com os restantes portugueses, esperava-se outro resultado do PS/Madeira. O que aconteceu foi um desastre que retira voz e protagonismo ao partido a nível regional. Esteve por isso bem o líder regional que imediatamente se predispôs a sair de cena.

O resultado do PS/Madeira lança também um sério aviso ao PS quanto à política de alianças em que eventualmente poderá estar a pensar, se é que alguma chegou a ser pensada, para as eleições legislativas. Uma má escolha de parceiros e a realização de alianças contranatura, apenas por razões de eleitoralismo puro, poderão ter um efeito contraproducente e deitar tudo a perder. Seria bom que António Costa e a sua equipa pensassem nisso não só em matéria de alianças como, em particular, na hora de escolher os candidatos que preencherão as listas. Já chega de erros de casting e de carreiristas oportunistas e impreparados. Se não se aproveitar a oportunidade para se corrigir o que antes se fez mal, isso poderá nunca mais vir a ser possível rectificar, com consequências ainda mais nefastas do que as verificadas na Madeira.

O CDS/PP obteve um mau resultado. As palavras de Paulo Portas soam por isso a falso e tentam disfarçar o que não pode ser disfarçado. Passar de 17% para 13% e perder dois deputados só pode dizer-se que seja um resultado "consistente, resistente e sustentado" quando se está a falar para tolinhos.

Bom resultado teve, apesar de tudo, o BE ao conseguir dois deputados. Mas a palma levou-a coligação JPP (Juntos pelo Povo). Ficar com o mesmo número de deputados que o PS/Madeira na AL regional é obra e poderá indiciar, aqui sim, novidades na oposição.

Quanto ao mais, o resultado melhorado do PCP continua a não esconder a sua irrelevância, debilidade e incapacidade para sair do reduto onde há décadas ficou acantonado.

Aguardemos, pois, para se perceber até que ponto teremos mudanças na Madeira. E se os resultados agora verificados poderão vir a ter influência nacional e nos sempre efervescentes sonhos políticos do "deposto" Alberto João Jardim.

O comentário da semana

Pedro Correia, 29.03.15

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«A candidatura à Presidência de Henrique Neto, socialista, vem colocar perante os olhos dos portugueses o problema que algum PS tenta manter inominável: o tema da corrupção.
Henrique Neto foi sempre claro quando Sócrates era primeiro-ministro: abusava do poder que tinha, não eram claros os motivos das suas decisões económicas, as grandes concessões outorgadas eram penalizadoras para os portugueses, estava a levar o país para a bancarrota. E, sobretudo, tinha trazido para o governo do PS a falta de ética e a discricionariedade.

Passados seis anos prova-se que os alertas de Henrique Neto deveriam ter sido ouvidos. Inclusive, a realidade ultrapassou os seus alertas. A fraude fiscal, o dolo no exercício de funções públicas e a corrupção transformaram Sócrates num arguido preso preventivamente.

Com António José Seguro, independentemente da apreciação política que se faça da sua acção, houve uma matéria em que ele fez um corte com o passado: o projecto político do PS não era a prática política de Sócrates, o PS é um partido em que a ética republicana tem de ser observada em todas as circunstâncias.

Com esta agenda, António José Seguro, que politicamente herdou a bancarrota do governo de Sócrates, colocou o PS vitorioso em todas as sondagens de uma forma sustentada.

António Costa, levado ao colo pela esquerda do PS (e de fora do PS) e pela simpatia de grande parte da opinião publicada controlada pelos editores do costume (que faziam das aparições taralhocas de Mário Soares a agenda política de cada semana), era a fénix que vinha reconstruir o PS na sua “alma ideológica”, com o aplauso dos socratistas, entretanto transformados em tropa de choque da ascensão de Costa. E António Costa, accordingly, baniu do discurso político tudo o que de mal Sócrates fez ao país.
Resultado: passado o tempo da hagiografia, Costa colocou o PS na mesma situação em que António José Seguro o tinha deixado. Com a agravante de, não se afastando da política de Sócrates, não se afasta da corrupção que ele representa.

A corrupção das elites é um tema eleitoral incontornável em 2015.
E, ao contrário do que algum mainstream gostaria, não vai ser uma agenda minoritária de grupúsculos políticos.
Vai ser a agenda principal dos eleitorados de centro-esquerda e centro-direita.


A candidatura de Henrique Neto é bem-vinda.
Vai obrigar o PS enfrentar os seus demónios.»

 

Do nosso leitor Maurício Barra. A propósito deste meu texto.

Navegações

Luís Naves, 29.03.15

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Uma história muito saborosa, da autoria de Rentes de Carvalho, escrita com gosto e classe.

Sempre achei que a blogosfera era um meio ideal para publicar textos literários, opiniões e crónicas. É um meio ideal de aproximação aos leitores e serve para experimentar coisas novas, enfim, para a oficina do artesão. Alguns escritores usam muito bem o meio, incluindo aqui no delito. Margarida Rebelo Pinto escreve regularmente num blogue com o seu nome. Outros exemplos de autores com grande produção: Bruno Vieira Amaral, Paulo Moreiras, Ana Cássia Rebelo e Eduardo Pitta. A lista não é exaustiva, mas para alguns a blogosfera trouxe notoriedade.

Sobre outros temas, no plano da política, deve ser lido com atenção este texto de Pedro Romano, em Desvio Colossal. E sobre o mesmo tema dos cofres cheios, também este texto de Mr. Brown, em Os Comediantes, sempre muito lúcido.

A grandeza está nas pequenas coisas

José Navarro de Andrade, 29.03.15

No passado dia 2 de Dezembro a Fundação Francisco Manuel dos Santos lançou o meu livrinho "Terra Firme", uma reportagem com laivos de ensaio, ou vice-versa, sobre uma herdade alentejana. À medida que me iam anunciando o programa comecei a sentir-me um pouco fora de pé: o belíssimo cenário mourisco da Casa do Alentejo? um rancho de cante a abrir a sessão? Um beberete final com vinhos e petiscos da planície? Não seria demais para uma obra de amador? A dimensão da coisa ganhou foros de susto quando mencionaram a magna figura convidada para comentar o livro - e que tinha aceite... Vai ser bom para a minha vaidade, pensei, prestigiar-me com a sua presença nesta cerimónia, decerto protocolar. Pois sim... Em vez das triviais generalidades simpáticas do costume, o cavalheiro, que não me conhecia de lado nenhum e a quem eu fora apresentado à entrada, sacou de um exemplar de "Terra Firme" ouriçado de Post-Its e durante uma hora analisou e dissertou em pormenor, com uma acuidade fulminante e uma desvelada gentileza.

Disseram-me depois que Sevinate Pinto era sempre assim.

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