Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Delito de Opinião

Ler

Pedro Correia, 30.04.11

37 anos depois. Do Manuel António Pina, no JN.

Jejuns. Do Miguel Marujo, na Cibertúlia.

Cheira a pólvora. Do Luís Novaes Tito, n' A Barbearia do Senhor Luís.

Tiros no pé. Do Francisco José Viegas, n' A Origem das Espécies.

Palavras gastas. Do Luís Osório, no Albergue Espanhol.

Visto de fora. Do Filipe Nunes Vicente, no Mar Salgado.

PSD: ter poder ou ter razão? Da Helena Matos, no Blasfémias.

Julgamentos e calúnias

Rui Rocha, 30.04.11

Antes de mais, devo dizer, eu que sou Rocha, que acho alguma piada a que um tipo chamado Capoulas e que tem ambos os apelidos no plural ache calunioso seja lá o que for. Isto dito, sou obrigado a dar-lhe alguma razão no que diz respeito às afirmações proferidas por Eduardo Catroga (quanto a apelidos estamos conversados). Não que Catroga erre o alvo quanto ao fartar vilanagem e à responsabilidade de Sócrates em tal enfartamento. Nesses pontos, acerta na mosca. Que, como sabemos, tem sido a mesma nos últimos 6 anos, estando a diferença, apenas, no acumular de matéria em decomposição. O ponto é que não vejo qualquer razão para deixar o julgamento de Sócrates (confirma-se, a história é cíclica e repete-se como farsa) para as gerações mais jovens. Creio que se trata de um afloramento dessa tendência tão presente nas sociedades actuais de valorizar excessivamente a juventude. Vejamos, os jovens já têm muitas coisas estimulantes a que podem dedicar a atenção. Lembro-me, assim de repente, e parafraseando o nosso Primeiro-Ministro, «da lei mais justa na interrupção voluntária da gravidez», «da lei da paridade, para que mais mulheres tenham acesso à vida política», da «iniciativa legislativa no campo do divórcio litigioso» ou «da lei que permite em Portugal o casamento entre pessoas do mesmo sexo». Aliás, com tanto para fazer, ainda bem que lhes sobra tempo, não é? Ora, voltando à vaca fria, acho que esta coisa de participar na responsabilização judicial de Sócrates, a avançar, não deveria ter natureza fracturante. Pelo contrário, deveria ser aberta a toda a sociedade. É um acto cívico, que diabo. Exige-se participação e inclusão. E não vejo qualquer razão para excluir o Manoel de Oliveira. Existe, todavia, outro aspecto da proposta de Catroga que me preocupa. As responsabilidades de Sócrates têm a dimensão da  sua incompetência, arrogância, teimosia e imprevidência. Não há, por isso, palavras que as contenham (com o duplo sentido de incluir e deter). Mas, temo que sujeitar Sócrates à justiça portuguesa constitua uma punição demasiado pesada. Para nós, cidadãos. Passar a próxima década em adiamentos, julgamentos anulados, repetições de diligências e outras moléstias para chegar ao fim com uma prescrição qualquer, por incúria do Ministério Público, não me parece grande cenário. Mal por mal, é melhor resolver a coisa por via de julgamento eleitoral. É certo que os menores de 18 anos não poderão participar (podem aproveitar o dia para lerem a lei da paridade, sei lá...). Mas, este é um caso em que não devemos deixar para os jovens de amanhã aquilo que podemos fazer em 5 de Junho.

Um partido sem emenda (6)

Pedro Correia, 30.04.11

«Nós não temos hoje à frente dos dois principais partidos pessoas que tenham capacidade e preparação para enfrentar a crise que temos.»

Pacheco Pereira, quinta-feira, na Quadratura do Círculo (SIC N)

 

«O PSD é um partido sem estratégia.»

Pacheco Pereira, ontem, em entrevista à Antena 1 e reproduzida na RTP

 

Faltam 36 dias para as legislativas.

Primeiro estranha-se, não é?

João Campos, 30.04.11

Nunca tive especial admiração jornalística por Judite de Sousa, apesar de não a achar má jornalista, e de há muito estar habituado a vê-la na RTP, sobretudo nas grandes entrevistas a algumas das mais importantes personalidades deste país. Por isso, foi com muita estranheza que, numa destas manhãs, entre um mil folhas e uma bica, a vejo de manhã na TVI a fazer um directo absolutamente ridículo para o programa do Goucha. É certo que provavelmente é preferível isso a aturar Sócrates em estúdio durante uma hora, mas que raio: o programa do Goucha? 

Retrato da bitola estreita

João Carvalho, 30.04.11

A REFER, empresa pública que gere a rede ferroviária nacional, fechou o ano de 2010 com resultados líquidos negativos de 146,5 milhões de euros, os quais foram agora conhecidos e traduzem um exercício que fica marcado pelo aumento do endividamento.

Não foi a REFER uma das empresas públicas que quiseram fugir à redução dos vencimentos por se achar cheia de razões para não cumprir a legislação que o determina? Gosto do slogan da REFER: "Vias para o Futuro". Traduz o futuro dourado dos gestores que pagamos.

Já agora: que e quantos aumomóveis têm os administradores da REFER e há quanto tempo? Que tal premiá-los com um TGV para cada um com uma ajudinha da RAVE, a empresa pública da "grande família" que gere a rede nacional de alta velocidade que não temos?

A propósito: CP, REFER, RAVE e IMTT — alguma destas instituições públicas, tão necessárias para gerir a fantástica rede ferroviária que ainda nos sobra do século XIX, não dá prejuízo?

Leituras

Pedro Correia, 29.04.11

 

«Os seres humanos são tangíveis. São dotados de corpos e, como esses corpos sentem dor e padecem de doenças e terminam na morte, a vida humana não sofreu nem a mais ínfima alteração desde os primórdios da Humanidade. Sim, a descoberta do fogo permitiu ao homem gozar o calor nos dias frios e acabou com o regime de carne crua; a construção de pontes permitiu-lhe atravessar rios e riachos sem molhar os dedos dos pés; a invenção do avião permitiu-lhe galgar continentes e oceanos ao mesmo tempo que criou novos fenómenos como o jet lag e os filmes que passam nos voos - porém, se bem que tenha transformado o mundo à sua volta, o homem em si não mudou. Os factos da vida são constantes. Uma pessoa vive e depois morre. Nasce do corpo de uma mulher e, se conseguir sobreviver ao nascimento, a mãe terá de a alimentar e cuidar dela a fim de assegurar a sua sobrevivência, e tudo o que acontece a uma pessoa desde o momento do seu nascimento até ao momento da sua morte, todas as emoções que vão crescendo dentro dela, todas as explosões de raiva, todas as vagas de desejo, todos os acessos de choro, todas as rajadas de riso, tudo o que essa pessoa - seja ela um homem das cavernas ou um astronauta, viva ele no Deserto de Gobi ou no Círculo Polar Árctico - alguma vez sentirá ao longo da sua vida já foi também sentido por todas as outras pessoas que vieram antes dela.»

Paul Auster, Sunset Park

(Edições ASA, 2010. Tradução de José Vieira de Lima)

Convidado: JOSÉ MÁRIO TEIXEIRA

Pedro Correia, 29.04.11

 

Pistola, mamas e ajuda financeira

 

Em pleno sufoco mediático da vinda do FMI, veio-me à mente uma história de família envolvendo coisas tão diversas como uma pistola, um par de mamas e uma ajuda financeira, que verto nestas linhas que se seguem.

Findara a Primeira Guerra Mundial e a França estava destroçada. Urgia colocar de novo o génio e a força de trabalho do Homem ao serviço da obra, passada que era a hora da besta da destruição bélica. Excelente oportunidade para arranjar trabalho, mais bem remunerado, que possibilitasse o aforro para uma melhor vida. E assim, tal como tanta gente, lá foi o meu avô trabalhar para terras gaulesas. Mas com “carta de chamada”, pois não queria correr riscos de ir “a salto”.

Em França, o Tio Joaquim - homem cuja força de personalidade e de músculo cedo lhe valera a alcunha de “Comandante” - foi peremptório:

- Tens duas hipóteses: ou ficas aqui comigo na Pensão da Madame Blanche, que é mais cara mas onde convives até com professores da universidade, ou vais para as pensões baratas dos portugueses e voltas o mesmo ignorante que vieste!

Escusado será dizer que o meu avô ficou com o seu mentor. E a vida começou a correr bem: muito trabalho e muito dinheiro.

Algum tempo depois, Tio Joaquim e Madame Blanche, francesa formosa e de peito privilegiado, decidiram dar um passeio à Bélgica. De véspera, o meu avô pediu ao tio que lhe trouxesse uma pistola. Algo que o seu mestre reprovou mas que teve aceitação no olhar da companheira francesa. E tanto assim foi que, regressados, a proprietária da pensão chamou o meu avô e, às escondidas do “Comandante”, passou-lhe para as mãos uma FN 6,35, que retirou de um voluptuoso estojo: as suas mamas.

Finalmente, o meu avô era um homem próspero e tinha pistola. Combinação muito natural naquela época.

Regressado à pátria lusa, lançou-se decididamente como empresário, casou e, por sorte minha, teve filhos. Mas a sua França voltaria em breve a ser arrasada por novo conflito mundial. Uma vez findo, foi lançado um peditório internacional para ajuda à reconstrução.

O meu avô não faltou à chamada e, acompanhado do adolescente meu pai, dirigiu-se ao Consulado de França no Porto - que à época era numa esquina da Praça de Parada Leitão para a Praça da Cordoaria - onde entregou o seu donativo. Quando os administrativos quiseram emitir um certificado de reconhecimento, o meu avô recusou:

- Só estou a retribuir à França o que a França fez por mim.

A esta hora já perceberam que o episódio da pistola e das mamas, ainda que verídico, foi só para apimentar o título. O importante é que sempre que o meu pai me recorda esta história, o seu sorriso cúmplice ilumina o meu, e da memória acabo por concluir em plena polémica de ajuda externa que, como em tudo na vida, há ajudas e há ajudas...

 

José Mário Teixeira

Princesinhas.

Luís M. Jorge, 29.04.11

 

Alguém devia escrever sobre o estofo darwinista das consortes reais. Imaginem o talento de que necessitam estas mulheres para encantarem durante décadas um palerma mimado, afastarem as hárpias, persuadirem a família de Windsors ou Saxe-Coburgs, honrarem as instituições e comoverem o povo durante noivados sem mácula até à glória de uma boda triunfal. Ser doida na cama ajuda, mas não chega.

Um partido sem emenda (5)

Pedro Correia, 29.04.11

Pág. 1/18