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Delito de Opinião

Estrelas de cinema (3)

Pedro Correia, 15.02.10

   

 

A FESTA DA MÚSICA NA SÉTIMA ARTE

* * * * *

 

As notícias da morte do cinema musical eram francamente exageradas, como havia sido demonstrado por filmes como Moulin Rouge (Baz Luhrmann, 2001) e Chicago (Rob Marshall, 2002). O género regressa agora aos ecrãs com Nove, prodigiosa recriação – em termos libérrimos – de 8,5, de Federico Fellini (1963). Com um elenco de luxo, onde se destaca o desempenho de Daniel Day-Lewis, que se transfigura em cada papel que encarna.
Outra longa-metragem já clássica do musical surgiu também como homenagem à película de Fellini: All That Jazz, de Bob Fosse (1979). Mas Nove supera-a na qualidade da partitura e da ficha artística. Temas como 'Take it All', 'Folies Bergères' e 'Cinema Italiano' conferem ao seu autor, Maury Yeston, um estatuto que o aproxima dos grandes nomes da época de ouro da MGM. Irving Berlin, Cole Porter, Jerome Kern e Harold Arlen teriam certamente gostado de compor este naipe de canções, capaz de electrizar qualquer plateia. A aposta fica totalmente ganha quando Fergie, vocalista dos Black Eyed Peas, dá corpo e voz a 'Be Italian', a mais espectacular canção deste filme, que recria (e amplia) o musical homónimo estreado em 1982 na Broadway.


Nove (Nine, 2009) é uma explosão festiva, em que todos os actores cantam e dançam. Day-Lewis, no papel de Guido Contini, um cineasta mitómano, prisioneiro da fama e em manifesta crise de inspiração. Marion Cotillard (noutro fabuloso desempenho, atestando a justiça do Óscar conquistado em 2008 por La Vie en Rose), no papel da sofrida mulher do realizador. Penélope Cruz, cada vez mais transbordante de talento, como amante de Guido. Nicole Kidman (a musa), Kate Hudson (a jornalista) e Judi Dench (a colaboradora mais próxima e confidente do cineasta) são outras actrizes superiormente dirigidas por Rob Marshall, que confirma aqui os atributos já revelados em Chicago (Óscar de melhor filme de 2002). E a homenagem à Sétima Arte, que Nove também é, culmina com a entrada em cena de Sophia Loren – a melhor ponte entre duas cinematografias de excepção – a italiana e a norte-americana – e várias gerações de intérpretes.
“Be a singer be a lover / pick the flower now before the chance is past / be Italian  / be Italian / live today as if it may become your last.”
Saímos da sala a trautear esta letra, como noutros tempos saíamos ao som de 'Singin’ in the Rain', 'America' ou 'That’s Entertainment'. Como se George Sidney e Vincente Minnelli ainda estivessem em actividade e o leão da Metro não tivesse deixado há muito de rugir.

 

Nove (Nine, 2009). De Rob Marshall. Com Daniel Day-Lewis, Marion Cotillard, Penélope Cruz, Nicole Kidman, Judi Dench, Kate Hudson, Sophia Loren, Stacy Ferguson.

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