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Delito de Opinião

10 primeiras páginas que, com um bocado de sorte, ainda lerás em Dezembro

Rui Rocha, 19.11.13

  1. Fernando Moreira de Sá entrevista-se a si mesmo, recusa a publicação da entrevista, denuncia-se publicamente por censura e contrata um detetive para se investigar.

  2. Rui Tavares abandona o LIVRE e funda o LIVRE-TRÂNSITO, um novo partido situado à esquerda do centro, mais exactamente a meio caminho para o PS.

  3. Inspirada pelo exemplo de frugalidade do Papa Francisco, Igreja Portuguesa decide pintar todos os objectos de ouro de que é proprietária em tons de cinzento.

  4. César das Neves pega fogo a um pensionista e acusa-o de ser inflamável.

  5. Poiares Maduro e Aguiar Branco promovem Alto Douro Vinhateiro.

  6. Crato lança o Parque Escolher, um programa de reabilitação de escolas particulares que pretende lançar as bases para uma efectiva liberdade de escolha no ensino.

  7. Soares detido depois de lançar falsa ameaça de pomba.

  8. Canceladas as buscas iniciadas há mais de 30 dias na sequência do desaparecimento de Tózé Seguro.

  9. Luanda e Lisboa decidem construir monumento para celebrar as boas relações entre os dois países. Director do Jornal  de Angola atirará a primeira pedra.

  10. Operação Regresso salda-se com mais duas entrevistas de José Sócrates.

Insegurança social - II

Teresa Ribeiro, 19.11.13

O primeiro mandamento do utente da Administração Pública é: "Nunca resolverás os teus assuntos à primeira tentativa".

 

Ontem informaram-me, através da linha verde 808266266, que devia dirigir-me à Praça de Londres. Hoje, quando fui à Praça de Londres disseram-me que já não era ali que se ocupavam de casos como o meu e recambiaram-me para o Areeiro. É a Administração Pública no seu melhor. Incompetente e indiferente aos transtornos que a sua inoperância possa causar. Quando cheguei ao Areeiro já tinha 90 pessoas à minha frente. Não havia lugares sentados para tanta gente. Desisti, mas tenho apenas dez dias úteis para reclamar, não me posso armar em esquisita por muito mais tempo.

Um dia destes perguntei à senhora que me atendeu ao telefone que prazo tinha a Segurança Social para responder aos utentes, só para ver o que me respondia. Engasgou-se logo. Alegou que naquele serviço não podiam esclarecer esse género de dúvidas: "Não estamos afectos a nenhum centro distrital, nem a nenhuma secção, logo as nossas informações são restritas", disse. Aconselhou-me a colocar a questão online. 

As notícias de capa dos jornais no caso de Portugal não se apurar

Rui Rocha, 19.11.13

Jornal de Notícias: Caxinas preparam homenagem a Hélder Postiga.

 

Público: saiba como as políticas da igualdade de género aplicadas na Suécia contribuíram decisivamente para o resultado de ontem.

 

Correio da Manhã: a noite louca de Ronaldo depois da derrota em Estocolmo.

 

Diário de Notícias: Soares acusa governo de massacrar o meio-campo da selecção.

 

I: conheça a história do carteiro de Helsingborg que pedala seis horas por dia, treina duas vezes por semana e derrotou Portugal com um pontapé de bicicleta.

 

O Jogo: Pinto da Costa completamente recuperado.

 

SOL: Durão Barroso na calha para ocupar cargo de seleccionador.

 

Expresso (edição do próximo Sábado): selecção nacional apura-se para o mundial do Brasil - ver desenvolvimento na última página e análise de Nicolau Santos no caderno de economia.

Comparações

Sérgio de Almeida Correia, 19.11.13

Um empresário de "sucesso" da hotelaria deu uma conferência promovida pela Microsoft Portugal para uma plateia de cem directores de escolas. Não estive lá, e duvido que se estivesse em Portugal lá pudesse ir. Mas os jornais para alguma coisa servem e, graças a eles, e à Internet, já agora, fiquei a saber que o referido empresário considera que gerir uma escola ou uma universidade é praticamente o mesmo que gerir um hotel. E exemplifica: "Vocês também têm clientes, os alunos são os vossos hóspedes, e têm de tratar deles. São donos de casa como eu, servem refeições na cantina como eu sirvo no restaurante, têm de assegurar a limpeza, a segurança". E continuou referindo que "vocês são empresários como eu. Gerem uma empresa sem fins lucrativos". (DE, 18/11/2013)

Não sei se alguém saiu da conferência antes do final. Ou se todos manifestaram concordância com o sentido do que foi dito.

Descontando o "vocês", típico de alguns meios e fruto de modismos recorrentes, foi este tipo de discurso que conduziu Portugal ao patamar miserabilista em que se encontra. Esta mentalidade simplificadora de cariz económico, que equipara escolas a hotéis, é a mesma que, certamente, tem equiparado hospitais e urgências hospitalares a casas de massagens, onde o valor/hora e o custo por cama devem ser avaliados em minutos e facturados em consonância. Ou que transformou escritórios de advogados numa espécie de sociedades anónimas onde se "enchem chouriços" com taxímetro à vontade do freguês, ou que fez de agências funerárias uma espécie de sociedades de exploração de estabelecimentos nocturnos, com serviço a la carte, cafés e bolinhos, enquanto se recebem as individualidades que se vêm despedir do falecido.

Quer o referido empresário queira, quer não, ainda há algumas diferenças substanciais entre escolas e hotéis. Não consta que nos hotéis os hóspedes, ou "clientes", como ele diz, sejam ensinados a ler, a escrever, a pensar ou até a comer. Desconfio que os seus "clientes" já cheguem ensinados. E também desconfio que as empresas que o dito empresário gere não sejam "sem fins lucrativos". Caso esteja enganado, então seria aconselhável que ele as transformasse em escolas, de excelência, de preferência, e sem fins lucrativos. E, já agora, que desse depois a receita a uns quantos estabelecimentos de ensino privado cujos proprietários passaram a deslocar-se em viaturas de alta gama, exploram os escolas como se fossem hotéis e ainda se permitem queixarem-se da insuficiência dos subsídios que recebem à custa dos impostos que milhões pagam e que todos os anos são desviados das escolas públicas para os sustentar.

Futebol e política.

Luís Menezes Leitão, 18.11.13

 

Hoje em dia, perante a desgraça em que se afundaram os países europeus, o único vislumbre de orgulho nacional a que os cidadãos podem aspirar é algum sucesso da sua selecção. Não admira, por isso, que os políticos se metam abundantemente nas questões do futebol. Quando Cristiano Ronaldo foi objecto de piadas de gosto duvidoso por parte de Blätter, Marques Guedes não hesitou em saltar em defesa do ídolo nacional de Portugal. Agora é Marine Le Pen que, depois da derrota da selecção francesa na Ucrânia decidiu chamar aos jogadores "rapazes rebeldes mal-educados sem orgulho nacional". A mensagem sub-liminar é evidente: François Hollande é um mole, incapaz de educar os jogadores franceses e obrigá-los a terem orgulho nacional. Estivesse lá Marine Le Pen e outro galo cantaria.

 

Pessoalmente acho ridículo este tipo de intervenção política. O futebol é um jogo em que só pode ganhar uma das equipas e as vitórias dependem de inúmeros factores, alguns deles puramente aleatórios, como a infelicidade momentânea de um guarda-redes, a marcação ou não de um fora-de-jogo, ou a precipitação de uma falta na grande-área. Mas não há dúvida que as vitórias contribuem imenso para elevar o moral de um país, enquanto que as derrotas são altamente depressivas. É por isso que se Portugal conseguir passar amanhã na Suécia, o povo sairá feliz às ruas, a crise económica será esquecida e o Governo estará de parabéns. Mas, se não passar, será mais uma desmonstração da incompetência nacional, ficando o povo português plenamente convencido de que isto não tem solução, e que precisaremos seguramente de um segundo resgate ou até mesmo de um terceiro. Esteja o Governo atento que a sorte do país joga-se afinal é num campo de futebol em Estocolmo.

Algo de novo à esquerda

André Couto, 18.11.13

Há um novo Partido à esquerda, o Livre.

Não sei se o Rui Tavares tem envergadura política para conseguir ocupar o espaço que reclama, um espaço cada vez mais vazio, fruto de um percurso errático do PS e da indisfarçável inconsequência do BE. Sozinho não conseguirá, mas não me surpreenderia que figuras com mais peso se juntassem nesta cruzada, vislumbrando-se, já, José Sá Fernandes e Joana Amaral Dias. Basta ver que a papoila, símbolo do Partido Livre, é o mesmo do Manifesto Para uma Esquerda Livre, onde participaram insuspeitas figuras, como testemunham os registos. Ao tempo, assinei esse Manifesto, por concordar com as suas premissas, mas a criação de um partido não era uma delas.
A verdade é que há espaço para um CDS à esquerda. Um Partido que radicalize o discurso com parcimónia, que proponha alternativas viáveis, que aponte caminhos e, acima de tudo, que não assobie para o lado chegado o tempo de governar. Sim, "governar" não pode assustar a esquerda além PS. Chamar-lhe-ão uma muleta do PS, talvez, mas se for para o pôr em sentido, influenciar positivamente a sua governação e ajudar na viabilização de soluções, a democracia e a governabilidade País sairão a ganhar. É por isso que a resposta a esta pergunta do David Dinis deve ser afirmativa: é um passo atrás, fomentando a divisão, sim, mas para criar possibilidades de união no futuro.

Blogue da semana

Patrícia Reis, 18.11.13

O blogue chama-se Rodrigo Prazeres Saias (rodrigosaias.blogspot.com) e é um êxtase para os olhos. O melhor dos ilustradores da sua geração, na minha opinião - que vale o que vale - mas é a minha. Além de ilustrações para revistas, jornais, campanhas, livros escolares, capas de livros, o ilustrador e designer, dá-nos ainda uma boa ideia de como surgem as ilustrações e qual é o seu processo criativo através de textos da sua autoria.

Uma imagem vale mais que mil palavras? Pois, será um clichhé. Uma ilustração é um trabalho artístico de grande valor, é uma forma de arte que devíamos considerar e encarar com mais interesse. Vão lá ver, pode ser que concordem comigo. E sim, não sou imparcial, sou fã do Rodrifgo. Azarinho... ou não:) 

Insegurança social - I

Teresa Ribeiro, 18.11.13

A Segurança Social anda a cobrar-me acima do que era suposto. A situação arrasta-se apesar dos meus esforços para tentar resolvê-la. A consequência disto é que continuam a enviar-me periodicamente notas de dívida exigindo pagamentos indevidos, ainda por cima com juros acrescidos. Comecei por reclamar por escrito, depois pela linha de atendimento permanente, através da qual fui conseguindo entrevistas no centro do Areeiro, em Lisboa. É para lá que eu tenho caminhado a espaços, durante os últimos meses. Dou-lhes os elementos que pedem, pois não tenho nada a esconder, garantem-me uma resposta que nunca vem, ou vem sem justificação, algo que me é necessário se quiser contestá-la. E é neste círculo vicioso que me vão consumindo, à espera que baixe os braços.

Não por acaso, à entrada deste centro está sempre um polícia aparatosamente artilhado, com pistola à vista, algemas e cacetete. Num desses dias em que fui queimar o meu rico tempo para mais uma entrevista, meti-me com ele: "Isso é para desencorajar os mais nervosos?" Foi simpático. Sorriu e respondeu-me: "Pois, às vezes as pessoas perdem a cabeça".

Como eu as entendo.

O comentário da semana

Pedro Correia, 18.11.13

«É verdade que as 'Escolas Superiores de Educação' vieram descredibilizar o ensino. Mas o que dizer de milhares de professores, cuja formação foi feita em Universidades públicas e que, agora, vêem o seu 'estatuto' de profissionais ser posto em causa? E o problema coloca-se aqui. Para ser uma 'avaliação' justa, teria de haver uma selecção no que diz respeito às instituições onde se obteve a formação. Mas isso algum vez vai ser possível? Claro que não! A ideia de se atribuir o mesmo estatuto a todos, de se comparar universidades com ensino politénico, fez com que não haja distinção entre o que é de qualidade e o que não é. E há outras questões que se levantam: que tal professores que, não tendo colocação, decidiram investir na sua formação e, neste momento, além de serem mestres (por universidades públicas e pré-Bolonha), encontram-se a concluir doutoramentos (também em universidades públicas) ou em pós-doutoramentos?! Esses deverão ser colocados ao mesmo nível daqueles que, tendo apenas, licenciatura, leccionam há mais anos do que eles?! Mas o que está em causa com esta 'avaliação' que o ministro quer exigir?! Não é avaliar os conhecimentos?! Então, um professor que tem mais habilitações a nível científico não está mais apto do que um que, tendo apenas um curso superior, passou uma década a reproduzir os conhecimentos que vinham nos manuais?!

É fácil criar rotinas na disciplina que se lecciona, quando se repetem conteúdos ao fim de dez anos... Não é preciso preparar uma aula...»

Da nossa leitora Isa. A propósito deste texto do Rui Rocha.

Ler

Pedro Correia, 17.11.13

Nem sei como comentar. Da Joana Lopes, no Entre as Brumas da Memória.

Derrota. Do Mr. Brown, n' Os Comediantes.

Breve relação do infortúnio. Do Filipe Nunes Vicente, no Declínio e Queda.

Custava-te muito dizer, preto no branco. Do João Lisboa, no Provas de Contacto.

Dividir para reinar. De Maria do Carmo Vieira, no Aventar.

O meu sobrinho Rui. De José Medeiros Ferreira, no Córtex Frontal.

As notícias da minha morte... Do Paulo Gorjão, na Bloguítica.

A desgraça pública e a política de alianças. Do Rui Bebiano, n' A Terceira Noite.

A esquerda portuguesa continua a mesma, versão 2013. Do Filipe Moura, na Esquerda Republicana.

Os insurgentes. De Paulo Pinto, na Jugular.

A bactéria da unicidade. Do João Tunes, na Água Lisa.

Empreendedorismo político. Do Luís Rainha, no i.

Desta, Rui Tavares, liberto-me já. Do João José Cardoso, no Aventar.

 

(actualizado)

Este país não é para velhos!

Helena Sacadura Cabral, 17.11.13

A nossa sociedade não está preparada nem para velhos nem para solidões. Acontece que aqueles são cada vez em maior número - melhores cuidados de saúde e a saída de jovens - e carregam quase sempre consigo estas últimas. É algo que toda a vida me impressionou, já que pertenço a uma família com o hábito de se reunir à volta dos seus.

Há dias, no supermercado, uma senhora de muita idade agarrou-me no braço e disse:

- peça-lhes que pensem nas nossas porções

- que porções? disse eu

- de tudo. Os velhos sozinhos e com dificuldades levam comida para casa que acabam por comer já rançosa. Veja a manteiga, a margarina, a banha, o azeite, o óleo, feijão, farinha, açúcar, são tudo embalagens muito grandes para uma pessoa só. Quando as acabamos até já fazem mal.

Na altura resolvi-lhe o problema à minha maneira e dividi as porções dela ao meio. Ficou feliz. Mas, depois disto, tudo irá continuar na mesma.

Prometi-lhe que lhe daria voz. Aqui estou a faze-lo, sabendo que ela tem razão e talvez fosse a altura de, com menos pergaminhos higiénicos, se pensar nos nossos velhos e na forma de lhes facilitar compras e consumo, criando embalagens de conteúdos menores. Eu sei que a ASAE acabou com a venda a peso destes produtos. Mas os velhos não acabaram e com as novas disposições acabam por ingerir alimentos em piores condições. 

Se vendem fiambre e queijo às porções, porque é que não poderão estender o processo aos outros produtos desde que em condições sanitárias idênticas? Alguém se lembra disto? Ou pensam que nunca serão pobres nem velhos?!