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Delito de Opinião

O que estou a ler (17)

Fernando Sousa, 30.09.13

 

Não sei quantas vezes interrompi um livro ou o pus de lado. De forma que esta nota teria mais cabimento numa rubrica como a do Pedro sobre livros deixados do que aqui. Mas foi o que acabou de acontecer com mais um da Mercè Rodoreda. A gente veste a roupa conforme o frio e talvez seja assim também com os livros e a disposição, isto para libertar desde já a autora de A Praça de Diamante, de qualquer culpa. Para ir ao ponto: deixei A Morte e a Primavera a meio, literalmente a meio, ainda sem saber como lá cheguei. O relato começou por me atrair, na Feira do Livro, pelos seus 3 euros e a meditação sobre os ciclos da vida, mas assim que me senti um freguês da sua aldeia desolada, tanto a cheirar a estrume como a glicínias, entre gente sem cara, cruel e comedora de cavalos, divertida a esmagar abelhas, dentro de uma atmosfera medievalizante e irreal, e de uma escrita obsessiva, comecei a torcer o nariz e a roer as unhas, e a sentir-me mal; e interrompi. Já me tinha acontecido isso com Quanta, quanta guerra e o seu herói, Adriá Guinart, que nunca a viu e tudo o que fez foi matar uma velha. Quem uma vez leu A Praça do Diamante quis com certeza ler mais alguma coisa de Rodoreda, cuja vida, a fugir de franquistas e nazis, justifica a densidade dramática da sua escrita, que se nos mete debaixo da pele, que inflama. Mas como disse precisamos de estar com a disposição certa, e eu não estava. [Ia fazer também um apontamentozinho sobre o Brumário, de Arménio Vieira, Prémio Camões de 2009, mas inibi-me]. Entretenho agora a alma com o Meio Sol Amarelo (ASA), da nigeriana Chimamanda Adichie. Já sei para onde me leva e ainda vou no cenário, nos sonhos revolucionários do senhor Odenigbo e nos amores das irmãs Olanna e Kainene; cheira-me a petróleo e a genocídio. Era muito miúdo quando o pivot da televisão anunciou que iam transmitir imagens susceptíveis de chocar as pessoas e mandaram-me para a cama. Terá sido aí por 1967. Ainda hoje vejo pela frincha da porta um ibo a ser fuzilado. Disse “ai, aiiii” – e caiu. Tenho-o nos ouvidos. Mas hoje já ninguém me manda para a cama.

 

E tu, Ivone? Que leituras andas a fazer?

Bernardino Soares e o resto

jpt, 30.09.13

 

Acerca de ontem, cá de longe:

 

Em 1985 fui professor na escola do Catujal, Sacavém (na altura um para lá do Trancão verdadeiramente dantesco). Desde então que posso dizer que tenho uma ligação biográfica a Loures. Como tal realço a vitória do PCP nessa câmara, um dos factores que torna o "Partido" o grande vencedor de ontem aí em Portugal. Saúdo, particularmente, o cabeça-de-lista, Bernardino Soares, o político português que em XXI mais defendeu a democraticidade da Coreia do Norte e justificou as posições do poder do Zimbabwé. Do resto que leio (principalmente aqui no DO e nas ligações aqui deixadas) pouco consigo concluir. Alguns comentadores de futebol ganharam as suas eleições e outros perderam-nas. O Presidente da República, a meio do segundo mandato, propõe a mudança da lei eleitoral exactamente no dia das eleições - quando recrutei em Mafra (onde agora o PS ganhou a câmara*) aprendi a expressão "estar a dormir na forma", que me parece adequada a esta situação. O presidente da Comissão Nacional de Eleições disse que no fim-de-semana eleitoral não poderíamos comentar política junto dos nossos amigos. E quando lhe perguntaram se era só no facebook ou se também nos blogs que isso nos era proibido gaguejou, sem saber bem o que dizer. Aposto que não será transferido para outras funções. O caciquismo patrimonialista, coisa típica dos recônditos recantos rurais e/ou insulares, terras de bagaços matinais ou vinho morangueiro, começou a ser esfacelado na Madeira e em alguns outros lugares. O racionalismo pós-partidocrático vingou em Oeiras. O PS ganhou imensas câmaras e em votos. O presidente do PS teve uma grande derrota. De Sintra tenho algumas mimadas memórias, passeios e até pic-nics com meus pais. E, mais tarde, alguns charros fumados ali pela Adraga. Tive e tenho alguns amigos sintrenses, até de pendor socialista, que entram em convulsões quando se lembram da "família Estrela" acampada lá na terra, antes de partir com armas e bagagens para Estrasburgo. Elegeram agora, por coisas da termodinâmica, Basílio Horta. Ao longo dos anos tenho contactado com várias pessoas que trabalharam sob Horta. Dizem-no um indivíduo tirânico, inepto, com vocação para o show-off. Assim fica entregue o património mundial da UNESCO. A campanha de sensibilização contra os piropos não colheu grande sucesso e o BE afundou-se, ainda mais, nas eleições. O seu co-líder João Semedo, que me dizem ser um tipo muito decente e capaz, nem a vereador ascendeu. Está visto, a campanha para a liberalização do consumo do cannabis, já tão perturbada por esta "careta" crise económico-financeira, será mais uma vez adiada. Mesquita Machado não se fez suceder. Alguns delegados camarários da Mota e Engil e da Teixeira Duarte não foram eleitos. Há um milhão de mortos nos cadernos eleitorais, que não são actualizados desde o milénio passado. Alguns proto-delegados camarários da Mota e Engil e da Teixeira Duarte foram eleitos. Em Maputo a final do campeonato africano de basquetebol feminino: Moçambique perdeu por um cesto, mesmo no fim, com a malvada Angola. O Real Madrid não está bem, nem o Manchester United. Villas-Boas cumprimentou Mourinho antes do jogo que os opôs. Um português ganhou um torneio de ténis no circuito ATP. Um outro português ganhou na ponta final uma corrida internacional de ciclismo. Alguém ganhou o mundial de hóquei em patins. Ah, e Bernardino Soares ganhou em Loures: prevejo geminações com urbes zimbabweanas e norte-coreanas ...

 

* O PSD é que ganhou a Câmara de Mafra. Fico agradecido aos que me alertam para o facto.

Ler (especial autárquicas)

Pedro Correia, 30.09.13

A ver as autárquicas. Da Rita Dantas, no Boas Intenções.

Primeiras impressões. Do Mr. Brown, n' Os Comediantes.

Noite eleitoral televisiva. Do Eduardo Saraiva, n' O Andarilho.

Balancete. Do Luís M. Jorge, no Declínio e Queda.

Rescaldo das eleições autárquicas. De Ricardo Campelo de Magalhães, n' O Insurgente.

O PCP é o grande vencedor das eleições autárquicas. De Ricardo Ferreira Pinto, no 5 Dias.

Hecatombe laranja, vitória de Costa e Seguro a ver navios. Do Daniel Oliveira, no Arrastão.

Vitórias e derrotas. De Miguel Botelho Moniz, n' O Insurgente.

Os votos. Do João Gonçalves, no Portugal dos Pequeninos.

Os "escolhidos" e os escolhidos. De Suzana Toscano, na Quarta República.

Terceiras impressões. Do Mr. Brown, n' Os Comediantes.

Brancos & nulos. De Carlos Loureiro, no Blasfémias.

Autárquicas - Manual de boas práticas à borla. Do Fernando Moreira de Sá, no Aventar.

As autárquicas, de novo. Do Paulo Gorjão, na Bloguítica.

E é assim. Do Filipe Nunes Vicente, no Declínio e Queda.

 

(actualizado)

A extinção dos dinossauros.

Luís Menezes Leitão, 30.09.13

 

Se as eleições autárquicas serviram para alguma coisa foi para derrotar estrondosamente a estratégia suicida de candidatar dinossauros às câmaras vizinhas numa clara fraude à lei de limitação de mandatos, escandalosamente sancionada pelo Tribunal Constitucional. De facto, com as excepções de Ribau Esteves em Aveiro e Álvaro Amaro na Guarda, as candidaturas de dinossauros autárquicos foram estrondosamente derrotadas. Seara teve um resultado humilhante em Lisboa e Luís Filipe Menezes deixou que a Câmara do Porto fosse parar às mãos de um independente sem qualquer currículo político. De Fernando Costa em Loures e Moita Flores em Oeiras nem vale a pena falar. Para a próxima é bom que os partidos aprendam a lição e saibam sobrepor ao interesse pessoal dos candidatos a concorrer eternamente às autarquias o interesse público da renovação de mandatos. Se não o fizerem nunca conseguirão ter o respeito dos eleitores.

Reflexão sobre as eleições autárquicas (2)

Pedro Correia, 29.09.13

 

6. Chega-nos da Madeira uma das melhores notícias deste escrutínio: pela primeira vez numa noite eleitoral, Alberto João Jardim não poderá cantar vitória. Aconteceu na região autónoma, com décadas de atraso, algo que há muito se impunha: uma mobilização contra o monopólio laranja na ilha, selada sem olhar a mesquinhos interesses de geometria partidária. Está de parabéns a coligação anti-Jardim, com a inédita conquista da câmara municipal do Funchal e reflexos em pelo menos seis outros dos 11 concelhos regionais, onde o PSD disse adeus à maioria. E mais dilatada seria ainda a mudança na Madeira se os comunistas não tivessem ficado à margem, fechados -- como de costume -- à convergência com outras forças políticas.

 

7. Contrariando todas as expectativas, o mais imprevisível líder político português tem motivos para sorrir esta noite. Desde logo porque o CDS foi o único partido a recomendar o voto em Rui Moreira, recusando aplicar no Porto a lógica da aproximação aos sociais-democratas que ocorre a nível nacional. Mas sobretudo porque soma novas câmaras municipais a Ponte de Lima, a única onde tinha maioria até agora. Albergaria-a-Velha e Vale de Cambra (nos distritos de Aveiro), Velas (nos Açores) e Santana (na Madeira) são os quatro novos municípios pintados de azul. Do "irrevogável" abandono do Governo, jamais concretizado, a este pequeno brilharete nas urnas num intervalo de dois meses: o percurso de Paulo Portas prossegue em rota de montanha russa.

 

8. António José Seguro fez a mais esforçada campanha destas autárquicas. Percorreu o País, incansavelmente, promovendo candidatos. Precisava, para sair deste escrutínio com uma vitória que não soasse a empate, de descolar dos 38% obtidos pelo PS em 2009, ainda sob o comando de José Sócrates. Este objectivo ficou em parte por alcançar: baixou em votos e percentagem global. Tem a partir de agora a presidência da Associação Nacional de Municípios e o maior número de câmaras de sempre, é certo, mas a mais emblemática vitória socialista foi protagonizada pelo seu rival interno, António Costa. Viu fugir, à esquerda e à direita, importantes municípios socialistas: Braga, Évora, Beja, Guarda, Loures e Matosinhos. Balanço: um pequeno passo na direcção que ambiciona. Mas certamente mais curto do que sonhava. E o crescimento eleitoral da CDU é má notícia para o PS.

 

9. Muito deram que falar, ao longo do ano, as candidaturas em algumas câmaras de autarcas que já tinham cumprido três mandatos noutros municípios. O Tribunal Constitucional decidiu, e bem, que não lhes poderia ser sonegado esse direito político. Alegavam os defensores da tese oposta que isso colocaria tais candidatos em concorrência desleal perante os eleitores. Essa vantagem aconteceu? Em Lisboa não: Fernando Seara sofreu uma derrota humilhante, aliás mais que previsível, e a Luís Filipe Menezes sucedeu algo semelhante no Porto. Mas quatro capitais de distrito passam a ser encabeçadas por autarcas visados nessa polémica: Aveiro (Ribau Esteves), Beja (João Rocha), Évora (Carlos Pinto de Sá) e Guarda (Álvaro Amaro). O mesmo acontece com a CDU em Alcácer do Sal e o PSD em Castro Marim.

 

10. Vencedores da noite, além dos já referidos? Muitos e variados. Destaco apenas alguns. O líder parlamentar comunista, Bernardino Soares, que marca pontos decisivos para a futura sucessão de Jerónimo de Sousa nas fileiras comunistas ao arrebatar Loures ao PS, recuperando 25 pontos percentuais nesta vitória. O social-democrata Ricardo Rio, que põe fim a 37 anos de absoluta hegemonia rosa em Braga. O socialista Paulo Cafôfo, agora eleito presidente da câmara do Funchal e nome já incontornável para o pós-jardinismo. E Rui Rio, que não concorreu a lugar algum mas pode cantar vitória ao saber que o seu sucessor no Porto também se chama Rui. Passos Coelho deve estar mais preocupado com Rio do que com Seguro. Eu, no lugar dele, estaria.

 

(actualizado)

Reflexão sobre as eleições autárquicas (1)

Pedro Correia, 29.09.13

 

 

1. António Costa obtém a maior vitória de sempre em Lisboa, conseguindo um inédito terceiro mandato consecutivo do PS no executivo municipal. Vence em dois planos: derrota a direita que o enfrentou em coligação e o sectarismo à sua esquerda. Governará o maior município do País como entender, até porque se sagrou vencedor em quase todas as 24 freguesias da capital e dispõe finalmente de maioria na Assembleia Municipal. Torna-se, a partir de agora, o maior triunfo eleitoral da sua área política: ninguém à esquerda soma tanto como ele. Num futuro próximo será candidato ao que entender, à revelia dos estados de alma do actual secretário-geral do partido.

 

2. O maior triunfador da noite, em termos individuais, foi Rui Moreira. Um verdadeiro independente, ao contrário de vários outros que concorreram às autárquicas. A sua vitória resulta da genuína cidadania dos portuenses, que insistem em pensar pela sua própria cabeça, sem obediência a diktaks partidários. Mesmo sem dispor de maioria absoluta, o sucessor de Rui Rio não terá a menor dificuldade em gerir o município. E ganha projecção nacional. A sua vitória fará mais do que mil editoriais na imprensa pela alteração dos mecanismos de decisão no interior dos partidos, algo que constitui um imperativo para o aperfeiçoamento e regeneração da democracia portuguesa.

 

3. A coordenação autárquica do PSD foi catastrófica, designadamente com as escolhas de candidatos gerados pela mais pura lógica aparelhística, sem interligação com o eleitorado nem a menor hipótese de sucesso nas urnas, nomeadamente em municípios como Gaia, Sintra, Covilhã, Portalegre ou Almodôvar. E, nessa medida, não adianta apontar culpas a mais ninguém: Pedro Passos Coelho é o grande responsável pela derrocada eleitoral dos sociais-democratas. Pelas escolhas directas que fez e pelas opções que validou olhando mais a critérios de estrita confiança pessoal do que de competência política.

 

4. Os comunistas triplicam o número de capitais distritais sob a sua gestão, recuperando Évora e Beja além de manterem o seu bastião de Setúbal. E na área metropolitana de Lisboa ganham Loures, onde o PS predominava. É o melhor resultado eleitoral da CDU desde 1982. Uma boa notícia para todos quantos recusam ver a democracia afunilada na lógica do rotativismo bipartidário, confirmando a forte vocação autárquica do partido liderado por Jerónimo de Sousa e a sua fortíssima implantação um pouco por todo o Alentejo. Somando este sucesso à sua sólida base sindical, não custa vaticinar que o PCP sairá destas autárquicas robustecido como voz de protesto contra o Governo a nível nacional.

 

5. O Bloco de Esquerda chegou a este dia eleitoral com apenas uma presidência de câmara. Sai dele sem nenhuma: perdeu o solitário município de Salvaterra de Magos para os socialistas e não conseguiu ver João Semedo eleito vereador em Lisboa. Sem bases sindicais, com uma presença residual no mapa autárquico, os bloquistas permanecem em crise de identidade, aliás acentuada desde que entrou em funções a actual liderança bicéfala: ou se limitam a secundar as grandes opções estratégicas do PCP enquanto partido de protesto ou descolam desta linha para se tornarem o parceiro preferencial de coligações com o PS. Quanto mais tarde se resolver este dilema pior será para o mais jovem partido português com representação parlamentar.

 

 (actualizado)

Braga forte

Rui Rocha, 29.09.13

A vitória de Ricardo Rio parece já inquestionável e com um resultado expressivo. A participação terá sido extremamente elevada, com números de abstenção muito abaixo da média nacional. Acabou um tempo de vergonha para a cidade e para o Partido Socialista que insistiu, ao longo de demasiados anos, em candidaturas cuja marca distintiva foi o nepotismo, a panelinha e o desastre urbanístico. Que Ricardo Rio saiba estar à altura da confiança que mereceu. E que o PS possa regenerar-se. A bem da cidade.

Ang Lee poderá realizar um filme no Porto

Rui Rocha, 29.09.13

Confrontado com a possibilidade de Woody Allen não filmar no Porto - recorde-se que num sprint dramático António Costa tentará convencer o aclamado cineasta nova-iorquino a realizar Meia-Noite na Praça da Figueira - o candidato à  presidência da Câmara Municipal do Porto não se dará por vencido e, se ganhar as eleições, irá anunciar brevemente uma notícia verdadeiramente bombástica. Na verdade, fontes bem informadas revelaram ao Delito de Opinião que Menezes conseguiu convencer Ang Lee a realizar um filme na cidade invicta. A película, intitulada A Vida de Pi-nto da Costa, relatará as peripécias de um presidente de um clube de futebol que, durante um passeio de barco rabelo na Ribeira, é surpreendido por uma violenta tempestade e acaba por encontrar um corpulento Carlos Abreu Amorim escondido, no convés, debaixo de uma lona.

Uma hora depois

Patrícia Reis, 29.09.13

A escola estava cheia, muita gente nova, famílias com crianças a desatinar, chuva e depois a tristeza de ver a má informação e organização numa freguesia que se quer diferente, dinâmica.

Ao fim de uma hora e pouco, uma senhora respondeu à funcionária da junta: "Ah, não é aqui? Pois, da última vez foi aqui. E eu não sei onde é a escola Manuel Damásio, já se faz tarde, os miúdos precisam de almoçar. Voto na próxima."

Como esta senhora, muitos outros foram de abalada, indiferentes ao apelo ao voto, indiferentes à ideia de cidadania, de democracia, do que foi conquistado há quase 40 anos.

Eu estive, alegremente, em duas secções de voto e depois, fiquei numa secção diferente daquela que julguei certa, mas votei.

Nos três papéis. Três cruzes, nada de bonecadas ou asneiras. Senti-me quase crescida.

O comentário da semana

Pedro Correia, 29.09.13

«Uma coisa é aprender a mexer cada peça, outra diferente é saber jogar xadrez, mesmo que se decorem umas aberturas empiricamente.

Essencialmente tratou-se de um assunto político mundial, onde há um senso comum óbvio - devemos ter cuidado com o excesso de poluição, e não apenas atmosférica.
Algo completamente diferente, e isso fez/faz parte de uma agenda política que mascarou factos científicos, será pensar que o aquecimento se deve apenas à poluição.
Falta aí na lista, o próprio ciclo terrestre, que tem a ver com oscilações de órbita, por exemplo do eixo de rotação. São conhecidos ciclos de centenas de anos (aprox. 500 anos), que nos atiraram para uma pequena "idade do gelo" desde o Séc. XVII, saindo de um "pequeno verão" do fim da Idade Média.

O século XIX, início da poluição industrial massiva, foi dos séculos mais frios de que há registo, os gelos chegaram a ligar o estreito de Bering, havendo até notícias de exploradores que se propuseram a passar a cavalo.
As Passagens Noroeste e Nordeste foram classificadas como impossíveis de travessia por causa do gelo compacto. Amundsen apenas passou no Séc. XX com quebra-gelos.
No entanto, desde Melgueiro, a muitos outros exploradores portugueses anteriores, essas passagens foram feitas no período quente em que havia maior degelo. O gelo depois impediu a passagem e os registos foram ignorados, também por outras razões de encobrimento estratégico.
Tirando o caso de Veneza, que se está a afundar no pântano veneziano, a maioria das cidades históricas afastou-se significativamente da costa.
Em Portugal, basta ver o caso de Alfeizerão ou Atouguia da Baleia, que chegaram a ser grandes portos. Do lado oposto, não há nenhuma cidade histórica que tenha sido ameaçada por avanço águas, os centros são interiores, e a zona portuária foi-se afastando na maioria dos casos (ex: Roma, Atenas).

Houve um recuo de águas, não apenas por mão humana, e o caso holandês, de ganhar terrenos, não teria sido possível sem esse arrefecimento.
É claro que agora, seria natural o aquecimento... e toda a falta de planeamento que levou à construção no limite costeiro corre risco. Há assim uma certa vontade de manter a Terra nessa pequena idade do gelo, de que deveria sair agora naturalmente, mesmo sem poluição...

Portanto, houve conveniência de muitos actores em misturar ciência com política, para prejuízo da clareza do problema. Esse tipo de ilusões informativas pode fazer ganhar algum tempo, mas fica aprazado.»

 

Do nosso leitor da Maia. A propósito deste texto do João André.

Como turistas japoneses

Teresa Ribeiro, 29.09.13

Houve um tempo em que se gozava muito com os turistas japoneses por dispararem com as suas Minoltas e Nikons sobre tudo o que mexia. Agora esse frenesim passou a ser global. Com os telemóveis fotografa-se tudo, até a roupa nas montras (fiquei a saber através de uma reportagem de rua que vi na televisão).

Este frenesim nipónico corrompe o que deveria ser sempre a nossa relação com a fotografia: uma selecção criteriosa das imagens ou momentos que queremos resgatar do fluxo temporal contínuo, desafiando as leis do espaço e do tempo.

A banalização da fotografia está a roubar a alma aos retratos.

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