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Delito de Opinião

Não há pachorra!

João Carvalho, 28.02.10

Nestes últimos anos, sempre que há uma desgraça, passou-se a resgatar mortos e feridos. Embirro com o emprego da expressão.

Mais recentemente, quando o presidente do BPN foi detido, o tribunal emitiu um comunicado que dizia que Oliveira Costa ia ser ou tinha sido removido para a prisão. Achei horrível.

Há pouco, sobre as cheias dos rios, um responsável qualquer mostrou-se na RTP preocupado com a extracção da população. Fiquei sem palavras.

Em contraste absoluto, os que falam assim não se limitam a referir pessoas ou seres humanos. Não. Habitualmente, preferem dizer pessoas humanas. Bolas!

A 't-shirt'

João Carvalho, 28.02.10

De onde me chegou esta fotografia? Já não faço a mais pequena ideia. Por qualquer razão, parece-me a Malásia. Não há palmeiras lá ao fundo, mas o Morris Minor semi-escondido ali atrás, a cor da terra e o bichinho sugerem-me a Malásia. Ou será a África do Sul? Quem é que se lembraria de erguer semelhante monumento à beira da estrada?

Pelo sorriso, o Lacoste foi às compras e deve ter arranjado uma t-shirt com um homenzinho ao peito...

Feminino e plural

Carlos Barbosa de Oliveira, 28.02.10

A partir de amanhã iniciarei, no Delito de Opinião, a rubrica “Mulheres do Mundo”, que se prolongará até final do mês. É uma forma de me associar à comemoração do dia 8 de Março, Dia Internacional da Mulher.
“Portugal no Feminino” e “Blogs  no Feminino” são outras duas rubricas que ao longo do mês de Março  poderão ler aqui.

Libertar o futuro, mas pouco... (2)

Paulo Gorjão, 28.02.10

Da entrevista de hoje de Paulo Rangel ao Correio da Manhã retenho que não quer privatizar nem a RTP nem a Lusa. Só com a RTP, em 2009, o Estado teve de suportar quase 400 milhões de euros, como lembrou recentemente Pedro Passos Coelho. Rangel, pelos vistos, quer libertar o futuro, mas não pretende mexer nesta despesa. Sobre as SCUT também não me recordo de lhe ter escutado uma palavra nos tempos mais recentes. O mesmo se pode dizer sobre as parcerias público-privadas. Ou sobre as despesas do Estado em geral.

Como é que pretende libertar o futuro é um mistério. Dito de outra maneira, ninguém sabe -- e o próprio não explica -- como é que pretende reduzir o endividamento externo e o défice do Estado. Convenhamos que insistir apenas em citar o novo aeroporto e o TGV é curto, muito curto. Bem sei que aquilo que hoje é verdade amanhã pode ser mentira, mas mesmo assim convinha dizer alguma coisa substantiva. Para já, a bota não bate com a perdigota. Até ao momento o candidato da ruptura é, na verdade, o candidato do statu quo. É o candidato da continuidade da actual direcção do PSD que, convém lembrar, obteve 29,1% nas últimas eleições legislativas. Mais grave, e pelo que se começa a ver, é o candidato da continuidade também nas orientações políticas que nos conduziram até aqui.

Na berlinda

Sérgio de Almeida Correia, 28.02.10

Esta empresa parece que teima em não sair da primeira página. Não vale a pena bater no ceguinho, mas não custa nada recordar o que já aqui se deixou. Deve ser possível aprender alguma coisa com o que se tem passado e isto não tem rigorosamente nada que ver com o trabalho de todos aqueles que em nome dela andam de manhã à noite e em quaisquer condições atmosféricas pendurados nos postes deste país.

Cinco perguntas apenas

Sérgio de Almeida Correia, 28.02.10

1 - Se é verdade, e eu até agora não ouvi ninguém desmenti-lo, que uma empresa de Luís Figo recebeu o pagamento relativo a uma campanha publicitária do Taguspark através de uma empresa offshore, que assim se furtou ao pagamento dos impostos devidos em Portugal, faz algum sentido apresentá-lo como modelo e exemplo de cidadania que devam ser seguidos pela juventude portuguesa?

 

2 - É normal, natural e legítimo que empresas como o Taguspark, na qual participa uma autarquia (pessoa colectiva de direito público) e o Estado está representando por algumas pessoas singulares como Rui Pedro Soares, aceitem fazer pagamentos em contas offshore para entidades que com ele colaboram, realizando campanhas em Portugal e no estrangeiro, vendendo a imagem do país e do concelho de Oeiras?

 

3 - O primeiro-ministro e o ministro das Finanças estão dispostos a proibir os pagamentos de empresas públicas e/ou participadas pelo Estado, directa ou indirectamente, a entidades offshore, dando assim um sinal mais no combate à corrupção, à fuga ao fisco e à vontade política de limpar o ambiente?

 

4 - No Taguspark vai ficar tudo na mesma? Ninguém se demite?

 

5 - Que pensam disto Manuela Ferreira Leite, os candidatos à liderança do PSD, o CDS/PP e o Presidente da República? Alguém sabe?

 

P.S. A estrutura accionista da empresa Taguspark e a composição dos órgãos sociais pode ser vista aqui. Assim, sempre se poderá avaliar melhor a "justeza" dos pagamentos a offshores.

O estado a que isto chegou (II)

Pedro Correia, 28.02.10

 

1. Nasce um novo termo no léxico nacional: escutas plantadas. Para PJ ouvir e PGR acreditar, vertendo em despacho. A 25 de Junho de 2009, Rui Pedro Soares declarou alto e bom som sete vezes ao telemóvel, em conversa detalhada com o amigo e correligionário Paulo Penedos, que Sócrates não tinha conhecimento do negócio da TVI.

 

2. Rui Pedro Soares, sempre ele - o jovem socialista que Sócrates elogiou na recente entrevista a Miguel Sousa Tavares. Era, desde a chegada do PS ao poder, administrador-executivo da PT. Mas também membro do Conselho de Administração da Tagus Park, o maior parque tecnológico português, onde se tornou figura decisiva a partir de 2006. Dois anos depois, segundo o Expresso, levou Paulo Penedos para a administração da Promitagus, uma empresa-satélite do Tagus Park, que "servia apenas para reduzir a carga fiscal das receitas de arrendamento dos edifícios do parque tecnológico". Se isto não é polvo, não sei o que é um polvo.

 

3. A Tagus Park pagou a Luís Figo 350 mil euros por um filme publicitário de sete minutos gravado a 25 de Setembro - o próprio dia em que o futebolista surgiu como apoiante de Sócrates na recta final da campanha legislativa. O filme só foi montado em Janeiro e a Tagus Park ignora ainda o que fará com ele. Como se só agora tivesse pensado verdadeiramente no assunto.

 

 

4. Miguel Sousa Tavares, no Expresso: "Choca que José Sócrates não perceba que ninguém mais entende como é que se pode ganhar 2,5 milhões de euros por ano de ordenado como administrador da PT, aos 32 anos de idade e sem currículo algum que não o de militante da JS."

 

5. Os homens de Sócrates começam a cair. Para já, apenas os homens de Sócrates nas empresas soi-disant privadas: Armando Vara no BCP, o inefável Rui Pedro Soares e Fernando Soares Carneiro na PT. É o fim de ciclo político mais penoso a que tenho assistido desde sempre em Portugal.

Bebés

Teresa Ribeiro, 28.02.10

É uma notícia que se presta a extrapolações demagógicas, desde já a de que é por causa das leis que despenalizam a IVG que as mulheres abortam mais. Mas, segundo me pareceu, o Instituto de Política Familiar coloca a questão da forma certa. Se há tantas mulheres a abortar  numa Europa que envelhece a um ritmo preocupante, é necessário investir nas leis de protecção à família e, é claro, desincentivar a IVG (o que é muito mais eficaz do que passá-la à clandestinidade).

Contaram-me que há muitos, muitos anos, um modesto trabalhador rural da região saloia da periferia de Lisboa confessou com a maior naturalidade que preferia que lhe morresse um filho do que uma vaca. Um filho, dizia ele, não tinha problema, porque se arranjava outro, ao passo que uma vaca custava-lhe muito dinheiro.

Na sua inocência bruta, aquele pobre diabo não se apercebia da alarvidade que proferia. Eram outros tempos. As mulheres pariam como coelhas e os filhos criavam-se a pão e azeitonas. A taxa de mortalidade infantil há 60 anos, em Portugal, era vergonhosa, mas como por cada mulher nasciam muitos filhos, a população portuguesa estava longe de registar um saldo demográfico negativo (até porque a esperança de vida era consideravelmente inferior à que temos hoje). Não havia, portanto, sobressaltos. As taxas de nascimento e de mortalidade próprias dos países subdesenvolvidos nunca representam um risco para a economia. 

Agora as mulheres já não querem "parir". Preferem "ter bebés", de preferência quando assim o desejarem e em condições dignas. Como princípio, não me parece mal. Dêem-lhes horários a tempo parcial - em Portugal quase não existem - boas redes de creches e leis eficazes contra a discriminação no mercado de trabalho e elas desejarão ter mais filhos.

Os detractores do Estado social, que em regra também são ferozes opositores das leis que despenalizam a IVG, deviam pensar com seriedade nisto. Dar condições de vida às pessoas é mais consequente do que gritar slogans em manifestações em defesa da vida que em muitos casos não desejariam para os seus.

Passado presente (CCXXVI)

João Carvalho, 28.02.10

 

Ford GT40* MkI (EUA, 1966)

 

* — O Ford GT40 deve o seu nome a duas características: um grand touring com 40 polegadas (1,02 metros) de altura. Começou por ser um V8 de 4700cc e passou a ter 7 litros (7000cc) a partir do MKII. Teve uma longa carreira de sucessos em circuitos de velocidade, especialmente vocacionado para as provas de resistência (como as 24 Horas de Le Mans), o que lhe garantiu um lugar na História do desporto automóvel. O apreço obtido ditou que fossem preparadas algumas versões de estrada (foto da esquerda) para uns poucos privilegiados.

Temos direito à verdade

Carlos Barbosa de Oliveira, 27.02.10

Ninguém gosta de viver num país onde o primeiro ministro está constantemente sob suspeita. Recordo que, ainda antes de ser eleito, já os jornais afirmavam que era homossexual e vivia um idílio com um conhecido actor.
Em plena campanha eleitoral, surgiu o primeiro capítulo do Freeport. Depois veio o episódio da licenciatura, das casas cujo projecto terá assinado, embora não fossem da sua autoria, a segunda parte do caso Freeport, a Face Oculta, as tentativas de interferência na comunicação social e a pressão sobre jornalistas.
Não sei se me terá escapado alguma coisa, mas estes casos já seriam suficientes para desejar, como cidadão português, que tudo se esclareça rapidamente. É certo que  algumas das acusações (como a da homossexualidade) existiram apenas na mente fantasiosa de alguns proto-jornalistas que só pretendem vender jornais. É verdade que, até ao momento, não há provas que permitam acusar Sócrates. Ninguém ignora que há jornalistas enfeudados a interesses partidários  que se comportam como vestais, tentando convencer-nos que a sua única preocupação é a descoberta da verdade. Todos sabemos que há agentes da justiça que passam para os jornais informações, cuja veracidade é questionável, que esses mesmos jornalistas dão como fidedignas, apenas porque convêm aos seus interesses.
Nada disto invalida, no entanto, que os portugueses tenham o direito de exigir  saber a verdade sobre a implicação do PM em todos os casos de que vem sendo acusado. A bem da democracia e do Estado de Direito, é urgente que tudo seja esclarecido.
Mas se a Justiça não é capaz de actuar em tempo útil e se deixou enredar numa onda de suspeição, também o julgamento em praça pública reflecte a fraqueza de carácter daqueles que, sem provas, acusam Sócrates e intoxicam a opinião pública com rodriguinhos dialécticos e vitimizações próprias de meninos de escola mimados.
O PSD recusou a proposta do BE para a criação de uma Comissão de Inquérito. Preferiu tratar do assunto na Comissão de Ética, transformando a AR num circo, por onde passou  gente sem qualquer credibilidade, que apenas aproveitou o palco para se vitimizar e dar espectáculo. Algumas das pessoas que por lá passaram merecem-me menos crédito do que alguns criminosos ou proxenetas. Não dou qualquer crédito a gente despeitada e imprestável ou que faz do jornalismo uma feira de vaidades.
Felizmente o PSD recuou e acabou por aceitar a proposta do BE. Vem aí uma Comissão de Inquérito Parlamentar. Contra todas as (minhas) expectativas, o PS vai votar contra. 
A bem da verdade e da higienização deste país, o PS deveria apoiar esta Comissão. Quem não deve não teme. Tentar ocultar eventuais culpas de Sócrates em todo este processo é prestar um mau serviço ao País. Contribuir para o apuramento da verdade, mesmo que isso signifique o fim do seu líder, é um contributo inestimável para a  credibilidade das instituições e a preservação do regime. O país não pode continuar a viver neste clima de suspeição, onde as alcoviteiras  e os Miguéis de Vasconcellos se transformam em actores de telenovela e são elevados à condição de heróis nacionais.
 

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