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Delito de Opinião

Diário irregular

Sérgio de Almeida Correia, 30.06.11

30 de Junho

 

O calor não desmotiva. A crise, sim.

 

A leitura de um livro pode aproximar-nos do seu autor, embora haja autores em relação aos quais, por mais que tentemos, nunca nos conseguimos aproximar. São aqueles autores cujos livros é que lhes moldam o carácter. Aqueles cuja personalidade nunca adquiriria dimensão fora da sua própria obra porque eles são a obra, o tempo, o físico e o virtual que passa pelas suas palavras. As páginas que escreveram, os versos que deixaram, não são extensões da sua personalidade. Esta é que é uma ampliação daquelas e que nos ajuda a melhor compreendê-las, às palavras que teceram, aos pensamentos que por um milagre de apropriação colectiva se tornam de todos e de cada um de nós. Borges é um desses casos. As entrevistas que deixou são tão importantes para percebermos a alma que vive nas suas páginas como a tinta que nelas repousa.

 

Gonçalo M. Tavares venceu mais um prémio. Os prémios, um prémio, têm o valor que lhes queiramos atribuir. Significam a projecção sem a qual muitos não chegarão à obra. Mas é a entrevista, em especial aquela em que o autor partilha com o leitor a voz, o tom, os tiques, as pausas, as inflexões do discurso, por vezes o ritmo da respiração, que torna a obra mais próxima.

 

Num programa que merecia honras de televisão, a TSF, graças a Carlos Vaz Marques, tem levado até muita gente a extensão de muitas páginas, dando-lhes voz e profundidade. A excepcional entrevista que Gonçalo M. Tavares lhe deu permitiu-me perceber um pouco melhor gente que passou a fazer parte da minha vida como Lenz Buchmann ou o senhor Bloom. É possível reconhecer um autor pela forma como escreve, pelos temas que aborda, pela utilização que faz, ou não faz, do leitor. Um grande autor é aquele que só se revela na clareza do que escreve e que faz de uma escrita simples na aparência um mundo que todos podemos percorrer e com o qual é possível identificarmo-nos sem que para isso tenhamos de ser seduzidos.

 

Há intervenções parlamentares que deviam ser interrompidas pelo expedito corte do pio. Bastava desligar o sistema de som. Essa deveria ser uma prerrogativa da senhora presidente. Sem aviso prévio. Depois, é claro que não podiam deixá-los retomar a lengalenga. E se tal acontecesse os discursantes seriam multados. Quase todos estiveram bem. Quase, digo eu, porque aquilo que saiu da bancada do PSD, logo para primeiro dia, foi inacreditável. Ninguém espera que dos partidos que suportam o Governo venham as críticas ao programa apresentado ou as perguntas incómodas. Mas começar uma legislatura elogiando o chefe, antes mesmo deste ter realizado alguma coisa, gabando-lhe “a coragem” e “a rapidez”, num tom que de tão encomiástico começa logo a parecer suspeito, não deve ter sido agradável de ouvir para o primeiro-ministro. Ser o líder parlamentar a cair em tal ridículo infunde receio quanto ao que se seguirá. Na anterior legislatura viu-se no que deu a unanimidade e o elogio fácil. A intervenção desta tarde do líder parlamentar do PSD merecia ter sido feita no parlamento madeirense. Passos Coelho não a merecia. Há rasgos que tresandam a subserviência e soam a insulto. Para quem os recebe; mais para quem os ouve. E não é uma questão de “sensibilidade social”.

Cabanas, dez anos depois

Pedro Correia, 30.06.11

 

Quem disse que não devemos voltar a locais onde já fomos felizes? Uma década depois, regresso a Cabanas e sinto-me como se nunca tivesse trocado este magnífico cenário de férias por nenhum outro. Do apartamento onde estou, vislumbro três níveis diferentes de água: num primeiro plano a piscina, sobrevoada por andorinhas ao amanhecer e cegonhas ao fim da tarde; num plano intermédio, a Ria Formosa, que cada vez faz mais jus ao seu nome; além de tudo, o oceano. À varanda, chega-me o ruído compassado das ondas do mar enquanto os barcos de pesca circulam em várias direcções, preparando-se para abastecer os restaurantes. Amanhã, uma vez mais, o maior dilema será a escolha do local onde jantar. No Pedro, ensopado de enguias ou arroz de lingueirão. No Ideal, a insuperável sopa do mar em pão de trigo alentejano. N' A Fonte, o inevitável peito de pato com mel. E no restaurante Noélia e Jerónimo, no extremo oriental da freguesia, há raia de alhada, açorda de conquilhas e pataniscas de polvo com arroz de coentros. A saborear tranquilamente na esplanada enquanto o sol declina no horizonte.

Quem disse que não devemos voltar a locais onde já fomos felizes?

Troikos e baldroikos, o velho programa do novo governo e outras coisas igualmente extraordinárias. E um par de botas

Rui Rocha, 30.06.11

Os troikos apresentaram o velho programa do seu novo governo. Os baldroikos oscilaram entre a sensatez de Maria de Belém Roseira e a desfaçatez dos aspirantes a substituir o Coiso. O tiroliroliro Asiss fala de injustiça. O tiroliroló Seguro está chocado. Já deviam saber que o destino dos indignados é acampar. Se possível, para os lados da Subornne (o meu francês não está grande coisa). Em Paris. Diz-se que o Coiso vai para lá estudar com uma bolsa. A nossa. Enquanto os cães ladram, a caravana atasca-se. Voltando ao balde de água fria, o debate do velho programa do novo governo trouxe coisas realmente extraordinárias. O imposto arremessado sobre o subsídio de natal constitui um momento importante que importa sublinhar. Desde logo, diz que é único. Justiça lhe seja feita, que não engana ninguém. Em 2012 já não haverá subsídio de natal sobre o qual lançar imposto. Graças ao imposto e a outros carnavais, hoje é o dia em que a classe média portuguesa acaba e entra definitivamente nas trevas da idade média. Nestas coisas há sempre aspectos positivos. Na classe média, acabaram os casamentos por interesse. Estes recém-empobrecidos farão  o que sempre fizeram os velhos pobres. Na falta de dinheiro, resta-lhes unirem-se por amor. Outro aspecto de relevo é consagração do princípio do pagador pagador. Pagaremos impostos como se não houvesse amanhã. E amanhã pagaremos taxas demolidoras por todos os serviços que o Estado nos for obrigado a emprestar. O debate revelou ainda que fizemos uma boa opção nas eleições de 5 de Junho. Esta gente é mais séria. Falo sem ponta de ironia. Estes serão capazes de dizer as mentiras necessárias olhos nos olhos. Já não é pouca coisa. E o ministro das finanças, com a sua voz compassada, é o homem ideal para fazer o elogio fúnebre do país. Sim, porque importa dizê-lo. O desfecho final de tudo isto será um de vários. É, temos alternativas. É escolher entre defaults, reestruturações de dívida, saída do Euro e desvalorização da moeda, corte drástico nos salários ou sermos adoptados e subsidiados eternamente pela mãe Europa (em alemão adopção diz-se eurobonds). Uma palavra ainda para a versão portuguesa do e-coli. É um Bacílio. Horta. E uma alusão incontornável ao par de botas. São de defunto. Mas, morremos sem as ditas calçadas. Já as tínhamos hipotecado ao BES.

Crónica de uma poupança inusitada

Leonor Barros, 30.06.11

Estais aflitos? Sem saber o que fazer? Onde cortar? Como poupar? Descansai que o irmão José António Saraiva tem a solução para tão grandes males. Por exemplo, eu que sou rapariga de grandes luxos vou imediatamente adaptar tão sábias considerações à minha vidinha de cortes e recortes e pôr em prática esta pérola: “A propósito de carro, por que não escolher sempre um modelo abaixo daquele que ‘normalmente’ iríamos comprar. Em vez de um Mercedes E, um Mercedes C; em vez de um Audi 6, um Audi 4”. Ora aí está, logo agora que com o meu chorudo subsídio de Natal tencionava adquirir esse tal de Mercedes E, irei humilhar-me a um modestíssimo Mercedes C. Uma maçada. Já em relação aos hotéis em viagem deixar-me-ei de "escolher às cegas um de cinco" estrelas. Sim, a felicidade é possível num de três ou quatro estrelas. Imagine-se. Soubesse eu de tão preciosos conselhos e teria prescindido do Moët & Chandon no dia do meu aniversário há cerca de duas semanas, já para não falar da água Vittel, Vichy ou Voss com que costumo mandar a empregada dar banho às quatro gatas cá de casa. O meu problema está mesmo na depilação, já que a proposta é que em cada cinco visitas à esteticista ou lá como lhe chamam nesses sítios da moda se reduza uma. Contudo, obstarei a este busílis recorrendo a uma técnica que foi sugerida no Facebook a propósito destas pérolas: chamuscar-me-ei nessa vez, mas com o maçarico de queimar o leite-creme para não perder o estilo. Barato e eficaz. De chamuscada não passo.

Oguchialu Chijioke Goma Lambu Onyewu

Rui Rocha, 30.06.11

Se já soube do imposto extraordinário sobre o subsídio de natal e a sua esmerada educação, tal como a minha, não lhe permite berrar palavrões e contar até dez também não ajuda, faça como eu. Experimente dizer o nome do novo reforço do Sporting várias vezes seguidas: Oguchialu Chijioke Goma Lambu Onyewu. Depois de algumas repetições, vai ver que não cura, mas alivia. Convenhamos que é uma merda de um nome difícil de pronunciar pra cara..cóis, não é?

A blogosfera aperta

João Carvalho, 30.06.11

 

O «abraço à beira-praia» que o Joshua já muito bem registou aqui no seu estimável Palavrossavrvs Rex é um abraço de suma importância, pelo cenário e pelo encontro. O cenário é a Madalena, região demarcada de Gaia, e o encontro é o de dois bloggers, que só se falavam de post em post.

Não há dúvida de que a blogosfera aperta. Foi um gosto, Joaquim.

Não há saloiadas grátis

João Carvalho, 30.06.11

 

Quando se passa meia vida no PSD e um dia se quer bater o pé, o melhor é pedir primeiro explicações ao Pacheco Pereira, que tem grande estaleca a trabalhar com os pés.

Sim, que andar a oferecer bombons ao adversário é uma ideia de que o Pacheco Pereira nunca se lembraria. Bate-se o pé, rompe-se uma sola, mas mais nada além disso. Menos ainda ensaiar aproximações ao adversário, que é atitude própria de um valentíssimo saloio.

Qualquer mimo oferecido ao adversário há-de sair caro e acabar mal. Tão caro e tão mal que depois é melhor nem ver o resultado.

Ainda o Bloco de Esquerda

José Maria Gui Pimentel, 30.06.11

A perda de expressão eleitoral do Bloco de Esquerda (BE) é, sem dúvida, um fenómeno intrigante. Os motivos invocados são variados, porém, creio, provêm de uma matriz única. Julgo que o principal problema do BE não deriva da natureza das posições tomadas, mas sim do simples facto de as ter tomado. O BE é, desde o início, um partido de protesto, mais do que o PCP e, contrariamente a este, com um eleitorado muito volátil. Os seus eleitores foram mal habituados desde o início – numa estratégia numa primeira fase muito proveitosa – a ouvir apenas críticas ao sistema, as quais, como se sabe, juntam. Das propostas e tomadas de posições, que, como se sabe, cindem, pouco se ouviu ao longo da primeira longa frase da vida do BE.

 

Nos últimos dois anos, Louçã – numa atitude inicial que elogio – tentou dar início a uma segunda fase no partido, sob uma legitima ambição de tornar o BE num partido normal. Louçã percebeu que um partido de protesto tinha um potencial de crescimento limitado. Porém, não compreendeu que a conduta passada do partido impossibilitava esse caminho. O apoio à candidatura de Manuel Alegre era – concorde-se ou não – perfeitamente racional dentro da lógica de um partido da “esquerda grande”, que almeja disputar a ala esquerda do PS. Todavia, sendo uma tomada de posição, divide o eleitorado. Foi o que sucedeu. Tivesse o percurso do BE sido distinto e o afastamento do eleitorado de protesto seria compensado pela atracção do eleitorado dito normal. Todavia, como se sabe, tal não se verificou. Posto isto, Louçã assustou-se, e aqui é caso para dizer que foi bem pior a emenda que o soneto. Numa tentativa de recuperar o eleitorado de protesto, o BE lançou uma patética moção de censura ao Governo e, não contente, juntou-se (num acto de ingenuidade espantosa) ao PCP recusando-se a reunir com a Troika (uma posição que nem a CGTP tomou). Este golpe de teatro, não só não logrou reconquistar o eleitorado perdido como afastou o eleitorado mais moderado, da ala esquerda socialista, que votava BE a pensar que poderia residir ali a verdadeira social-democracia. Esta triste história mostra que o BE se condenou conscientemente a nunca passar de um partido de protesto. De resto, este não é o primeiro episódio: veja-se o episódio Sá Fernandes na Câmara de Lisboa.

 

No entanto, creio ter havido dois factores suplementares responsáveis pela perda de expressão eleitoral do BE.

 

O voto no BE, talvez mais do que um protesto contra as condições económicas, representou sempre um protesto social, muito ligado às questões de costumes. Ora, neste aspecto, Sócrates conseguiu inutilizar duas das principais bandeiras do BE: o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Essa manobra, associada à crise económica, fez os dirigentes do BE, provavelmente sem consciência de que o faziam, centrar o seu discurso nas questões económicas, tornando-se num partido bastante menos cool e, sobretudo, muito parecido com o PCP. Este factor, juntamente com o radicalismo pós presidenciais, terá ditado a fuga de muitos eleitores para o PS.

 

O segundo factor a considerar é bastante menos óbvio: o BE deverá ter perdido algum (se bem que pouco) eleitorado para o PSD. Esta interessante entrevista do Pedro Magalhães (PM) tem uma frase inesperada que o justifica: “(…) quando perguntamos às pessoas sobre o peso específico do Estado na economia. Qual é o eleitorado mais liberal? Espantosamente, é o do Bloco de Esquerda (…). É uma coisa muito curiosa porque mostra que, quando Louçã fala de economia, pura e simplesmente nem estão a ouvir o que ele diz.”. As posições economicamente liberais tomadas pelo PSD, associadas à substituição de uma Manuela Ferreira Leite conservadora por um Pedro Passos Coelho progressista (embora essa faceta possa ter sido posta em causa pelo episódio do aborto durante a campanha) terão, assim, atraído algum eleitorado do BE para o PSD.

Notas de viagem (2/5: Mónaco)

José António Abreu, 30.06.11
O Mónaco é patético a diversos níveis. É desde logo, com duas ou três excepções (o «Rochedo» e a praça do Casino e do Hotel de Paris, por exemplo), feio. É, depois, um sítio de ostentação muito para lá da fronteira do ridículo. E, lamento, não são as pessoas que têm muito dinheiro as mais ridículas. As que se aperaltam para ficar junto à porta do casino vendo outras entrar ou as que alugam Ferraris ou Porsches descapotáveis (interessados podem dirigir-se aqui ou aqui) para dar voltas ao principado a quarenta à hora, acelerando apenas ligeiramente à entrada do túnel sob o hotel Fairmont porque os Fórmula 1 também o fazem e o eco torna o ruído dos motores mais impressionante, estas sim, são dignas de pena ou então de servirem de inspiração a um conjunto de contos mostrando as fragilidades, inseguranças e ilusões do ser humano.
Mas o Mónaco é ridículo precisamente por viver das fragilidades, inseguranças e ilusões do ser humano. O Mónaco depende da imagem de glamour. Para a manter, atrai os muito ricos com um sistema fiscal que não taxa o rendimento (excepto o dos franceses residentes no principado há menos de cinco anos e o das empresas que obtenham os seus proveitos a partir de patentes e direitos intelectuais). Mas será eticamente aceitável permitir que os muito ricos fujam a um mínimo de responsabilidade para com a comunidade? Desde logo, a comunidade local, do próprio Mónaco: um sistema fiscal que não taxa os rendimentos é um sistema que não redistribui ou, para ser mais preciso, que o faz apenas na medida em que, ao consumirem produtos mais caros, os muito ricos pagam mais IVA. O Mónaco tem assim um sistema fiscal que não se preocupa com a redistribuição (e valerá a pena salientar que nem toda a gente no Mónaco é rica mas provavelmente também não convém que seja: afinal, nos hotéis alguém tem que estacionar os Ferraris e limpar os quartos). Mas pior: trata-se de um sistema fiscal que, ao sugar recursos de outros países, também nestes prejudica a redistribuição de rendimentos. Para quem como eu considera que o IRS é o único imposto verdadeiramente justo (além de, por norma, ser progressivo, tudo o resto – incluindo outros impostos – é pago com o que resta depois de retirar o IRS), este sistema é obsceno. Mas para o Mónaco é fundamental: sem a publicidade gratuita que os meios de comunicação social lhe fazem ao referir que o actor X e a tenista Y vivem lá e ao mostrar imagens do casino (onde as pessoas parecem estar sempre à espera de ver Bond, esse ícone do prazer, do bom gosto e até da cultura geral, apesar de nunca se ver a ler um livro), dos carros de alta cilindrada e da vida dos príncipes (não se esqueçam de que o casamento é este fim-de-semana!), o Mónaco correria o risco de perder o encanto. As pessoas 'normais' poderiam aperceber-se da fealdade dos prédios. Poderiam deixar de ir para a frente do casino na esperança de ver gente rica e famosa. Poderiam reparar que a relação preço-qualidade de muitos restaurantes e hotéis é discutível. Poderiam chegar à conclusão de que quase todas as povoações das redondezas são mais interessantes (Nice, por exemplo, a meros vinte quilómetros, é, na sua mistura de beleza arquitectónica e paisagística, zonas históricas e modernas, vida normal e turismo, incomparavelmente mais agradável). Felizmente para o Mónaco, gente com muito dinheiro quererá sempre fugir aos impostos e gente com algum dinheiro desejará sempre visitar o sítio onde as pessoas famosas vivem (pelo menos oficialmente) e o luxo parece imperar. Ainda que alguns Bentleys e Aston Martins possam estar estacionados junto aos hotéis porque os próprios hotéis lá os colocaram.

Será que percebi bem?

José Maria Gui Pimentel, 29.06.11

Os dirigentes das duas televisões privadas (quem diria) queixam-se da entrada da RTP 1 no mercado, sob o argumento de que “não há espaço” para um terceiro canal privado, o qual fará repartir o bolo das receitas publicitárias, já de si diminuto, por mais um conviva. Isto porque a RTP 1 não compete livremente com os outros canais, uma vez que está limitada pelas regras a intervalos de 7 minutos.

Não o manifestando abertamente, estes dirigentes estão, se bem percebo, a defender que a RTP 1 permaneça na esfera estatal não porque o considerem do interesse público, mas sim por interesse próprio, porque não querem perder espaço no mercado. Trocado por miúdos, o argumento é o seguinte: os senhores não querem ter de repartir o mercado com a RTP 1 e, por conseguinte, defendem que o contribuinte deverá continuar a financiar os prejuízos da televisão pública. Mas, claro, dito assim não soava tão bem nas televisões.

O facto de ser necessário recorrer a este argumento falacioso demonstra, já de si, um reconhecimento implícito da bondade da medida. Com efeito, nada na programação da RTP 1 justifica que o canal continue a ser financiado pelos contribuintes (ao contrário do que sucede com a RTP 2).

Feriados móveis

João Campos, 29.06.11

Convencionou-se de tal maneira a "ponte" que liga os feriados mais convenientes ao fim-de-semana que, pelos vistos, ideias destas não fazem confusão a ninguém. Enfim, é uma medida para inglês ver - ou melhor, para alemão ver (alguém actualize o ditado, se faz favor). De uma penada, faz-se de conta que quando os feriados calham à terça ou à quinta o Governo é "obrigado" a dar a ponte de segunda ou de sexta, e coloca-se de lado a lógica subjacente ao próprio conceito de feriado. O que não deixa de ser interessante: por um lado, e com esta medida em prática, o Natal passa de facto a ser quando o Homem quiser (desde que queira entre 23 e 27 de Dezembro); por outro, vai ser divertido ver o velho slogan "25 de Abril, sempre!" quando o feriado for encostado a 24 ou a 26. 

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